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Educação, sociedade e democracia no pensamento de John Dewey / Education, democracy and society in the works of John DeweyTrindade, Christiane Coutheux 07 August 2009 (has links)
A pedagogia de John Dewey (1859-1952) é referência para compreender as alterações no pensamento e na prática do campo educacional do século XX. Suas propostas questionam o modelo escolar tradicional predominante na época, realocando a criança para o centro do processo pedagógico. Apesar de ilustre por suas contribuições à Educação, Dewey assegura seu lugar nas discussões filosóficas tanto pela amplitude temática de seu pensamento quanto pela riqueza analítica de suas ideias. Tido como um dos pioneiros do pragmatismo (ao lado de William James e C. S. Pierce), o filósofo se debruça sobre as mais prementes questões políticas e sociais de seu tempo: o avanço desenfreado do capitalismo lança uma série de novos desafios ao homem, ao mesmo tempo em que ascendem totalitarismos de esquerda e direita na Europa e na Rússia. O horizonte da emancipação humana, representado pela democracia, está sob ameaça de diferentes modos. Essa importante pauta recebe o tratamento de Dewey em escritos que transcendem as fronteiras pedagógicas. Entendemos que a pedagogia de John Dewey é melhor compreendida quando matizada pela concepção de sociedade democrática presente nessas reflexões filosóficas mais amplas. Com o intuito de delinear essa concepção, este trabalho partiu da leitura analítica de Velho e novo individualismo e Liberdade e Cultura. A primeira trata dos descompassos entre indivíduo e sociedade, acentuados diante da lógica capitalista de prevalência do interesse particular sobre o comum. A democracia aparece como forma de organização social que possibilita a harmonia desses lados, zelando tanto pela garantia do desenvolvimento do indivíduo quanto pela busca dos fins sociais. Já o segundo texto afirma que liberdade e democracia devem ser tomadas como aposta moral e não como fins naturalmente prezados pelo homem. A cultura, em interação com a natureza humana, é elemento formador de hábitos, disposições e valores. Com isso, Dewey coloca a manutenção e expansão dos ideais democráticos em mãos humanas enquanto missão que precisa ser deliberadamente empreendida. Uma sociedade livre exige uma cultura livre o que, por sua vez, só se dá pela existência de instituições sociais igualmente libertárias. Em função dessas descobertas, alguns dos principais pontos de sua reflexão pedagógica são repensados a partir de Meu credo pedagógico e Democracia e Educação. Em primeiro lugar, destacamos o papel da educação, enquanto processo social na formação da cultura da sociedade. Se a democracia é uma escolha, a educação pode beneficiar ou dificultar sua construção de acordo com o tipo de cultura que promove. Assim, a preocupação com o interesse da criança diante da matéria e da atividade escolar assume nova tonalidade, pois é expressão de sua preocupação tanto com a preservação da dimensão individual na sociedade massificada, quanto pelo repúdio a práticas antidemocráticas geradoras de sujeitos passivos e acostumados a tarefas não reflexivas. Por outro lado, cabe à escola levar o aluno a compreender-se como ser social, significando seu papel e suas ações em função dos fins da comunidade. Para Dewey, a centralidade do método pedagógico se dá porque meios são tão importantes quanto fins. A democracia não pode ser alcançada senão por meios democráticos: a escola, enquanto instituição social, não pode se furtar desse imperativo. / John Deweys (1859-1952) pedagogy is a key to comprehend changes in educational thought and practice throughout the 20th century. His propositions call in question the predominant traditional school model, shifting the child back to the center of the pedagogical process. Though well known for his contribution on Education, Dewey is present in philosophical discussions due to his wide thematic scope as well as for the analytical power of his ideas. Regarded as one of the pioneering American pragmatist, the philosopher laid effort on the most urgent political and social matters of his time: the ungoverned advance of capitalism puts at stake new challenges to mankind, as left and right-wing totalitarian systems emerge in Europe and Russia. Human emancipation, represented by democracy, is threatened in different ways. Dewey tackles this important issue in works that transcend the pedagogical field. The authors pedagogy seems to be better comprehended when contextualized by his concept of democratic society, stated in broad philosophical reflections. This dissertation clears out this conception through analytical readings of Individualism, Old and New and Freedom and Culture. The former brings out the differences between individuals and society, intensified by the prevalence of private interests over common well-being. Democracy emerges as a form of social organization which makes it possible to achieve balance between those two sides, guaranteeing both individual development and the search for social aims. The latter asserts that liberty and democracy shall be understood as moral choice, instead of as mens natural longing. Thus, Dewey understands the maintenance and expansion of democratic ideals as deliberately undertaken by human hands. A free society requires a free culture that, in its turn, can only exist through free social institutions. Having in mind these findings, some of his main pedagogical ideas from My Pedagogic Creed and Democracy and Education were revisited in this research. Firstly, the role of education is pointed out, as a social process in the formation of culture. If democracy is actually a choice, education can favor or hinder its construction according to the kind of culture it promotes. Hence, the concern for childrens interest on academic content and activities rises new implications, for it reveals an attempt to preserve the individual dimension in mass society, as well as to deny non-democratic procedures that form passive human beings, accustomed to non-reflexive tasks. On the other hand, it is the schools duty to help students understand themselves as social beings, making sense of their roles and actions on account of communal purposes. Dewey believed that pedagogical methods were important because means are as relevant as its ends. Democracy can only be reached through democratic means: school, as a social institution, cannot avoid such principle.
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Educação, sociedade e democracia no pensamento de John Dewey / Education, democracy and society in the works of John DeweyChristiane Coutheux Trindade 07 August 2009 (has links)
A pedagogia de John Dewey (1859-1952) é referência para compreender as alterações no pensamento e na prática do campo educacional do século XX. Suas propostas questionam o modelo escolar tradicional predominante na época, realocando a criança para o centro do processo pedagógico. Apesar de ilustre por suas contribuições à Educação, Dewey assegura seu lugar nas discussões filosóficas tanto pela amplitude temática de seu pensamento quanto pela riqueza analítica de suas ideias. Tido como um dos pioneiros do pragmatismo (ao lado de William James e C. S. Pierce), o filósofo se debruça sobre as mais prementes questões políticas e sociais de seu tempo: o avanço desenfreado do capitalismo lança uma série de novos desafios ao homem, ao mesmo tempo em que ascendem totalitarismos de esquerda e direita na Europa e na Rússia. O horizonte da emancipação humana, representado pela democracia, está sob ameaça de diferentes modos. Essa importante pauta recebe o tratamento de Dewey em escritos que transcendem as fronteiras pedagógicas. Entendemos que a pedagogia de John Dewey é melhor compreendida quando matizada pela concepção de sociedade democrática presente nessas reflexões filosóficas mais amplas. Com o intuito de delinear essa concepção, este trabalho partiu da leitura analítica de Velho e novo individualismo e Liberdade e Cultura. A primeira trata dos descompassos entre indivíduo e sociedade, acentuados diante da lógica capitalista de prevalência do interesse particular sobre o comum. A democracia aparece como forma de organização social que possibilita a harmonia desses lados, zelando tanto pela garantia do desenvolvimento do indivíduo quanto pela busca dos fins sociais. Já o segundo texto afirma que liberdade e democracia devem ser tomadas como aposta moral e não como fins naturalmente prezados pelo homem. A cultura, em interação com a natureza humana, é elemento formador de hábitos, disposições e valores. Com isso, Dewey coloca a manutenção e expansão dos ideais democráticos em mãos humanas enquanto missão que precisa ser deliberadamente empreendida. Uma sociedade livre exige uma cultura livre o que, por sua vez, só se dá pela existência de instituições sociais igualmente libertárias. Em função dessas descobertas, alguns dos principais pontos de sua reflexão pedagógica são repensados a partir de Meu credo pedagógico e Democracia e Educação. Em primeiro lugar, destacamos o papel da educação, enquanto processo social na formação da cultura da sociedade. Se a democracia é uma escolha, a educação pode beneficiar ou dificultar sua construção de acordo com o tipo de cultura que promove. Assim, a preocupação com o interesse da criança diante da matéria e da atividade escolar assume nova tonalidade, pois é expressão de sua preocupação tanto com a preservação da dimensão individual na sociedade massificada, quanto pelo repúdio a práticas antidemocráticas geradoras de sujeitos passivos e acostumados a tarefas não reflexivas. Por outro lado, cabe à escola levar o aluno a compreender-se como ser social, significando seu papel e suas ações em função dos fins da comunidade. Para Dewey, a centralidade do método pedagógico se dá porque meios são tão importantes quanto fins. A democracia não pode ser alcançada senão por meios democráticos: a escola, enquanto instituição social, não pode se furtar desse imperativo. / John Deweys (1859-1952) pedagogy is a key to comprehend changes in educational thought and practice throughout the 20th century. His propositions call in question the predominant traditional school model, shifting the child back to the center of the pedagogical process. Though well known for his contribution on Education, Dewey is present in philosophical discussions due to his wide thematic scope as well as for the analytical power of his ideas. Regarded as one of the pioneering American pragmatist, the philosopher laid effort on the most urgent political and social matters of his time: the ungoverned advance of capitalism puts at stake new challenges to mankind, as left and right-wing totalitarian systems emerge in Europe and Russia. Human emancipation, represented by democracy, is threatened in different ways. Dewey tackles this important issue in works that transcend the pedagogical field. The authors pedagogy seems to be better comprehended when contextualized by his concept of democratic society, stated in broad philosophical reflections. This dissertation clears out this conception through analytical readings of Individualism, Old and New and Freedom and Culture. The former brings out the differences between individuals and society, intensified by the prevalence of private interests over common well-being. Democracy emerges as a form of social organization which makes it possible to achieve balance between those two sides, guaranteeing both individual development and the search for social aims. The latter asserts that liberty and democracy shall be understood as moral choice, instead of as mens natural longing. Thus, Dewey understands the maintenance and expansion of democratic ideals as deliberately undertaken by human hands. A free society requires a free culture that, in its turn, can only exist through free social institutions. Having in mind these findings, some of his main pedagogical ideas from My Pedagogic Creed and Democracy and Education were revisited in this research. Firstly, the role of education is pointed out, as a social process in the formation of culture. If democracy is actually a choice, education can favor or hinder its construction according to the kind of culture it promotes. Hence, the concern for childrens interest on academic content and activities rises new implications, for it reveals an attempt to preserve the individual dimension in mass society, as well as to deny non-democratic procedures that form passive human beings, accustomed to non-reflexive tasks. On the other hand, it is the schools duty to help students understand themselves as social beings, making sense of their roles and actions on account of communal purposes. Dewey believed that pedagogical methods were important because means are as relevant as its ends. Democracy can only be reached through democratic means: school, as a social institution, cannot avoid such principle.
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O PROBLEMA DO MAL BANAL E AS SUAS NOVAS MANIFESTAÇÕES NO ENSINO DE HUMANIDADES E O COMPROMISSO ÉTICO-POLÍTICO DA EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZZanardi, Isis Moraes 05 July 2018 (has links)
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Previous issue date: 2018-07-05 / This paper discusses the importance of the teaching of Humanities and the implications of its abandonment, as an occurrence of new manifestations of atrocities. This is to show that the emptying of interest in teaching Humanities could affect the basic structure of the democratic society and the Constitution of a critical-reflective and ethical citizen-politician as well as culminating in an empty process of thought and inability to take responsibility for their actions. To do such, the methodology began in a review of the main works of Hannah Arendt (1906-1965) and other authors who address such issues. In order to analyze the gathered data, it was used as Laurence Bardin’s content analysis (2016) which aims to analyze data through a quali-quantitative method and later producing inferences about what is being analyzed, with the possibility of questioning and verifying wheter the data collected indicate what it proposes to investigate, that is, if the textbooks provided by the national plan of the Textbook (PNLD) are able, as educational support, to discuss the ciziten formation concepts and the human person in the disciplines of Philosophy, Sociology and History. This dissertation is organized from a theoretical framework upon the human formation, the inability of thinking and the teaching of Humanities. Initially, it examines the theme of human formation in relation to the inability of thinking, making considerations about the problem of evil in according to Hannah Arendt. From the analysis of the Origins of Totalitarianism, from 1951, and Eichmann in Jerusalem: a report on the banality of evil, from 1963, it is intended to reflect the mechanisms that produce numbness in the ability of thinking regarding the need of the human formation. With such analysis, it can be perceived that the problem of evil takes not only a radical bias, but also a possibility of a complete destruction of the human, caused by the inability to put oneself in the place of the Other, hence not seeing it as a means in itself, but only means to an end, that is, such problem transforms the human being in a superfluous one. The analysis Eichmann’s case, Arendt realized that the defendant acted banally, manifesting his inability to think, therefore, making possible the normalization of insensibility towards the different. The banality of evil implies the inability to think, a continuous threat to the human formation. The analysis of the textbooks were intended to introduce the discussion concerning the support given to students that while checking, were flawed when it comes to building the human being, as a being who needs and deserves a reflexive training, with the aim of avoiding the trivialization of evil, i.e., empty of thought and the inability to think and judge. Finally, moving towards the final considerations related to education as a process of formation in the political dimension, it is about transforming information in knowledge, and knowledge in wisdom so there won't be any noises in the formation of the integrity of the ethical-political commitment in the shaping of future citizens. / Este trabalho discute a importância do ensino de humanidades e as implicações do seu abandono, como ocorrência de novas manifestações de barbáries. Trata-se de mostrar que o esvaziamento do interesse pelo ensino das humanidades poderá afetar a estrutura basilar da sociedade democrática, a constituição de um cidadão crítico-reflexivo e ético-político e culminar com um processo de vazio de pensamento e incapacidade de responsabilizar-se por seus atos. A metodologia adotada partiu, inicialmente, de uma revisão bibliográfica das principais obras de Hannah Arendt (1906-1965) e de outros autores que versam sobre esta problemática, posteriormente, para tratar dos dados a serem analisados, foi utilizado como método a análise de conteúdo proposto por Laurence Bardin (2016), que visa analisar dados, por meio quali-quantitativo e possibilita inferências acerca do que está sendo analisado, com a possibilidade de questionamentos e verificar que os dados coletados indicam ou não o que se propunha a investigar, isto é, se os livros didáticos disponibilizados pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) estão aptos, como suporte educacional, para se discutir os conceitos formadores do cidadão e da pessoa humana nas disciplinas de Filosofia, Sociologia e História. A dissertação está organizada desde uma revisão teórica sobre a formação humana, a incapacidade de pensar e o ensino de humanidades. Inicialmente, examina-se o tema da formação humana conectado à incapacidade de pensar, tecendo considerações sobre o problema do mal no pensamento de Hannah Arendt. A partir da análise de Origens do Totalitarismo, de 1951, e de Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal, de 1963, pretende-se refletir acerca dos mecanismos que produzem o adormecimento da capacidade de pensar frente à necessidade da formação humana. Mediante essa análise, se perceberá que o problema do mal assume um viés não apenas radical, mas uma possibilidade de destruição completa do humano, proporcionado pela incapacidade de colocar-se no lugar do Outro e vê-lo não mais como um fim em si mesmo, mas apenas meios para um fim, ou seja, transforma o ser humano em um ser supérfluo. Na análise do caso Eichmann, Arendt percebeu que o réu agia banalmente, manifestando sua incapacidade de pensar, o que tornou possível a normalização da insensibilidade frente o diferente. A banalidade do mal implica na incapacidade de pensar, uma ameaça sempre constante à formação humana. As análises dos livros didáticos tiveram como intuito apresentar a discussão referente ao suporte dado aos educandos, que ao verificar, apresentaram-se falhos ao que se refere a construção do ser humano, enquanto um ser que precisa e merece uma formação reflexiva, com o objetivo de evitar a banalização do mal, ou seja, o vazio de pensamento e a incapacidade de pensar e julgar. Por fim, encaminha-se para as considerações finais que ao que compete a educação como processo de formação na dimensão política, trata-se de transformar as informações em conhecimento, e juntamente, conhecimento em sapiência, para que não ocorra ruídos na formação da integridade do compromisso ético-político na formação do futuro cidadão.
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