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A escrita das cartas de Freud a Fliess e a invenção da psicanalise / The writing of Freud's letters to Fliess and the invention of psychoanalysis

Colucci, Vera Lucia 15 August 2018 (has links)
Orientador: Nina Virginia de Araujo Leite / Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem / Made available in DSpace on 2018-08-15T20:52:30Z (GMT). No. of bitstreams: 1 Colucci_VeraLucia_D.pdf: 1189356 bytes, checksum: aaa4ff2f6859376624661a6325af185f (MD5) Previous issue date: 2010 / Resumo: Freud (1856-1939), inventor da psicanálise, foi um grande escritor de cartas. Calcula-se que ao longo de sua vida escreveu mais de 20.000 cartas. Todavia, as cartas a Fliess (Masson 1986), escritas entre 1887 e 1900 têm um lugar diferenciado das demais. No presente trabalho desenvolvemos a idéia de que a escrita das cartas a Fliess (1858-1928) são parte da invenção da psicanálise. O aforismo de Lacan "o inconsciente é estruturado como uma linguagem" impõe a consideração da divisão do sujeito Freud articulada ao seu desejo na teorização da psicanálise. A verdade buscada incessantemente por Freud levou-o à invenção psicanálise. Nesse percurso de muito trabalho e solidão intrínsecos ao objeto que não se deixa apreender, Fliess ocupou o lugar de outro semelhante, que acolhe e estimula, e também daquele que representa o saber científico. Como Freud mesmo chegou a dizer comparando-se com o trabalho do físico Einstein, que tivera Newton e tantos outros como mestres, seu trabalho era sem precedentes, Freud. Na solidão que essa condição lhe impunha, pela injunção da invenção de um saber inédito, ele tinha que supor o saber científico em algum lugar. Foi Fliess, seu amigo muito amado, o parceiro de sua incursão por territórios não nomeados e não descritos anteriormente. Joseph Breuer (1842-1925), que também fora muito próximo de Freud, predecessor desavisado nos primeiros espantos diante do enigma da histérica - Breuer tratou Bertha Pappenheim, conhecido caso Anna O, de 1880 a 1882 -, não suportou sustentar a etiologia sexual da neurose e afastou-se científica e pessoalmente de Freud. Charcot, a cujas demonstrações clínicas no Hospital La Salpetrière Freud assistira entre 1885-1886, franqueara o "ça n'empêche pas d'exister", que deslocava a palavra de autoridade superior da teoria para o real, mas também não demonstrou interesse especial em se aprofundar na psicologia das neuroses. Foi Wilhelm Fliess quem, na sua certeza fascinante acerca das causas e processos vitais da natureza, pôde sustentar para Freud o lugar da verdade científica para que Freud, dividido, pudesse articular a verdade do sujeito. A importância desta abordagem da escrita das cartas de Freud a Fliess, frisando a condição da escrita, está no que se pode colher de sua potência de transmissão. Concordando com Erik Porge (1998), as cartas a Fliess não devem ser vistas como objeto de curiosidade histórica ou documentos de uma subjetividade. A escrita das cartas implicou Freud de um modo radical, pois era com a escrita, articulada à teorização do enigma das neuroses, que Freud assumia seu dizer, e isso se fez graças ao moedor de significante, cujos dentes são as letras, como diz Pommier (2004). A escrita das cartas a Fliess tem a potência da transmissão do cerne da estrutura da invenção do fazer teórico da psicanálise de Freud: a letra de Freud. A amizade de grande intimidade entre esses homens, cujos caminhos só mais tarde se mostraram opostos, produziu um laço que é o discurso da psicanálise. É esse o reconhecimento que nosso trabalho procura expressar / Abstract: Freud (1856-1939), the inventor of psychoanalysis, was a prolific letter-writer, having written approximately 20,000 letters during his lifetime. But there is a special group of missives by Freud that have a special place in his life and in the history of psychoanalysis, namely, those he wrote to Wilhelm Fliess (1858-1928), between 1887 and 1900. In this thesis I elaborate on the idea that the writing of the letters to Fliess (Masson 1986) is part of the very invention of psychoanalysis. Lacan's aphorism "the unconscious is structured like a language" leads us to consider the division of the subject Freud and to articulate this division to his desire in the theorization of psychoanalysis. It can be said that the truth Freud incessantly sought, led to his invention of psychoanalysis. During the laborious and solitary quest intrinsic to an object that cannot be grasped, Fliess concurrently occupied, on the one hand, the place of the similar other that takes in and encourages and, on the other hand, the other who represents scientific knowledge. In the loneliness of unprecedented his unprecedented task, Freud himself went so far as to compare himself to Einstein, who held Newton and so many others as masters. In his task of inventing unprecedented knowledge, Freud had to suppose the existence of scientific knowledge somewhere. Fliess, his dear friend, became a partner to this navigation into uncharted waters, waters never before named or described. Fliess, in his fascinating certainty about the vital causes and processes of nature, sustained for Freud the place of scientific truth, and this allowed Freud, divided, to articulate the truth of the subject. The study of Freud's letters to Fliess, which underlines the condition of writing, is important for what can be gleaned from its power of transmission. As Erik Porge (1998) insists, the letters to Fliess should not be taken as historical curiosities or documents by a subjectivity. The writing of these letters radically implicated Freud in his new field. From this point of view, writing, articulated with the theorization of the enigma of the neuroses, was Freud's fundamental means of expressing himself, and the task was carried out thanks to the grinder of the signifier, whose teeth are letters, in Pommier's words (2004). The writing of the letters to Fliess has the power to transmit the essence of the structure of the invention of Freud's theoretical production of psychoanalysis: Freud's own letter. The intimate friendship between these two men, whose paths diverged only much later, produced a bond that is the discourse of psychoanalysis. The present thesis attempts to express this recognition / Doutorado / Doutor em Linguística

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