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Ecologia histórica de florestas da bacia do rio Içana, alto rio Negro, Amazonas: um legado Baniwa nas paisagensMoraes, Juliano Franco de 19 February 2016 (has links)
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Previous issue date: 2016-02-19 / Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq / The Amazon rainforest is the largest rainforest of the world and is home to
a large proportion of the planet's biodiversity. Indigenous peoples live with this
biodiversity for thousands of years and it acquire their livelihood through a precise
knowledge about the biotic and abiotic relations of the forest. For a long time it
was believed that in pre-Columbian times these people would not have adapted
to forest conditions - such as poor and acid soils, and low amount of protein
available - and that this environment, considered hostile by modern man, would
have imposed major difficulties to people, making them mere passive animals
amid the "green hell" and not allowing large populations establish themselves.
However, this scenario has been modified since research has shown that large
pre-Columbian indigenous population lived in the Amazon rainforest and altered
it through changes in soil, species composition and landscape to the forest
environment became suitable to meet their demands. Information about the way
these people changed the landscapes without changing the forest resilience and
preserving biodiversity, as well as the extent to which these changes occurred,
remain poorly known, particularly in interfluvial forests. Our goal in this study was
to assess the human impact of centuries ago in interfluvial forests of Içana river
basin, upper Negro river, Brazil, and to verify if it has relation with the current
floristic composition. Floristic inventories were carried out in 12 plots located in
old management forests and 4 plots located in immemorial forests to the Baniwa
as regards the management. Soil samples were collected for analysis of sand,
ECEC, phosphorus, carbon and pH. Interviews were performed with indigenous
to obtain oral information about the management of landscapes. Interfluvial
forests from the historical territory Baniwa, located in the basin of Içana river,
which are up to 750 m of any water courses, contain about 1 4.7% of abundance
of managed tree species and are formed by a mosaic of cultural landscapes (old
inhabited areas abandoned by Baniwa over 200 years) and imemorial ancient
landscapes (areas that Baniwa refer to as intact for hundreds of years, not
knowing whether or not managed). In cultural landscapes the abundance of
managed species reached up to 57% and the average total basal area was 41.4
m² ha-1, 40% of biomass belonging to the species managed. Immemorial ancient
landscapes contain average 7.7% of abundance of managed species and
avarage total basal area of 35.1 m² ha-1 - with only 8% belonging to managed
species. The historical management Baniwa in landscapes became soil less
acidic through controlled burns that left large amounts of charcoal. Charcoal data
associated with biolinguísticos and historical data, allow us to suggest that the
management occurs in the region for over 4000 years, a time when the ancestors
of the Aruwak Baniwa arrived in the region. Old indigenous roundhouses located
amid the forest, and old management areas amid forest contained in the past
large amounts of managed species that were under care of the Baniwa. Once
abandoned, these areas became mature forests with abundance of managed
species - one Baniwa legacy left in the forests through the landscape
domestication. As the domestication of forests interfluvial the basin Içana river,
large portions of interfluvial Amazon forests may have been domesticated in preColumbian times. Currently, many of these forests are distributed in many
indigenous territories and keep them protected is crucial to prevent thousands of
species become extinct. Front to agricultural expansion and logging, protection of these forests is one of the greatest environmental challenges and must take
place with the help of people who managed them for centuries / A floresta Amazônica é a maior floresta tropical do mundo e abriga uma
enorme proporção da biodiversidade do planeta. Povos indígenas convivem com
essa biodiversidade há milhares de anos e dela adquirem seu sustento por meio
de um preciso conhecimento acerca das relações bióticas e abióticas. Durante
muito tempo acreditou-se que em períodos pré-Colombianos esses povos não
teriam se adaptado às condições da floresta - como solos pobres e ácidos, e
baixa quantidade de proteína disponível - e que esse ambiente, considerado
hostil pelo homem moderno, teria imposto grandes dificuldades aos povos,
tornando-os meros animais passivos em meio ao “inferno verde” e não
permitindo que grandes populações se firmassem. Entretanto, esse cenário tem
sido modificado uma vez que pesquisas tem demonstrado que grandes
populações indígenas pré-Colombianas viveram na floresta Amazônica e a
alteraram por meio de mudanças em seu solo, sua composição de espécies e
sua paisagem para que o ambiente florestal se tornasse adequado para atender
suas demandas. Informações a respeito da maneira como esses povos
modificaram as paisagens sem alterar a resiliência da floresta e preservando sua
biodiversidade, assim como da extensão com que essas modificações
ocorreram, permanecem pouco conhecidas, principalmente em florestas de
interflúvio. Nosso objetivo nesse estudo foi avaliar o impacto antrópico, de
séculos atrás, nas florestas de interflúvio da bacia do rio Içana, alto rio Negro,
Brasil, e verificar se ele possui relação com a composição florística atual.
Inventários florísticos foram realizados em 12 parcelas localizadas em florestas
de áreas de antigo manejo Baniwa e 4 parcelas localizadas em florestas
imemoriais para os Baniwa quanto ao manejo. Amostras de solo foram coletadas
para análises de areia, ECEC, fósforo, carvão e pH. Entrevistas foram feitas com
os indígenas para obtermos informações orais sobre o manejo das paisagens.
As florestas de terra firme do território histórico Baniwa, localizado na bacia do
rio Içana, que estão a até 750 m de quaisquer cursos d’água, contêm cerca de
14,7% de abundância de espécies arbóreas manejadas e são formadas por um
mosaico de paisagens culturais (áreas habitadas abandonadas pelos Baniwa a
mais de 200 anos) e paisagens antigas imemoriais (áreas que os Baniwa se
referem como intactas há centenas de anos, não sabendo se foram ou não
manejadas). Em paisagens culturais a abundância de espécies manejadas
chegou a até 57% e a área basal total média foi de 41 ,4 m² ha-1, sendo 40%
dessa biomassa pertencente às espécies manejadas. Paisagens antigas
imemoriais contêm em média 7,7% de abundância de espécies manejadas e
área basal total média de 35,1 m² ha-1 - com somente 8% pertencente a espécies
manejadas. O manejo histórico Baniwa nas paisagens tornou os solos da região
menos ácidos por meio de queima controlada que deixou grandes quantidades
de carvão nos solos. Os dados de carvão, associados a dados biolinguísticos e
históricos, nos permitem sugerir que o manejo ocorre na região há mais de 4000
anos, época em que os ancestrais Aruak dos Baniwa chegaram à região. Antigas
malocas localizadas em meio as matas e antigas áreas de manejo em meio a
floresta continham, no passado, grandes quantidades de espécies manejadas
que estavam sob cuidados dos Baniwa. Uma vez abandonadas, essas áreas se
transformaram em florestas maduras com abundância de espécies manejadas um legado Baniwa nas florestas deixado por meio da domesticação da
paisagem. Assim como a domesticação das florestas de interflúvio da bacia do rio Içana, grandes porções de florestas de interflúvio da Amazônia podem ter
sido domesticadas em períodos pré-Colombianos. Atualmente, muitas destas
florestas estão distribuídas em muitos territórios indígenas, e mantê-las
protegidas é fundamental para se evitar que milhares de espécies sejam extintas.
Frente à expansão agrícola e à exploração madeireira, a proteção dessas
florestas é um dos maiores desafios ambientais e deve ocorrer com auxílio dos
povos que as manejam há séculos.
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