Tendo como objeto de estudo a ficção de Cornelio Penna, representada por Fronteira (1935), primeiro livro do escritor, esta dissertação está estruturada em duas partes. Na primeira delas é desenvolvida uma breve abordagem do ambiente de 1930, com destaque para as tensões ideológicas e políticas que dominavam a cena. Nesse contexto, são relevantes as mudanças provocadas pela chegada de Getúlio Vargas ao poder e pelo rearmamento institucional experimentado pela Igreja desde a década anterior. Esse estado de coisas se refletiu na produção cultural e, no caso específico da literatura, foi percebido pela crítica como responsável pelo estabelecimento de uma polarização entre autores regionalistas e católicos/intimistas, reproduzindo de certa forma a oposição política existente entre direita e esquerda. O que se procura problematizar aqui é a rigidez dessa categorização, que, de modo sumário, acaba por misturar escritores de orientações muito diversas. Em última instância, questiona-se a própria validade do termo romance católico, que, em função de seus contornos pouco precisos, conduz facilmente a equívocos e generalizações. A segunda parte do trabalho consiste numa leitura de Fronteira. Explorando de modo profundamente original as possibilidades do realismo psicológico, Cornelio cria um romance que destoa no ambiente marcado por obras de cunho político e documental. Ambientada no século XIX, a narrativa exibe características muito peculiares, sobretudo no que toca ao ritmo lento e a uma premente ausência de explicações para os eventos descritos. Embora manipulando elementos de ordem histórica e social, o texto introspectivo de Cornelio se mantém formalmente distante da literatura de denúncia, sendo por vezes associado, de forma indevida, ao pensamento católico conservador. Partindo de aspectos específicos do romance, como a relação problemática que se estabelece entre os indivíduos e a impossibilidade de figurarem harmoniosamente num espaço que lhes é hostil e ameaçador, a análise pretende identificar marcas constitutivas e mecanismos ficcionais que permitam compreender melhor a lógica particular que rege o funcionamento do texto corneliano / Having as an object of study the fiction of Cornelio Penna, represented by his first book, Threshold (1935), this dissertation is structured into two parts. In the first one a brief approach to the political and ideological climate of the Thirties is developed. In this context, the changes occurred with the arrival of Getúlio Vargas to power and with the institutional rearmament that Church had been experimenting since the previous decade are relevant. This state of affairs had reflections on cultural production and was seen by literary criticism as responsible for the establishment of a polarization between regionalist and Catholic/intimist authors, reproducing, to some extent, the existing left-right political opposition. The intention here is to problematize the rigidness of this categorization, which, in a hurried manner, ends up mixing writers of extremely different orientations. In the last instance, what is questioned is the validity itself of the term Catholic novel, which, because of its vague delimitations, leads easily to mistakes and generalizations. The second part of the dissertation consists of a reading of Threshold. Exploring in a deeply original way the possibilities of psychological realism, Cornelio creates a novel that does not fit in the space dominated by works with documentary and political concerns. Set in the nineteenth century, the narrative shows some quite peculiar characteristics, especially when it comes to its slow rhythm and to an anguishing lack of explanations to the depicted events. Although manipulating social and historic elements, Cornelios introspective text keeps itself formally distant from literature of denunciation, being at times inappropriately associated with conservative Catholic intellectuality. Starting from specific aspects of the novel, such as the problematic relationship that is established among individuals and the impossibility of them harmoniously being part of a space which is in fact hostile and threatening, the analysis intends to identify constitutive marks and fictional mechanisms that allow a better understanding of the particular logic that governs the functioning of Cornelios text

Tendo como objeto de estudo a ficção de Cornelio Penna, representada por Fronteira (1935), primeiro livro do escritor, esta dissertação está estruturada em duas partes. Na primeira delas é desenvolvida uma breve abordagem do ambiente de 1930, com destaque para as tensões ideológicas e políticas que dominavam a cena. Nesse contexto, são relevantes as mudanças provocadas pela chegada de Getúlio Vargas ao poder e pelo rearmamento institucional experimentado pela Igreja desde a década anterior. Esse estado de coisas se refletiu na produção cultural e, no caso específico da literatura, foi percebido pela crítica como responsável pelo estabelecimento de uma polarização entre autores regionalistas e católicos/intimistas, reproduzindo de certa forma a oposição política existente entre direita e esquerda. O que se procura problematizar aqui é a rigidez dessa categorização, que, de modo sumário, acaba por misturar escritores de orientações muito diversas. Em última instância, questiona-se a própria validade do termo romance católico, que, em função de seus contornos pouco precisos, conduz facilmente a equívocos e generalizações. A segunda parte do trabalho consiste numa leitura de Fronteira. Explorando de modo profundamente original as possibilidades do realismo psicológico, Cornelio cria um romance que destoa no ambiente marcado por obras de cunho político e documental. Ambientada no século XIX, a narrativa exibe características muito peculiares, sobretudo no que toca ao ritmo lento e a uma premente ausência de explicações para os eventos descritos. Embora manipulando elementos de ordem histórica e social, o texto introspectivo de Cornelio se mantém formalmente distante da literatura de denúncia, sendo por vezes associado, de forma indevida, ao pensamento católico conservador. Partindo de aspectos específicos do romance, como a relação problemática que se estabelece entre os indivíduos e a impossibilidade de figurarem harmoniosamente num espaço que lhes é hostil e ameaçador, a análise pretende identificar marcas constitutivas e mecanismos ficcionais que permitam compreender melhor a lógica particular que rege o funcionamento do texto corneliano / Having as an object of study the fiction of Cornelio Penna, represented by his first book, Threshold (1935), this dissertation is structured into two parts. In the first one a brief approach to the political and ideological climate of the Thirties is developed. In this context, the changes occurred with the arrival of Getúlio Vargas to power and with the institutional rearmament that Church had been experimenting since the previous decade are relevant. This state of affairs had reflections on cultural production and was seen by literary criticism as responsible for the establishment of a polarization between regionalist and Catholic/intimist authors, reproducing, to some extent, the existing left-right political opposition. The intention here is to problematize the rigidness of this categorization, which, in a hurried manner, ends up mixing writers of extremely different orientations. In the last instance, what is questioned is the validity itself of the term Catholic novel, which, because of its vague delimitations, leads easily to mistakes and generalizations. The second part of the dissertation consists of a reading of Threshold. Exploring in a deeply original way the possibilities of psychological realism, Cornelio creates a novel that does not fit in the space dominated by works with documentary and political concerns. Set in the nineteenth century, the narrative shows some quite peculiar characteristics, especially when it comes to its slow rhythm and to an anguishing lack of explanations to the depicted events. Although manipulating social and historic elements, Cornelios introspective text keeps itself formally distant from literature of denunciation, being at times inappropriately associated with conservative Catholic intellectuality. Starting from specific aspects of the novel, such as the problematic relationship that is established among individuals and the impossibility of them harmoniously being part of a space which is in fact hostile and threatening, the analysis intends to identify constitutive marks and fictional mechanisms that allow a better understanding of the particular logic that governs the functioning of Cornelios text