A proliferação das academias no século XVII correspondeu a um fenómeno de difusão da cultura no seio das classes mais favorecidas, paralela à praxe da universidade, que respondia tanto à necessidade de coesão interna dentro da complexa e delicada distribuição de poderes, como ao desejo de ascensão e visibilidade cultural dos seus membros. A eternização de modelos clássicos e a banalização da métrica e da retórica, que serviam para tudo, contribuíram para o seu desfavor na perspetiva dos estudos literários dos séculos seguintes e justificaram que fosse lançado um espesso véu de esquecimento sobre o que delas se conserva ainda nos arquivos e nas bibliotecas. No entanto, olhadas a partir do século XXI, estas agremiações representam um testemunho elucidativo dos modelos literários que enquadravam a utilidade da palavra escrita no período barroco, cujas premissas podem ser mais eficazmente conhecidas, se evitarmos as generalizações e, focados em casos particulares, estudarmos caso a caso os testemunhos que sobreviveram dispersos por diversos arquivos e bibliotecas. A Academia dos Generosos foi uma das duas academias portuguesas seiscentistas mais conhecidas, quer pelo tempo em que permaneceu em atividade, quer pela notoriedade social dos seus associados, de entre os quais se destacam D. Francisco Manuel de Melo e aquele que foi assumidamente seu secretário perpétuo, D. António Álvares da Cunha. D. António Álvares da Cunha representa o epitome do homem barroco português, interessado pelos estudos humanísticos, envolvido no processo de legitimação da Casa de Bragança, homem de corte prudente, discreto, mas ambicioso, como se autointitulava enquanto confrade académico. Os textos que pudemos recolher e estudar permitem identificar a presença de algumas linhas de força que circunscrevem a sua produção poética ao âmbito da academia, mas mostram, igualmente, que o académico Ambicioso (...).

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