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“...como se fosse lógico”: considerações críticas da medicalização do corpo infantil pelo TDAH na perspectiva da sociedade normalizadaMoraes, Rodrigo Bombonati de Souza 19 June 2012 (has links)
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Previous issue date: 2012-06-19 / Esta pesquisa insere-se no debate que considera estarmos vivendo na era da medicalização, dos transtornos ou das patologizações (CONRAD, 1992; ROSE, 2001; VICENTIN, 2010). Com efeito, nas últimas décadas, tem crescido o número de doenças mentais diagnosticadas em crianças, especificamente, que consideraríamos normais pela perspectiva de Canguilhem (2010), mas que o olhar médico-científico as considera portadoras de doenças mentais. Assim, discursos ou dispositivos de poder psiquiátricos são constituídos para transformar comportamentos diferentes em patologias de modo que possam agir sobre os corpos, autorizadamente. Dentre eles, está o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), analisado como objeto empírico nesta pesquisa, que se constitui num campo discursivo mais amplo denominado medicalização (CONRAD, 1992; ROSE, 2001; FOUCAULT, 1988; ILLICH, 1975), composta por diversas instituições como: psiquiatria, indústrias farmacêuticas, escolas, família, leis, associações de portadores do transtorno e mídias não especializadas. Esta constituição ocorre pelo deslocamento analítico de um comportamento do âmbito sociocultural para o campo médico que passa a ser diagnosticado e tratado como se fosse patológico. Para levantar as informações a respeito do TDAH, analisamos as falas de 5 psiquiatras, obtida por meio de entrevistas semiestruturadas, 114 reportagens do jornal Folha de São Paulo, publicadas no período compreendido entre 1997 e 2011, o site da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA) e algumas de suas produções (congressos, materiais informativos e textos de seus membros) e, finalmente, os Projetos de Lei (PL’s) em tramitação nas casas legislativas da cidade e do estado de São Paulo e da Federação. Valendo-nos de importantes conceituações pertinentes à Genealogia do Poder e à Arqueologia do Saber (FOUCAULT, 2007; VEYNE, 2011), bem como à Teoria do Discurso (HOWARTH, 2000), procuramos compreender de que modo o discurso medicalizante produz efeitos de poder sobre os corpos, transformando a falta de atenção e o excesso de atividade da criança em transtorno mental. Percebemos que isto é feito, dentre outras finalidades, para ampliar a performance ou o desempenho dos indivíduos, exigido tanto pelas escolas quanto pela economia de nossa sociedade. Tal exigência constitui-se na sociedade denominada normalizada (FOUCAULT, 2006), de risco (BAUMAN, 2008; BECK, 2010) ou de controle (DELEUZE, 1992), em que os possíveis prejuízos para o indivíduo e para a sociedade devem ser contidos por meio do controle dos corpos. Para tanto, a ciência, baseada nos conhecimentos da genética e da neurologia, disseca o corpo em suas partes doentes, constituindo uma nova forma de sujeição (DELEUZE; GUATTARI, 1996), o anormal. A anormalidade se apresenta na fronteira entre os comportamentos esperados e os desviantes, na medida em que estes últimos surgem como embaraço à sociabilidade e, principalmente, à produtividade. Normalizar seria então a função tanto do poder disciplinar quanto do biopoder, poderes sobre a vida (FOUCAULT, 1988) que agem sobre os corpos e a população, respectivamente, sintetizados nesta pesquisa com o nome crítico de medicalização. Além disso, ao constituirmos este campo discursivo, percebemos que, embora haja resistências, a medicalização da criança por meio do TDAH no Brasil tem triunfado em suas pretensões, tendo, na promulgação das leis e na identificação do transtorno apropriada pelo senso comum, as derradeiras fronteiras do poder sobre os corpos. / This research shows us that we are living in the era of medicalization, of the disorders, and pathologies (CONRAD, 1992; ROSE, 2001; VICENTIN, 2010). In the last decade the number of mental diseases diagnosed, specifically in children, who we consider normal from Canguilhem’s (2010) perspective, but the medical-scientific eye consider mental disorder has grown. This way discourses or mechanisms, which allows the psychiatric community to change different behaviors in pathology in a way that they can act on the bodies authoritatively. Amongst them is the Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD), analyzed as an empirical object of this research, which is a broader discursive field identified as medicalization (CONRAD, 1992; ROSE, 2001; FOUCAULT, 1988; ILLICH, 1975), composed of various institutions such as: psychiatry, pharmaceutical companies, schools, families, justice system, associations of people with the disorder, and non-specialized media. This happens when there is an analytic displacement of a socio-cultural behavior into a medical field to be diagnosed and then treated as if it was pathologic. To collect information about ADHD, we examined the discourse of five psychiatrists, gathered thought previously given interviews, 114 reports from the newspaper ‘Folha de São Paulo’, published during the period between 1997 and 2011, the site of the Association of Attention Deficit (ABDA) and some of its productions (meetings, informative materials and texts of its members), and finally, the Bills (PL's) in progress in the legislative house in the city, the state of Sao Paulo and the Brazilian Federation. Making use of important concepts which we considered relevant to the Genealogy of Power and the Archaeology of Knowledge (FOUCAULT, 2007, VEYNE 2011), and the Theory of Discourse (HOWARTH, 2000), we are seeking to understand how the medicalizalization discourse produce effects on the bodies, transforming the lack of attention and the over activity present in a child in a mental disorder. We noticed that it is done, amongst other reasons, to enhance or to improve the performance of individuals, a demand made not only by the schools, but by the economy of our society. This demand appears to be identified in society as normalized (FOUCAULT, 2006), in risk (BAUMAN, 2008; BECK, 2010), or controlled (DELEUZE, 1992), where to avoid possible harm to the individual and to society, the bodies must to be kept under control. That is why science, based in knowledge of genetics and neurology, dissects the body in illnesses, establishing a new form of subjection (DELEUZE; GUATTARI, 1996), the abnormal. The abnormality appears at the border between the expected behavior and deviating, to the extent that the latter appears as embarrassment to sociability, and especially to productivity. To normalize would then be not only a function of the disciplinary power, it would be also part of the biopower, the power over life (FOUCAULT, 1988) which acts over the bodies and the population, respectively, synthesized in this research critically named as medication. Moreover, when we opened this field of discourse, we realized that although there is resistance, the medicalization of children due to ADHD in Brazil has succeeded in its ambitions, and in the promulgation of laws and the proper identification of the disorder by common sense, the ultimate boundaries of power over the bodies.
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