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A literatura sob rasura: Autonomia, neutralização e democracia em J. M. Coetzee e Roberto Bolaño / Literature under erasure: autonomy, neutralization and democracy in J.M. Coetzee and Roberto BolañoPinheiro, Tiago Guilherme 31 July 2014 (has links)
Não é raro nas produções de J. M. Coetzee e de Roberto Bolaño que a prática artística converta-se em exercício de terror e violência. São constantes as situações em que a construção literária e da literatura produz modos específicos de autoritarismo, esquecimento e injustiça. Tais atos provocam um abalo enunciativo nos textos que os narram, gerando um questionamento sobre sua própria legitimidade (estética, ética, política) e a do campo discursivo ao qual estão associados. Para compreender a situação apresentada e enfrentada por essas obras, esta tese recompõe os percursos históricos por elas traçados. A começar por genealogias da literatura e de sistemas literários, que se entrecruzam, sobrepõe-se ou apropriam-se do passado colonial, do nazismo, das ditaduras latino-americanas e do apartheid, tal como indiciam Foe e La literatura nazi en América. Em seguida, nossa rota se detém sobre os períodos de transições que marcaram tanto a África do Sul como o Chile de finais do século XX, nos quais processos de verdade e justiça acabam se revertendo em casos de neutralização da memória e da linguagem, ficcionalizando a violência do passado em troca da legitimação da nova ordem discursiva do presente, na qual o literário teria um lugar próprio, tal como ocorre, por exemplo, em Nocturno de Chile. Por último, abre-se o presente democrático a partir do qual todos esses livros são narrados, em que a literatura se converte no produto mais bem acabado de um regime de oferta da palavra e de administração da multiplicidade, sob a forma do direito e da promessa do direito. Assim se configuram, por exemplo, Elizabeth Costello ou Los detectives salvajes, sem, no entanto, deixarem de esboçar uma fuga desse horizonte, em busca de outros mundos, outras formas possíveis de partilhar a linguagem. Nessa trajetória, iremos rever importantes conceitos e valores que estão intimamente ligados a essa prática simbólica tais como autonomia, liberdade, memória, democracia, entre outros, para que possamos compreender em que condições a literatura pode se tornar indesejável ou mesmo repudiável, tais como conjecturam esses autores / It is not uncommon, in the works of J. M. Coetzee and Roberto Bolaño for artistic practice to convert itself into the exercise of terror and violence. In numerous situations, the literary construction and literature produce particular types of authoritarianism, oblivion and injustice. Such acts provoke an enunciative disturbance in the narrating texts, generating questions about their own (esthetic, ethics, politics) legitimacy and about the discursive field to which they are associated. In order to understand the situation presented and the ones faced by these literary works, this thesis reconstructs the historical paths tery trace. The study begins with literary genealogies and literary systems that intersect, overlap or appropriate Colonial History, Nazism, Latin American dictatorships and the apartheid, such as indicated by Foe and La literatura nazi en América. Then the focus rests on periods of transition that mark both South Africa and Chile at the end of the 20th century. In such periods truth commissions and justice end up reverting to the neutralization of memory and language, fictionalizing the violence of the past in exchange for the legitimization of the new discursive order of the present, in which literature would have a place of its own, such as in Nocturno de Chile. Lastly, the democratic present is the opening from which all of these books are narrated, wherein literature converts itself into the most polished product of a supply scheme of the written word and the administration of multiplicity, in the form and the promise of the right. It thereby constitutes the works, Elizabeth Costello or Los detectives salvajes, for example, while simultaneously sketching an escape of this horizon, in search of other worlds, other possible forms of sharing language. In this trajectory, important concepts will be reconsidered, along with values closely linked to the literary, such as autonomy, freedom, memory, and democracy, among others, so that it may be possible to understand in which conditions, literature can become undesirable or even despicable, as these authors conjecture
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A literatura sob rasura: Autonomia, neutralização e democracia em J. M. Coetzee e Roberto Bolaño / Literature under erasure: autonomy, neutralization and democracy in J.M. Coetzee and Roberto BolañoTiago Guilherme Pinheiro 31 July 2014 (has links)
Não é raro nas produções de J. M. Coetzee e de Roberto Bolaño que a prática artística converta-se em exercício de terror e violência. São constantes as situações em que a construção literária e da literatura produz modos específicos de autoritarismo, esquecimento e injustiça. Tais atos provocam um abalo enunciativo nos textos que os narram, gerando um questionamento sobre sua própria legitimidade (estética, ética, política) e a do campo discursivo ao qual estão associados. Para compreender a situação apresentada e enfrentada por essas obras, esta tese recompõe os percursos históricos por elas traçados. A começar por genealogias da literatura e de sistemas literários, que se entrecruzam, sobrepõe-se ou apropriam-se do passado colonial, do nazismo, das ditaduras latino-americanas e do apartheid, tal como indiciam Foe e La literatura nazi en América. Em seguida, nossa rota se detém sobre os períodos de transições que marcaram tanto a África do Sul como o Chile de finais do século XX, nos quais processos de verdade e justiça acabam se revertendo em casos de neutralização da memória e da linguagem, ficcionalizando a violência do passado em troca da legitimação da nova ordem discursiva do presente, na qual o literário teria um lugar próprio, tal como ocorre, por exemplo, em Nocturno de Chile. Por último, abre-se o presente democrático a partir do qual todos esses livros são narrados, em que a literatura se converte no produto mais bem acabado de um regime de oferta da palavra e de administração da multiplicidade, sob a forma do direito e da promessa do direito. Assim se configuram, por exemplo, Elizabeth Costello ou Los detectives salvajes, sem, no entanto, deixarem de esboçar uma fuga desse horizonte, em busca de outros mundos, outras formas possíveis de partilhar a linguagem. Nessa trajetória, iremos rever importantes conceitos e valores que estão intimamente ligados a essa prática simbólica tais como autonomia, liberdade, memória, democracia, entre outros, para que possamos compreender em que condições a literatura pode se tornar indesejável ou mesmo repudiável, tais como conjecturam esses autores / It is not uncommon, in the works of J. M. Coetzee and Roberto Bolaño for artistic practice to convert itself into the exercise of terror and violence. In numerous situations, the literary construction and literature produce particular types of authoritarianism, oblivion and injustice. Such acts provoke an enunciative disturbance in the narrating texts, generating questions about their own (esthetic, ethics, politics) legitimacy and about the discursive field to which they are associated. In order to understand the situation presented and the ones faced by these literary works, this thesis reconstructs the historical paths tery trace. The study begins with literary genealogies and literary systems that intersect, overlap or appropriate Colonial History, Nazism, Latin American dictatorships and the apartheid, such as indicated by Foe and La literatura nazi en América. Then the focus rests on periods of transition that mark both South Africa and Chile at the end of the 20th century. In such periods truth commissions and justice end up reverting to the neutralization of memory and language, fictionalizing the violence of the past in exchange for the legitimization of the new discursive order of the present, in which literature would have a place of its own, such as in Nocturno de Chile. Lastly, the democratic present is the opening from which all of these books are narrated, wherein literature converts itself into the most polished product of a supply scheme of the written word and the administration of multiplicity, in the form and the promise of the right. It thereby constitutes the works, Elizabeth Costello or Los detectives salvajes, for example, while simultaneously sketching an escape of this horizon, in search of other worlds, other possible forms of sharing language. In this trajectory, important concepts will be reconsidered, along with values closely linked to the literary, such as autonomy, freedom, memory, and democracy, among others, so that it may be possible to understand in which conditions, literature can become undesirable or even despicable, as these authors conjecture
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