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Caça e consumo de carne silvestre na Amazônia Oriental: determinantes e efeitos na percepção do valor da floresta / Bushmeat hunting and consumption in Eastern Amazonia: drivers and effects on the perception of forest value

Torres, Patricia Carignano 11 December 2014 (has links)
A extração de produtos florestais é uma estratégia de sustento importante para populações que vivem próximas a remanescentes de florestas tropicais. Entre estes produtos, a carne silvestre é fonte importante de proteína e renda monetária. A sobreçaca, no entanto, pode levar à extinção local de espécies, comprometendo a integridade das florestas tropicais e o sustento de populações humanas. Como consequência, pode também levar à diminuição do valor atribuído às florestas pelos moradores, incentivando a sua conversão a outras formas de uso da terra. Sabe-se que fatores econômicos, como renda monetária e riqueza, são determinantes importantes da caça e do consumo de carne silvestre. Porém, tem sido sugerido que o efeito destes indicadores econômicos dependa do contexto ambiental - em especial, a cobertura florestal, associada à disponibilidade de animais para caça e a distância ao centro urbano, associada ao acesso a outras fontes de renda e proteína - e do contexto cultural, em particular, a região de origem dos moradores. No entanto, estudos prévios não consideraram todos estes fatores simultaneamente. Além disso, pouco ainda se sabe sobre qual o valor atribuído às florestas por populações rurais e sua relação com a caça e o consumo de carne silvestre. Através de questionários estruturados aplicados por meio de entrevista à população rural de uma região extensa e heterogênea na Amazônia oriental, esta tese teve como objetivos investigar: (i) o efeito de fatores ambientais em maior escala como determinantes da caça e do consumo de carne silvestre (Capítulo 1); (ii) a importância relativa e as interações entre fatores em escalas distintas - econômicos, culturais e ambientais - na determinação da caça e do consumo de carne silvestre (Capítulo 2) e; (iii) se a caça e o consumo de carne silvestre, bem como o desmatamento, que pode comprometer esse recurso, estão associados à percepção do valor das florestas (Capítulo 3). No Capítulo 1, os resultados indicam que fatores ambientais são determinantes mais importantes da caça do que do consumo de carne silvestre, que é mais frequente que a caça, sugerindo a relevância do compartilhamento e/ou comércio como formas de obtenção de carne silvestre. Enquanto o consumo de carne de silvestre foi um pouco mais frequente em áreas remotas e mais florestadas, a caça foi mais frequente em áreas mais florestadas, mas também em áreas mais próximas a centros urbanos. Assim, os resultados sugerem que é improvável que a pressão de caça diminua com a crescente migração para áreas urbanas que hoje se observa na Amazônia. O Capítulo 2 traz evidências de que o consumo de carne silvestre, e principalmente a caça, dependem não só do contexto ambiental, mas também do cultural, e que os efeitos de indicadores econômicos dependem de fatores ambientais. A caça e o consumo de carne silvestre foram mais frequentes nas famílias de origem na região Amazônica, entre aqueles que dependem mais de atividades de subsistência, e ambos aumentaram com a renda monetária em áreas próximas a centros urbanos e/ou menos florestadas, mas diminuíram com a renda monetária em áreas remotas e/ou florestadas. Isto sugere que o sucesso de intervenções econômicas que visem tanto à redução da pobreza quanto à conservação da biodiversidade depende do contexto ambiental, e é muito mais provável em áreas mais florestadas e remotas. Os resultados do Capítulo 3 indicam que a quantidade de carne silvestre consumida influencia positivamente a percepção do valor utilitário da floresta, enquanto que a quantidade de florestas remanescentes no entorno influencia positivamente a percepção de seu valor intrínseco. Assim, para além de estratégias que visem o bem-estar humano via incentivos econômicos, há oportunidade para iniciativas que considerem outros aspectos do bem-estar associados aos serviços providos pela floresta - sejam recursos como a carne silvestre ou benefícios culturais e estéticos. Ao mesmo tempo, os resultados apontam o potencial de um perigoso ciclo de desvalorização da floresta, em que o desmatamento leva a diminuição da percepção do seu valor, que, por sua vez, pode agravar o desmatamento, indicando a urgência de investimentos em iniciativas de conservação nas paisagens mais alteradas / The extraction of forest products is an important livelihood strategy for human populations living in and around tropical forest remnants. Among these products, bushmeat is an important source of protein and monetary income. However, overhunting can lead to local species extinction, compromising the integrity of tropical forests and the livelihoods of human populations. As a consequence, it can also lead to a decrease in the value local people attribute to forests, further promoting land conversion. It is well known that economic factors, such as monetary income and asset-wealth, are important drivers of bushmeat hunting and consumption. However, it has been suggested that the effect of economic factors depend on the environmental context - especially forest cover, associated with game availability, and distance to urban centers, associated with alternative sources of protein and income - and on the cultural context, particularly the region of origin of residents. Nevertheless, previous studies did not consider all these factors simultaneously. In addition, little is known about the value attributed to forests by rural populations and its association with bushmeat hunting and consumption. Using questionnaire-based interviews with the rural population of a wide heterogeneous region in eastern Amazonia, this thesis aimed at investigating (i) the effects of large-scale environmental factors as drivers of bushmeat hunting and consumption (Chapter 1); (ii) the relative importance and interactions between factors at different scales - economic, cultural and environmental - in driving bushmeat hunting and consumption (Chapter 2) and; (iii) whether bushmeat hunting and consumption, as well as deforestation, which may compromise this resource, are associated with the perception of forest values (Chapter 3). In Chapter 1, the results indicate that environmental factors are more important drivers of hunting than of bushmeat consumption, which is widespread, suggesting significant bushmeat sharing and/ or trading. While bushmeat consumption was slightly more likely in remote and more forested areas, hunting was more likely in more forested areas but also in areas closer to urban centers. These results suggest that hunting pressure is unlikely to decrease with the increasing migration to urban areas nowadays observed in the Amazon. Chapter 2 brings evidences that bushmeat consumption, and especially hunting, depend not only on the environmental context but also on the cultural context, and that the effects of economic variables depend on environmental factors. Bushmeat hunting and consumption were more likely in households with Amazonian origin, with greater reliance on subsistence activities and both increased with monetary income in less remote and/or less forested areas, but decreased with monetary income in more remote and/or more forested areas. This result suggests that the success of economic interventions aiming at both poverty alleviation and biodiversity conservation depend on the environmental context, and is more likely in more forested and remote areas. The results of Chapter 3 indicate that the amount of consumed bushmeat positively influences the perception of forest instrumental value, while forest cover in the surroundings positively influences the perception of forest intrinsic value. These results suggest that, beyond strategies that aim at human well-being through economic incentives, there is opportunity for initiatives that consider other aspects of well-being associated with services provided by forests - whether resources such as bushmeat or cultural and aesthetic benefits. At the same time, the results suggest the potential for a dangerous reinforcing cycle of forest depreciation, in which deforestation erodes perceptions of forest values, which may in turn facilitate further deforestation, indicating the urgent need to invest in conservation initiatives in more altered landscapes
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Caça e consumo de carne silvestre na Amazônia Oriental: determinantes e efeitos na percepção do valor da floresta / Bushmeat hunting and consumption in Eastern Amazonia: drivers and effects on the perception of forest value

Patricia Carignano Torres 11 December 2014 (has links)
A extração de produtos florestais é uma estratégia de sustento importante para populações que vivem próximas a remanescentes de florestas tropicais. Entre estes produtos, a carne silvestre é fonte importante de proteína e renda monetária. A sobreçaca, no entanto, pode levar à extinção local de espécies, comprometendo a integridade das florestas tropicais e o sustento de populações humanas. Como consequência, pode também levar à diminuição do valor atribuído às florestas pelos moradores, incentivando a sua conversão a outras formas de uso da terra. Sabe-se que fatores econômicos, como renda monetária e riqueza, são determinantes importantes da caça e do consumo de carne silvestre. Porém, tem sido sugerido que o efeito destes indicadores econômicos dependa do contexto ambiental - em especial, a cobertura florestal, associada à disponibilidade de animais para caça e a distância ao centro urbano, associada ao acesso a outras fontes de renda e proteína - e do contexto cultural, em particular, a região de origem dos moradores. No entanto, estudos prévios não consideraram todos estes fatores simultaneamente. Além disso, pouco ainda se sabe sobre qual o valor atribuído às florestas por populações rurais e sua relação com a caça e o consumo de carne silvestre. Através de questionários estruturados aplicados por meio de entrevista à população rural de uma região extensa e heterogênea na Amazônia oriental, esta tese teve como objetivos investigar: (i) o efeito de fatores ambientais em maior escala como determinantes da caça e do consumo de carne silvestre (Capítulo 1); (ii) a importância relativa e as interações entre fatores em escalas distintas - econômicos, culturais e ambientais - na determinação da caça e do consumo de carne silvestre (Capítulo 2) e; (iii) se a caça e o consumo de carne silvestre, bem como o desmatamento, que pode comprometer esse recurso, estão associados à percepção do valor das florestas (Capítulo 3). No Capítulo 1, os resultados indicam que fatores ambientais são determinantes mais importantes da caça do que do consumo de carne silvestre, que é mais frequente que a caça, sugerindo a relevância do compartilhamento e/ou comércio como formas de obtenção de carne silvestre. Enquanto o consumo de carne de silvestre foi um pouco mais frequente em áreas remotas e mais florestadas, a caça foi mais frequente em áreas mais florestadas, mas também em áreas mais próximas a centros urbanos. Assim, os resultados sugerem que é improvável que a pressão de caça diminua com a crescente migração para áreas urbanas que hoje se observa na Amazônia. O Capítulo 2 traz evidências de que o consumo de carne silvestre, e principalmente a caça, dependem não só do contexto ambiental, mas também do cultural, e que os efeitos de indicadores econômicos dependem de fatores ambientais. A caça e o consumo de carne silvestre foram mais frequentes nas famílias de origem na região Amazônica, entre aqueles que dependem mais de atividades de subsistência, e ambos aumentaram com a renda monetária em áreas próximas a centros urbanos e/ou menos florestadas, mas diminuíram com a renda monetária em áreas remotas e/ou florestadas. Isto sugere que o sucesso de intervenções econômicas que visem tanto à redução da pobreza quanto à conservação da biodiversidade depende do contexto ambiental, e é muito mais provável em áreas mais florestadas e remotas. Os resultados do Capítulo 3 indicam que a quantidade de carne silvestre consumida influencia positivamente a percepção do valor utilitário da floresta, enquanto que a quantidade de florestas remanescentes no entorno influencia positivamente a percepção de seu valor intrínseco. Assim, para além de estratégias que visem o bem-estar humano via incentivos econômicos, há oportunidade para iniciativas que considerem outros aspectos do bem-estar associados aos serviços providos pela floresta - sejam recursos como a carne silvestre ou benefícios culturais e estéticos. Ao mesmo tempo, os resultados apontam o potencial de um perigoso ciclo de desvalorização da floresta, em que o desmatamento leva a diminuição da percepção do seu valor, que, por sua vez, pode agravar o desmatamento, indicando a urgência de investimentos em iniciativas de conservação nas paisagens mais alteradas / The extraction of forest products is an important livelihood strategy for human populations living in and around tropical forest remnants. Among these products, bushmeat is an important source of protein and monetary income. However, overhunting can lead to local species extinction, compromising the integrity of tropical forests and the livelihoods of human populations. As a consequence, it can also lead to a decrease in the value local people attribute to forests, further promoting land conversion. It is well known that economic factors, such as monetary income and asset-wealth, are important drivers of bushmeat hunting and consumption. However, it has been suggested that the effect of economic factors depend on the environmental context - especially forest cover, associated with game availability, and distance to urban centers, associated with alternative sources of protein and income - and on the cultural context, particularly the region of origin of residents. Nevertheless, previous studies did not consider all these factors simultaneously. In addition, little is known about the value attributed to forests by rural populations and its association with bushmeat hunting and consumption. Using questionnaire-based interviews with the rural population of a wide heterogeneous region in eastern Amazonia, this thesis aimed at investigating (i) the effects of large-scale environmental factors as drivers of bushmeat hunting and consumption (Chapter 1); (ii) the relative importance and interactions between factors at different scales - economic, cultural and environmental - in driving bushmeat hunting and consumption (Chapter 2) and; (iii) whether bushmeat hunting and consumption, as well as deforestation, which may compromise this resource, are associated with the perception of forest values (Chapter 3). In Chapter 1, the results indicate that environmental factors are more important drivers of hunting than of bushmeat consumption, which is widespread, suggesting significant bushmeat sharing and/ or trading. While bushmeat consumption was slightly more likely in remote and more forested areas, hunting was more likely in more forested areas but also in areas closer to urban centers. These results suggest that hunting pressure is unlikely to decrease with the increasing migration to urban areas nowadays observed in the Amazon. Chapter 2 brings evidences that bushmeat consumption, and especially hunting, depend not only on the environmental context but also on the cultural context, and that the effects of economic variables depend on environmental factors. Bushmeat hunting and consumption were more likely in households with Amazonian origin, with greater reliance on subsistence activities and both increased with monetary income in less remote and/or less forested areas, but decreased with monetary income in more remote and/or more forested areas. This result suggests that the success of economic interventions aiming at both poverty alleviation and biodiversity conservation depend on the environmental context, and is more likely in more forested and remote areas. The results of Chapter 3 indicate that the amount of consumed bushmeat positively influences the perception of forest instrumental value, while forest cover in the surroundings positively influences the perception of forest intrinsic value. These results suggest that, beyond strategies that aim at human well-being through economic incentives, there is opportunity for initiatives that consider other aspects of well-being associated with services provided by forests - whether resources such as bushmeat or cultural and aesthetic benefits. At the same time, the results suggest the potential for a dangerous reinforcing cycle of forest depreciation, in which deforestation erodes perceptions of forest values, which may in turn facilitate further deforestation, indicating the urgent need to invest in conservation initiatives in more altered landscapes

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