Existe no Brasil dos anos de 1960 um projeto de \"mulher brasileira\" em vigor entre os setores conservadores das camadas médias e altas. Uma mulher dócil, elegante, caridosa, religiosa e que ocupa um lugar social específico: o espaço doméstico. A \"mulher brasileira\", que surge vivamente das páginas da Revista Família Cristã, ao zelar pelo bemestar do lar, filhos e marido perpetua essa visão do mundo para as novas gerações, conservando, desta maneira, seu espaço na sociedade. Foi baseada nessa visão de mulher que se formaram as entidades femininas, entre as quais destaca-se a União Cívica Feminina de São Paulo, fundada em fevereiro de 1962. As entidades femininas tiveram na \"mulher brasileira\" e no anticomunismo alicerces fundamentais para sua formação e suas ações públicas, sendo que a principal delas foi a \"Marcha da Família com Deus pela Liberdade\", realizada em 19 de março de 1964, em São Paulo. A manifestação representou a sinalização para as Forças Armadas de que teriam apoio da sociedade civil para o golpe militar, além de significar a materialização da visão do mundo de um grupo social. A \"Marcha\" foi convocada em nome de dona Leonor Mendes de Barros, esposa do governador Adhemar de Barros, que reunia em sua figura os atributos da mulher brasileira ideal, realizando, portanto, a concretização da \"mulher brasileira\" desenhada pelas entidades. / In 1960\'s there was in Brazil a project of \"Brazilian woman\" within conservative sectors of the middle and high classes. A docile, elegant, gentle, religious woman that occupies a specific social role: the domestic role. The \"Brazilian woman\", which is frequently one of the subjects of the pages of Família Cristã Magazine, when watching over for well-being of the home, children and husband, perpetuates this vision of the world for the new generations maintaining, in such way, its role in society. Based on this vision of woman, feminine entities were formed, like the União Cívica Feminina de São Paulo established in February of 1962. These entities had in the \"Brazilian woman\" and the anticommunism the basic foundations for its formation and public actions, like the \"Marcha da Família com Deus pela Liberdade\" in 19 of March of 1964 in São Paulo. The manifestation indicated to the Army that they would have support from the civil society on the military coup, meaning the materialization of the vision of the world of a social group. The \"Marcha\" was convoked on behalf of Mrs. Leonor Mendes de Barros, wife of governor Adhemar de Barros, who congregated in its figure the attributes of the ideal \"Brazilian woman\" carrying through, therefore, the consolidation of the Brazilian woman envisioned by the entities.

Existe no Brasil dos anos de 1960 um projeto de \"mulher brasileira\" em vigor entre os setores conservadores das camadas médias e altas. Uma mulher dócil, elegante, caridosa, religiosa e que ocupa um lugar social específico: o espaço doméstico. A \"mulher brasileira\", que surge vivamente das páginas da Revista Família Cristã, ao zelar pelo bemestar do lar, filhos e marido perpetua essa visão do mundo para as novas gerações, conservando, desta maneira, seu espaço na sociedade. Foi baseada nessa visão de mulher que se formaram as entidades femininas, entre as quais destaca-se a União Cívica Feminina de São Paulo, fundada em fevereiro de 1962. As entidades femininas tiveram na \"mulher brasileira\" e no anticomunismo alicerces fundamentais para sua formação e suas ações públicas, sendo que a principal delas foi a \"Marcha da Família com Deus pela Liberdade\", realizada em 19 de março de 1964, em São Paulo. A manifestação representou a sinalização para as Forças Armadas de que teriam apoio da sociedade civil para o golpe militar, além de significar a materialização da visão do mundo de um grupo social. A \"Marcha\" foi convocada em nome de dona Leonor Mendes de Barros, esposa do governador Adhemar de Barros, que reunia em sua figura os atributos da mulher brasileira ideal, realizando, portanto, a concretização da \"mulher brasileira\" desenhada pelas entidades. / In 1960\'s there was in Brazil a project of \"Brazilian woman\" within conservative sectors of the middle and high classes. A docile, elegant, gentle, religious woman that occupies a specific social role: the domestic role. The \"Brazilian woman\", which is frequently one of the subjects of the pages of Família Cristã Magazine, when watching over for well-being of the home, children and husband, perpetuates this vision of the world for the new generations maintaining, in such way, its role in society. Based on this vision of woman, feminine entities were formed, like the União Cívica Feminina de São Paulo established in February of 1962. These entities had in the \"Brazilian woman\" and the anticommunism the basic foundations for its formation and public actions, like the \"Marcha da Família com Deus pela Liberdade\" in 19 of March of 1964 in São Paulo. The manifestation indicated to the Army that they would have support from the civil society on the military coup, meaning the materialization of the vision of the world of a social group. The \"Marcha\" was convoked on behalf of Mrs. Leonor Mendes de Barros, wife of governor Adhemar de Barros, who congregated in its figure the attributes of the ideal \"Brazilian woman\" carrying through, therefore, the consolidation of the Brazilian woman envisioned by the entities.