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O tempo em processo: cultura na ditadura militar e os impasses em torno do popular na peça \"O último carro\" (1964-1978) / The time in process: culture in the military dictatorship and the impasses surrounding the popular in the play \"The Last Car\" (1964-1978)Batista, Natália Cristina 16 August 2019 (has links)
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a peça O Último Carro ou As 14 estações, espetáculo do Grupo Opinião, com texto e direção de João das Neves. A peça foi escrita em 1964, mas estreou apenas em março de 1976. A montagem fez temporada o Rio de Janeiro (Teatro Opinião) e em São Paulo (Bienal Internacional de Arte de São Paulo) e alcançou sucesso de crítica e público, recebendo mais de vinte premiações, incluindo o Mambembe, o Molière e o Quadrienal de Praga. A peça retrata a situação de sujeitos com vidas precárias e que cotidianamente se deslocam pela cidade utilizando o trem como meio de transporte. Não existem protagonistas e o eixo estrutural na narrativa é a percepção que o trem está desgovernado e sem maquinista. Alguns trabalhadores se organizam para evitar o desastre e tentam conduzir os demais passageiros para o último carro do trem, mas encontram uma série de percalços. Ao final da peça, o trem efetivamente se choca, mas os passageiros do último carro conseguem sobreviver e modificar suas trajetórias. A partir de tais referências, objetiva-se compreender as articulações temporais contidas na peça-processo, investigando tanto o momento de escrita (1964) quanto o de montagem (1976-1978). A tese dessa pesquisa é que a construção de uma perspectiva de teatro popular entrecruzou as duas temporalidades e lhe conferiu características singulares se comparada com a produção artística que lhe foi contemporânea. Constatou-se também a presença de uma terceira temporalidade (2012-2019), que constantemente tensionava as anteriores por meio das entrevistas realizadas com seus participantes. A análise desses tempos múltiplos permitiu compreender aspectos da cultura brasileira e das tensas relações entre arte engajada, regime militar e mercado. Trata-se de observar um arco de tempo dialético, visualizando a peça como um produto cultural que foi gestado ao longo de um tempo histórico expandido e que pode ser percebido em uma análise que contemple aspectos temporais sincrônicos e diacrônicos em busca de um novo olhar para o povo e as classes populares. / This research aims to analyze the play The Last Car or the 14 stations, a spectacle of the Opinião Group, written and directed by João das Neves. Although written in 1964, the play premiered only in March 1976. The show was exhibited in Rio de Janeiro (Theater Opinião) and São Paulo (São Paulo International Art Biennial) and was a success in terms of critic and public, receiving more than twenty awards, including the Mambembe, the Molière and the Quadrennial of Prague. The play portrays the precarious lives of people who move around the city daily by train. There are no protagonists and the structural axis in the narrative is the runaway train lacking a driver. Some workers get together to avoid the disaster and try to lead the other passengers to the last car of the train, but face a series of mishaps. At the end of the play, the train crashes effectively, but the passengers in the last car are able to survive. Considering these elements, the research tries to understand the temporal articulations present in the play-process, investigating both the writing moment (1964) and the moment of the performances (1976-1978). The thesis is that the construction of a perspective of a popular theater intersected the two temporalities and gave it singular characteristics if compared with the artistic production of the time. There is also a third temporality (2012-2019), which constantly stressed the previous ones through the interviews with its participants. The analysis of these multiple times allowed the comprehension of aspects of Brazilian culture and the tense relations between engaged art, the military regime and the market. Considering a dialectical time arc, the play was interpreted as a cultural product developed over an extended historical time, that can be exposed in an analysis that contemplates synchronic and diachronic temporal aspects in the search of a new look for the people and the popular classes.
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