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Resistência e consentimento na empresa pós-fordista: uma etnografia com trabalhadores da EmbraerOliveira, Marco Antonio Gonsales de 16 March 2017 (has links)
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Previous issue date: 2017-03-16 / The objective of this thesis was to study the subjective relationships between workers
and Embraer, a company aligned to post-Fordist management concepts. Through an
ethnography along the lines of a case study extended for one year, I attended the
spaces of conflict between capital and labor, I went to meetings at the Metalworkers
Union of São José dos Campos, heard workers in the union as well as outside, I
followed the demonstrations before and during the strikers movement, and talked
and watched the workers in the productive and management sectors of Embraer.
Through previous study of authors such as Antonio Gramsci (1978, 1984, 2004,
2008) and Michael Burawoy (2012, 2014), in addition to the main authors of critical
theory in organizational studies, sociology, and interaction with working class, an
interesting fact came to light: the subjective intentions proposed by post-Fordist
companies are not as effective as many studies believe. There is no effectiveness of
subjective intent over insecure working relationships. Much of the working class – an
interesting fraction, explicitly the more insecure – are skeptical of the subjective
proposals of companies, “We have a lot to lose, but what we have is still a lot”
(Embraer worker celebrating the end of a strike). Workers are immersed in bourgeois
hegemony articulated by through organic bourgeois intellectuals, subjectified by
bourgeois values and social standards, but which do not show in their daily lives, in
their discourse, and in their behavior the proposal of subjectivity that the company
promotes. The insecure worker is more concerned with the objective ties of labor
relations and less concerned with the emotional promises and bargains promoted by
the company – after all, the goal is to be and remain employed. Even when
consenting, many understand the situation of oppression and injustice that the reality
of their work imposes. There is consent but little commitment, hence the fragility of
the post-Fordist model of development, where the threshold between consenting and
resisting is tenuous. On the other hand, in the studied conflict spaces, it is explained
that, in an unprecedented way, there is a movement of “organized counterresistance”
in search of consent and commitment: an organized trade union
resistance movement. Leaders, managers, engineers, and technicians organized and
confronted the union movement during the 2014 strikes at Embraer. Under the
context of work insecurity, workers with “higher salaries”, who are also under threat,
tended to adhere strongly to the subjective proposals of the company. When
subaltern classes entered into conflict, those who earn “more pay” – the richer
bourgeoisie – differentiate and distance themselves from the working class masses,
being assimilated to hegemonic class values more easily, resisting and also
struggling: they feared becoming a proletarian or a poor worker / O objetivo desta tese foi estudar as relações subjetivas entre os trabalhadores e a
Embraer, uma empresa alinhada aos conceitos pós-fordistas de gestão. Para tanto,
através dos conceitos da etnografia nos moldes de um estudo de caso ampliado, por
um ano frequentei os espaços de conflito entre capital e trabalho, participei de
reuniões no Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, ouvi os
trabalhadores no sindicato e fora dele, frequentei a entrada da Embraer, acompanhei
as mobilizações antes e durante os movimentos paredistas (greves e assembleias),
conversei com os trabalhadores tanto do setor produtivo quanto da gestão da
Embraer e observei-os. Por meio de estudo prévio realizado sobre as produções de
autores como Antonio Gramsci (1978, 1984, 2004, 2008) e Michael Burawoy (2012,
2014), além dos principais autores da teoria crítica em estudos organizacionais, da
sociologia e da interação com a classe trabalhadora, veio à tona uma interessante
constatação: os intentos subjetivos propostos pelas empresas pós-fordistas não são
tão efetivos como muitos estudos apontam. Não há efetividade dos intentos
subjetivos sob relações precárias de trabalho. Boa parte da classe trabalhadora,
uma interessante fração, explicitamente a mais precarizada, é cética no tocante às
propostas subjetivas das empresas. “Não temos muito o que perder, mas o que
temos ainda é muito” (trabalhadora da Embraer ao comemorar o fim de uma greve).
São trabalhadores imersos na hegemonia articulada pelos intelectuais orgânicos
burgueses, subjetivados pelos valores e padrões sociais burgueses, mas que não
demonstram em seu cotidiano, em suas falas e em seus comportamentos a proposta
de subjetividade que a empresa promove. O trabalhador precariado preocupa-se
mais com os laços objetivos das relações de trabalho e menos com as promessas e
pechinchas emocionais promovidas pela empresa: seu objetivo é estar e manter-se
empregado. Mesmo consentindo, muitos compreendem a situação de opressão e
injustiça que a realidade do seu trabalho lhes impõe. Há consentimento, mas pouco
comprometimento, daí a fragilidade do modelo de desenvolvimento pós-fordista, em
que o limiar entre o consentir e resistir é tênue. Por outro lado, curiosamente nos
espaços de conflitos estudados, explicitou-se, de uma forma inédita, um movimento
de “contrarresistência organizada” em busca de consentimento e de
comprometimento: um movimento organizado de contenção à resistência sindical.
Líderes, gestores, engenheiros e técnicos se organizaram e confrontaram o
sindicato durante os movimentos paredistas de 2014 na Embraer. Sob o contexto da
precarização do trabalho, os trabalhadores com “mais salário”, também sob ameaça,
tendem a aderir com veemência às propostas subjetivas da empresa. Quando as
classes ditas subalternas entram em conflito, aqueles que auferem “mais salário” – a
burguesia assalariada – diferenciam-se e distanciam-se da massa da classe
trabalhadora mais pobre, assimilando com maior facilidade os valores da classe
hegemônica e, por estes, resistem e também lutam: é o medo de se tornar um
proletário ou um trabalhador precário
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