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A traição nas canções de gesta e o fortalecimento da monarquia capetíngia: França, 1180-1328 / Treason in the Songs of Geste and the Strengthening of Capetingian Monarchy: France, 1180-1328

Arias, Ademir Aparecido de Moraes 13 April 2016 (has links)
A traição é um tema que temos estudado já faz algum tempo, utilizando como fontes as Canções de Gesta, um gênero literário poético corrente nas regiões que compunham o reino da França, entre o século XI e o século XV. O período áureo dessa poesia coincidiu com o governo da dinastia conhecida como dos Capetos diretos, cujo reinado e sucessão de pai para filho persistiu sem interrupção de 987 até 1328. Criadas e difundidas nos diversos senhorios territoriais da França, em especial no norte do reino, as Canções de Gesta tratavam em seus enredos de vários problemas de ordem moral e política vigentes na época. Em uma sociedade cuja coesão, ao menos na sua camada governante, era baseada na fidelidade e na criação de laços vassálicos, a traição constituía uma grave ameaça à estabilidade e à paz. Tanto a moral cristã quanto a moral cavaleiresca condenavam quem a praticasse, mas isso não evitou a sua constante ocorrência. Estudamos cinco poemas épicos: a Chanson de Roland (c. 1100), o Girart de Vienne (1180-1185), o Renaut de Montauban (início do século XIII), o Gaydon (1230- 1240) e o Jehan de Lançon (metade do século XIII). O Roland, sendo o mais antigo desses poemas, apresenta um monarca respeitado e difere dos poemas posteriores, cujos enredos valorizam os personagens conhecidos desde o século XIX como Vassalos Rebeldes. Da análise da traição nessa poesia e da relação entre vassalos e o rei pudemos extrair alguns pontos importantes. De início o ligado à questão vocabular, pois traïson / traïtre / traïr designam um dos mais graves crimes ali descritos, graças a sua ligação com a tradição neotestamentária da entrega de Jesus por Judas Iscariotis, suplantando outros termos de origem latina ou não (proditio, felonie). Nas Canções, a traição é dirigida primeiramente contra os barões e cavaleiros sendo os seus executores da mesma condição social de suas vítimas. Só tardiamente ela denomina um atentado contra o monarca. Outro ponto é a defesa, nos poemas, do direito à guerra ao senhor caso este não cumprisse suas obrigações de justiça para com seu vassalo. Assim, os heróis em luta contra Carlos Magno não eram mostrados pelo poeta como traidores e sim como vítimas de uma perseguição. Esses cavaleiros conservavam o respeito pelo seu senhor e aspiravam ser perdoados e reintegrados à corte régia. A responsabilidade pelas traições era direcionada para uma linhagem específica, a de Ganelon, responsável pelo desastre de Roncesvales na Chanson de Roland. Mas se aqui a traição fora um crime individual, desde fim do século XII há um trabalho de readaptação no qual o fato de se pertencer a essa família já tornava o personagem passível de ser um traidor. As suas traições podiam ir da falsa acusação até ao envenenamento de outros personagens. A prova da traição se dava frequentemente através do duelo judicial e os culpados, além de condenados à morte, podiam ter os corpos destruídos para evitar a ressurreição no final dos tempos. / Treason is a theme that we have been studying for some time, using as sources the Songs of Geste, a poetic genre current in the regions that made up the Frances kingdom, between the eleventh and the fifteenth centuries. That poetrys golden period coincided as the dynasty of government known as the \"direct Capetian\" which reign and father to son succession persisted without interruption from 987 to 1328. Created and disseminated in the various Frances territorial manorials, especially in the northern kingdom, the Songs of Geste treated in their plots of various problems of moral and political force at that time. In a society whose cohesion, at least in its ruling layer, was based on loyalty and creating vassalian ties, treason constituted a serious threat to stability and peace. Both Christian morality as the moral chivalry condemned those who practiced it, but that did not stop their constant occurrence. We studied five epic poems: the Chanson de Roland (C1100), the Girart de Vienne (1180-1185), the Renaut de Montauban (early thirteenth century), the Gaydon (1230-1240) and Jehan de Lançon (half of the century XIII). Roland, is the oldest of those poems, has a respected monarch, and differs from the later poems whose plots value the characters known since the nineteenth century as \"Vassals Rebels\". From the analysis of treason in this poetry and the relationship between vassals and the king, we could draw some important points. Initially the connected to the vocabulary question because traïson / traître / traïr designate one of the most serious crimes described there, thanks to its connection with the neo testamentary tradition of Jesus delivery by Judas Iscariot, supplanting other terms Latin or not (proditio, felonie). In Chansons, the treason is primarily directed against the barons and knights and the executors are of the same social condition of their victims. Only belatedly it calls an attack against the monarch. Another point is the defense, in the poems, from the right to the war to the lord if he does not achieve his justices obligations to his vassal. Thus, the heroes in the fight against Charlemagne were not shown by the poet as traitors but as victims of persecution. Those knights keep respect for their master and aspire to be forgiven and reintegrated to the royal court. Responsibility for treason is directed to a specific lineage, that of Ganelon, responsible for Roncesvales disaster in the Chanson de Roland. But if here the treason was an individual crime, since the end of the twelfth century there is a readjustment work in which the fact of belonging to that family already makes the character capable of being a traitor. Their treasons can go from false accusation to the poisoning of other characters. The proof of treason is often done through the judicial duel and the guilty, beyond sentenced to death, they might have their bodies destroyed to prevent the resurrection at the end of time.
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A traição nas canções de gesta e o fortalecimento da monarquia capetíngia: França, 1180-1328 / Treason in the Songs of Geste and the Strengthening of Capetingian Monarchy: France, 1180-1328

Ademir Aparecido de Moraes Arias 13 April 2016 (has links)
A traição é um tema que temos estudado já faz algum tempo, utilizando como fontes as Canções de Gesta, um gênero literário poético corrente nas regiões que compunham o reino da França, entre o século XI e o século XV. O período áureo dessa poesia coincidiu com o governo da dinastia conhecida como dos Capetos diretos, cujo reinado e sucessão de pai para filho persistiu sem interrupção de 987 até 1328. Criadas e difundidas nos diversos senhorios territoriais da França, em especial no norte do reino, as Canções de Gesta tratavam em seus enredos de vários problemas de ordem moral e política vigentes na época. Em uma sociedade cuja coesão, ao menos na sua camada governante, era baseada na fidelidade e na criação de laços vassálicos, a traição constituía uma grave ameaça à estabilidade e à paz. Tanto a moral cristã quanto a moral cavaleiresca condenavam quem a praticasse, mas isso não evitou a sua constante ocorrência. Estudamos cinco poemas épicos: a Chanson de Roland (c. 1100), o Girart de Vienne (1180-1185), o Renaut de Montauban (início do século XIII), o Gaydon (1230- 1240) e o Jehan de Lançon (metade do século XIII). O Roland, sendo o mais antigo desses poemas, apresenta um monarca respeitado e difere dos poemas posteriores, cujos enredos valorizam os personagens conhecidos desde o século XIX como Vassalos Rebeldes. Da análise da traição nessa poesia e da relação entre vassalos e o rei pudemos extrair alguns pontos importantes. De início o ligado à questão vocabular, pois traïson / traïtre / traïr designam um dos mais graves crimes ali descritos, graças a sua ligação com a tradição neotestamentária da entrega de Jesus por Judas Iscariotis, suplantando outros termos de origem latina ou não (proditio, felonie). Nas Canções, a traição é dirigida primeiramente contra os barões e cavaleiros sendo os seus executores da mesma condição social de suas vítimas. Só tardiamente ela denomina um atentado contra o monarca. Outro ponto é a defesa, nos poemas, do direito à guerra ao senhor caso este não cumprisse suas obrigações de justiça para com seu vassalo. Assim, os heróis em luta contra Carlos Magno não eram mostrados pelo poeta como traidores e sim como vítimas de uma perseguição. Esses cavaleiros conservavam o respeito pelo seu senhor e aspiravam ser perdoados e reintegrados à corte régia. A responsabilidade pelas traições era direcionada para uma linhagem específica, a de Ganelon, responsável pelo desastre de Roncesvales na Chanson de Roland. Mas se aqui a traição fora um crime individual, desde fim do século XII há um trabalho de readaptação no qual o fato de se pertencer a essa família já tornava o personagem passível de ser um traidor. As suas traições podiam ir da falsa acusação até ao envenenamento de outros personagens. A prova da traição se dava frequentemente através do duelo judicial e os culpados, além de condenados à morte, podiam ter os corpos destruídos para evitar a ressurreição no final dos tempos. / Treason is a theme that we have been studying for some time, using as sources the Songs of Geste, a poetic genre current in the regions that made up the Frances kingdom, between the eleventh and the fifteenth centuries. That poetrys golden period coincided as the dynasty of government known as the \"direct Capetian\" which reign and father to son succession persisted without interruption from 987 to 1328. Created and disseminated in the various Frances territorial manorials, especially in the northern kingdom, the Songs of Geste treated in their plots of various problems of moral and political force at that time. In a society whose cohesion, at least in its ruling layer, was based on loyalty and creating vassalian ties, treason constituted a serious threat to stability and peace. Both Christian morality as the moral chivalry condemned those who practiced it, but that did not stop their constant occurrence. We studied five epic poems: the Chanson de Roland (C1100), the Girart de Vienne (1180-1185), the Renaut de Montauban (early thirteenth century), the Gaydon (1230-1240) and Jehan de Lançon (half of the century XIII). Roland, is the oldest of those poems, has a respected monarch, and differs from the later poems whose plots value the characters known since the nineteenth century as \"Vassals Rebels\". From the analysis of treason in this poetry and the relationship between vassals and the king, we could draw some important points. Initially the connected to the vocabulary question because traïson / traître / traïr designate one of the most serious crimes described there, thanks to its connection with the neo testamentary tradition of Jesus delivery by Judas Iscariot, supplanting other terms Latin or not (proditio, felonie). In Chansons, the treason is primarily directed against the barons and knights and the executors are of the same social condition of their victims. Only belatedly it calls an attack against the monarch. Another point is the defense, in the poems, from the right to the war to the lord if he does not achieve his justices obligations to his vassal. Thus, the heroes in the fight against Charlemagne were not shown by the poet as traitors but as victims of persecution. Those knights keep respect for their master and aspire to be forgiven and reintegrated to the royal court. Responsibility for treason is directed to a specific lineage, that of Ganelon, responsible for Roncesvales disaster in the Chanson de Roland. But if here the treason was an individual crime, since the end of the twelfth century there is a readjustment work in which the fact of belonging to that family already makes the character capable of being a traitor. Their treasons can go from false accusation to the poisoning of other characters. The proof of treason is often done through the judicial duel and the guilty, beyond sentenced to death, they might have their bodies destroyed to prevent the resurrection at the end of time.

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