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Italo Calvino e Osman Lins: da literatura combinatória ao hiper-romance / Italo Calvino and Osman Lins: from combinatory literature to hypernovel

Fritoli, Luiz Ernani 13 August 2012 (has links)
Segundo o pensamento de Mario Praz, Umberto Eco, Anatol Rosenfeld e muitos outros, as estruturas da obra de arte refletem as estruturas epistemológicas de uma época, acompanhando a evolução das formas de organização sócio-históricas e revelando uma superestrutura de pensamento subjacente a tais formas de organização. No caso de Calvino e de Lins, embora haja inúmeras e enormes diferenças conceituais e estilísticas, é muito clara a passagem de uma visão de mundo (e consequentemente uma resultante forma estética) em que o presente (anos 40-50), embora complexo, é representável como continuidade histórica, a uma nova forma mentis em que a História do presente (anos 60-70), relativizada e desrealizada pelas mudanças técnicas, científicas, culturais, sócio-epistemológicas, é percebida como mosaico de eventos e discursos e, como tal, é representável esteticamente. Percebe-se que as estruturas convencionais (contos e romances), unitárias, íntegras até meados dos anos 60, dão lugar, a partir de 1965 (Calvino) e 1966 (Lins), a uma preferência pelas formas fragmentadas, modulares, recombináveis, hipertextuais, em que os módulos podem ser manipulados pelo leitor para multiplicar as narrativas. Nessa fase da literatura combinatória surgirão obras-primas como Le città invisibili ou Pentágono de Hahn. Essa forma modular combinatória dos anos sessenta evoluirá, nos anos setenta, para uma forma mais complexa: o hiper-romance, cuja estrutura será ainda fortemente amparada na matemática e na geometria. Mas o hiper-romance, além dos elementos combinatórios articuladores da arquitetura romanesca, traz em seu cerne outros elementos fundamentais: a metanarrativa, a busca de um sentido para a representação (do amor e da morte, dos conflitos) e como representação dessa busca; a configuração narrativa do conhecimento como multiplicidade de temas e discursos; a forma da representação como multiplicidade de narrativas realizadas, realizáveis e potenciais; a busca da unidade dos fragmentos na compreensão de uma única Unidade possível: a do mosaico como resposta possível ao labirinto. / According to many authors, especially Mario Praz, Umberto Eco and Anatol Rosenfeld, the structures of a work of art reflect the epistemological structures of a certain period in time, following the evolution of socio-historical organization and revealing a superstructure of thought that comes together with such ways of organization. As far as Calvino and Lins are concerned, notwithstanding the so many conceptual and stylistic differences, their texts of fiction show very clearly the passage from a point of view (and respective esthetic form) in which the present (1940s and 1950s), though complex, can be represented as a historical continuity, to a new point of view in which the History of the present (1960s and 1970s) is understood as relative and fragmented. It is clear that conventional, uniform, whole structures such as short stories and novels, had a unified structure until the mid-sixties, but after 1965 (Calvino) and 1966 (Lins), these structures give place to a fragmented hypertext structures divided into mobile parts that the reader can manipulate and recombine in order to multiply the stories. From this period are masterpieces such as Le città invisivili and Pentágono de Hahn. This combinatory fragmented form from the sixties will evolve, in the seventies, to a more complex form: the hypernovel. The structure of the hypernovel will be strongly based on mathematics and geometry, and it also emphasizes metanarrative, the search for a sense of representation (love and death, for example) and the representation of the search itself. It also seeks to represent knowledge as multiplicity of themes and discourses, combined in fictional stories written and potentially writable. Both authors consider the structure of the novel as important as the story itself, for the structure is their search for the only possible unity: a mosaic, as a possible answer to the labyrinth.
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Italo Calvino e Osman Lins: da literatura combinatória ao hiper-romance / Italo Calvino and Osman Lins: from combinatory literature to hypernovel

Luiz Ernani Fritoli 13 August 2012 (has links)
Segundo o pensamento de Mario Praz, Umberto Eco, Anatol Rosenfeld e muitos outros, as estruturas da obra de arte refletem as estruturas epistemológicas de uma época, acompanhando a evolução das formas de organização sócio-históricas e revelando uma superestrutura de pensamento subjacente a tais formas de organização. No caso de Calvino e de Lins, embora haja inúmeras e enormes diferenças conceituais e estilísticas, é muito clara a passagem de uma visão de mundo (e consequentemente uma resultante forma estética) em que o presente (anos 40-50), embora complexo, é representável como continuidade histórica, a uma nova forma mentis em que a História do presente (anos 60-70), relativizada e desrealizada pelas mudanças técnicas, científicas, culturais, sócio-epistemológicas, é percebida como mosaico de eventos e discursos e, como tal, é representável esteticamente. Percebe-se que as estruturas convencionais (contos e romances), unitárias, íntegras até meados dos anos 60, dão lugar, a partir de 1965 (Calvino) e 1966 (Lins), a uma preferência pelas formas fragmentadas, modulares, recombináveis, hipertextuais, em que os módulos podem ser manipulados pelo leitor para multiplicar as narrativas. Nessa fase da literatura combinatória surgirão obras-primas como Le città invisibili ou Pentágono de Hahn. Essa forma modular combinatória dos anos sessenta evoluirá, nos anos setenta, para uma forma mais complexa: o hiper-romance, cuja estrutura será ainda fortemente amparada na matemática e na geometria. Mas o hiper-romance, além dos elementos combinatórios articuladores da arquitetura romanesca, traz em seu cerne outros elementos fundamentais: a metanarrativa, a busca de um sentido para a representação (do amor e da morte, dos conflitos) e como representação dessa busca; a configuração narrativa do conhecimento como multiplicidade de temas e discursos; a forma da representação como multiplicidade de narrativas realizadas, realizáveis e potenciais; a busca da unidade dos fragmentos na compreensão de uma única Unidade possível: a do mosaico como resposta possível ao labirinto. / According to many authors, especially Mario Praz, Umberto Eco and Anatol Rosenfeld, the structures of a work of art reflect the epistemological structures of a certain period in time, following the evolution of socio-historical organization and revealing a superstructure of thought that comes together with such ways of organization. As far as Calvino and Lins are concerned, notwithstanding the so many conceptual and stylistic differences, their texts of fiction show very clearly the passage from a point of view (and respective esthetic form) in which the present (1940s and 1950s), though complex, can be represented as a historical continuity, to a new point of view in which the History of the present (1960s and 1970s) is understood as relative and fragmented. It is clear that conventional, uniform, whole structures such as short stories and novels, had a unified structure until the mid-sixties, but after 1965 (Calvino) and 1966 (Lins), these structures give place to a fragmented hypertext structures divided into mobile parts that the reader can manipulate and recombine in order to multiply the stories. From this period are masterpieces such as Le città invisivili and Pentágono de Hahn. This combinatory fragmented form from the sixties will evolve, in the seventies, to a more complex form: the hypernovel. The structure of the hypernovel will be strongly based on mathematics and geometry, and it also emphasizes metanarrative, the search for a sense of representation (love and death, for example) and the representation of the search itself. It also seeks to represent knowledge as multiplicity of themes and discourses, combined in fictional stories written and potentially writable. Both authors consider the structure of the novel as important as the story itself, for the structure is their search for the only possible unity: a mosaic, as a possible answer to the labyrinth.

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