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A constituição da demanda para a neurologia nas vozes das ensinantes

Arantes, Ricardo Lugon January 2017 (has links)
Esta pesquisa buscou investigar como se constitui a demanda para a Neurologia a partir dos professores no contexto da Educação Básica. Os referenciais teóricos foram construídos a partir de dois eixos: um olhar crítico para o campo da neuroeducação e seu crescimento a partir dos anos 1990; propõe-se o termo neurocolonização, onde os saberes das neurociências seriam imprescindíveis para a Educação. O outro eixo envolveu o debate sobre os processos de medicalização, formulados a partir de uma leitura panorâmica e de uma revisão de duas genealogias – a de Michel Foucault (2010) e a de Jurandir Freire Costa (1979). A discussão teórica também incluiu um olhar para a interface Psiquiatria-Educação e para a fronteira-território que se constitui entre Psiquiatria e Neurologia. Realizou-se um levantamento dos encaminhamentos feitos à Neurologia na cidade de Novo Hamburgo/RS no segundo semestre de 2015. Junto às cartas de referência analisadas neste levantamento foram encontrados seis documentos assinados por professores. Cinco das seis professoras signatárias destes documentos foram entrevistadas, tematizando a construção de si e os percursos profissionais; os encontros com os trabalhadores de saúde; as hipóteses e expectativas em torno do caso da criança que decidiram solicitar encaminhamento, e como percebem a influência das neurociências sobre o seu trabalho. A análise dos encaminhamentos aponta para uma frequência de situações relacionadas ao campo da Educação superior aos casos de cefaleia e epilepsia/convulsões As entrevistas oferecem indícios da constituição da demanda para a Neurologia apoiada em diferentes elementos: a) o recurso ao saber especialista, demarcado especificamente no dispositivo ‘consulta’; b) o deslizamento dos discursos das neurociências-pesquisa – que se remetem a uma criança qualquer - em direção ao que se constrói na prática clínica e também na prática pedagógica, uma relação entre sujeitos reais; c) a não-aderência a um sistema diagnóstico ou a um campo de problemas, podendo-se falar de crianças e adolescentes descabentes, que povoam as margens das classificações diagnósticas e alimentam um circuito tautológico entre Saúde e Educação; d) hipóteses formuladas pelos professores centradas no modo da família criar sua prole e na expectativa de que o neurologista interfira nestas relações, numa tentativa de normatizar ou padronizar as condutas entre família e escola; e) pouca ênfase à importância dos saberes das neurociências ou dos exames complementares para a tomada de decisão nestes encaminhamentos. Por outro lado, práticas desmedicalizantes também foram reconhecidas a partir da sensibilidade do olhar das ensinantes, ressignificando as diferenças e desarmando os automatismos patologizantes
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A constituição da demanda para a neurologia nas vozes das ensinantes

Arantes, Ricardo Lugon January 2017 (has links)
Esta pesquisa buscou investigar como se constitui a demanda para a Neurologia a partir dos professores no contexto da Educação Básica. Os referenciais teóricos foram construídos a partir de dois eixos: um olhar crítico para o campo da neuroeducação e seu crescimento a partir dos anos 1990; propõe-se o termo neurocolonização, onde os saberes das neurociências seriam imprescindíveis para a Educação. O outro eixo envolveu o debate sobre os processos de medicalização, formulados a partir de uma leitura panorâmica e de uma revisão de duas genealogias – a de Michel Foucault (2010) e a de Jurandir Freire Costa (1979). A discussão teórica também incluiu um olhar para a interface Psiquiatria-Educação e para a fronteira-território que se constitui entre Psiquiatria e Neurologia. Realizou-se um levantamento dos encaminhamentos feitos à Neurologia na cidade de Novo Hamburgo/RS no segundo semestre de 2015. Junto às cartas de referência analisadas neste levantamento foram encontrados seis documentos assinados por professores. Cinco das seis professoras signatárias destes documentos foram entrevistadas, tematizando a construção de si e os percursos profissionais; os encontros com os trabalhadores de saúde; as hipóteses e expectativas em torno do caso da criança que decidiram solicitar encaminhamento, e como percebem a influência das neurociências sobre o seu trabalho. A análise dos encaminhamentos aponta para uma frequência de situações relacionadas ao campo da Educação superior aos casos de cefaleia e epilepsia/convulsões As entrevistas oferecem indícios da constituição da demanda para a Neurologia apoiada em diferentes elementos: a) o recurso ao saber especialista, demarcado especificamente no dispositivo ‘consulta’; b) o deslizamento dos discursos das neurociências-pesquisa – que se remetem a uma criança qualquer - em direção ao que se constrói na prática clínica e também na prática pedagógica, uma relação entre sujeitos reais; c) a não-aderência a um sistema diagnóstico ou a um campo de problemas, podendo-se falar de crianças e adolescentes descabentes, que povoam as margens das classificações diagnósticas e alimentam um circuito tautológico entre Saúde e Educação; d) hipóteses formuladas pelos professores centradas no modo da família criar sua prole e na expectativa de que o neurologista interfira nestas relações, numa tentativa de normatizar ou padronizar as condutas entre família e escola; e) pouca ênfase à importância dos saberes das neurociências ou dos exames complementares para a tomada de decisão nestes encaminhamentos. Por outro lado, práticas desmedicalizantes também foram reconhecidas a partir da sensibilidade do olhar das ensinantes, ressignificando as diferenças e desarmando os automatismos patologizantes
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A constituição da demanda para a neurologia nas vozes das ensinantes

Arantes, Ricardo Lugon January 2017 (has links)
Esta pesquisa buscou investigar como se constitui a demanda para a Neurologia a partir dos professores no contexto da Educação Básica. Os referenciais teóricos foram construídos a partir de dois eixos: um olhar crítico para o campo da neuroeducação e seu crescimento a partir dos anos 1990; propõe-se o termo neurocolonização, onde os saberes das neurociências seriam imprescindíveis para a Educação. O outro eixo envolveu o debate sobre os processos de medicalização, formulados a partir de uma leitura panorâmica e de uma revisão de duas genealogias – a de Michel Foucault (2010) e a de Jurandir Freire Costa (1979). A discussão teórica também incluiu um olhar para a interface Psiquiatria-Educação e para a fronteira-território que se constitui entre Psiquiatria e Neurologia. Realizou-se um levantamento dos encaminhamentos feitos à Neurologia na cidade de Novo Hamburgo/RS no segundo semestre de 2015. Junto às cartas de referência analisadas neste levantamento foram encontrados seis documentos assinados por professores. Cinco das seis professoras signatárias destes documentos foram entrevistadas, tematizando a construção de si e os percursos profissionais; os encontros com os trabalhadores de saúde; as hipóteses e expectativas em torno do caso da criança que decidiram solicitar encaminhamento, e como percebem a influência das neurociências sobre o seu trabalho. A análise dos encaminhamentos aponta para uma frequência de situações relacionadas ao campo da Educação superior aos casos de cefaleia e epilepsia/convulsões As entrevistas oferecem indícios da constituição da demanda para a Neurologia apoiada em diferentes elementos: a) o recurso ao saber especialista, demarcado especificamente no dispositivo ‘consulta’; b) o deslizamento dos discursos das neurociências-pesquisa – que se remetem a uma criança qualquer - em direção ao que se constrói na prática clínica e também na prática pedagógica, uma relação entre sujeitos reais; c) a não-aderência a um sistema diagnóstico ou a um campo de problemas, podendo-se falar de crianças e adolescentes descabentes, que povoam as margens das classificações diagnósticas e alimentam um circuito tautológico entre Saúde e Educação; d) hipóteses formuladas pelos professores centradas no modo da família criar sua prole e na expectativa de que o neurologista interfira nestas relações, numa tentativa de normatizar ou padronizar as condutas entre família e escola; e) pouca ênfase à importância dos saberes das neurociências ou dos exames complementares para a tomada de decisão nestes encaminhamentos. Por outro lado, práticas desmedicalizantes também foram reconhecidas a partir da sensibilidade do olhar das ensinantes, ressignificando as diferenças e desarmando os automatismos patologizantes

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