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Os monologos da criança : "deliros da lingua"

Lier-De Vitto, Maria Francisca de Andrade Ferreira 14 October 1994 (has links)
Orientador: Claudia Thereza Guimarães de Lemos / Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem / Made available in DSpace on 2018-07-19T20:03:16Z (GMT). No. of bitstreams: 1 Lier-DeVitto_MariaFranciscadeAndradeFerreira_D.pdf: 5774348 bytes, checksum: 44844ff014b6e93f058c34c941c4413f (MD5) Previous issue date: 1994 / Resumo: São os monólogos da criança que estão em foco nesta tese. Esse acontecimento lingüístico ganha a dignidade de tema na Psicologia do Desenvolvimento com Piaget em seu livro de 1923, A Linguagem e o Pensamento da Criança, sob o título de "fala egocêntrica". A ela é atribuído o estatuto de "elo genético", índice de uma longa transição entre o que o autor designou de "pensamento autístico", o mais primitivo e o "pensamento socializado", aquele característico do adulto. A expressão "egocentrismo" tem suas raízes na convicção de Piaget relativamente à condição inicial da criança que, para ele, é de centração ou "manque de décentration". Trata-se de centração na perspectiva do próprio sujeito. Para Piaget, o egocentrismo caracteriza o pensamento da criança. Daí sua fala ser também "egocêntrica". Em A Formação do Símbolo na Criança, de 1946, Piaget apenas tangencia a "fala egocêntrica". A linguagem ali é deslocada da posição de índice do desenvolvimento da criança para a de um dos reflexos de um processo central mais profundo, dirigido por um regulador interno. A estruturação cognitiva passará a ser inferida a partir dos "jogos". O desprestígio da "fala.egocêntrica no livro de 1946 tem raízes no desinteresse de Piaget pela linguagem. É .ele quem diz, em 1973, ter deixado de acreditar nas relações estreitas entre a linguagem e o pensamento. Dessa descrença resulta o afastamento da linguagem (e da "fala egocêntrica") para as margens de sua reflexão até a total exclusão de considerações sobre ela nos trabalhos posteriores aos dois discutidos por mim.Vygotsky, outro psicólogo voltado para o desenvolvimento da criança põe a "fala egocêntrica" em destaque. Ela terá uma dupla importância para ele. (1) Uma empírica, já que é instituída como material factual de análise. Nessas produções da criança ele depreende características que propõe serem as mesmas da "fala interna". (2) A outra é de natureza teórica, já que Vygotsky entende ser a "fala egocêntrica" o lugar da constituição da unidade dialética, lugar da imbricação da linguagem e da ação - acontecimento responsável pela criação de um outro plano: o cognitivo/interno. Entretanto, embora Vygotsky tenha almejado oferecer uma proposta radicalmente diferente da de Piaget, ao manter inquestionada a expressão "egocêntrica" em sua obra, ele não pôde promover a revolução anunciada porque nela se mantém a noção central do projeto piagetiano, que é a de "centração". Procurei mostrar os problemas incontomáveis, a meu ver, que a fala egocêntrica introduz na obra de Vygotsky. Embora alçada para uma posição destaque, ela ali não frutifica mas complica a argumentação do autor. Na área de Aquisição de Linguagem, os monólogos tem uma presença sintomática porque descontínua e irregular. Ruth Weir os coloca em pauta mas eles serão esquecidos até o final dos anos oitenta, quando Nelson e Gerhardt voltam suas atenções para o "discurso". Nelson desvia o foco para a questão da extensão das produções da criança e entende serem os monólogos projeções de episódios rotineiros seqüenciados na memória como "scripts". Gerhardt chega até Foucault mas faz uma interpretação pragmática do que lê e os monólogos se prestarão à investigação de "formas no discurso". Ao longo desses quase trinta anos Weir será citada e uma parte de seus "achados" - as "language pratice" - tomados como "evidências empíricas" em favor do argumento de que estruturas e mecanismos lingüísticos começam a se tornar acessíveis à criança. Se a questão é essa, perde-se de vista a integridade dos monólogos porque entra em cena a sentença.Em face desse quadro, procurei localizar o porquê dessa presença sintomática e oferecer uma interpretação alternativa dos monólogos. A primeira questão que coloco deriva de uma indagação de George Miller no prefácio ao livro de Ruth Weir: "por que não se ouve mais sobre os monólogos ?" , pergunta ele. Eu diria que porque o diálogo não se constitui em indagação para os pesquisadores. Sintoma disso são as exclusões sistemáticas de imitações ou "citações" da fala do outro do conjunto das produções assumidas como analisáveis. O segundo problema que levanto diz respeito ao procedimento de aplicação de um instrumental descritivo da Lingüística que tem a sentença como unidade analisável. Os pesquisadores procuram encontrar nos "dados" apenas evidências de uma estruturação seqüencial progressiva e perdem de :vista, assim, a especificidade do material empírico em questão. Decorre disso que "discurso" é unidade definida pelo critério de extensão: é unidade maior, composta por uma sucessão de sentenças que expressam conteúdos cognitivos. O terceiro ponto que problematizo, qual seja, o da concepção de sujeito que se inscreve nos estudos sobre os monólogos. Neles reina o sujeito psicológipo, aquele que "começa a saber sobre" a linguagem, que começa a se constituir em senhor do seu desenvolvimento / Abstract: Not informed. / Doutorado / Doutor em Linguística

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