Este trabalho investiga se no Brasil o lugar social destinado pela sociedade às pessoas que possuem diagnósticos relativos à psicose é semelhante àquele que o poder soberano destina ao homo sacer. Para isso, o referencial teórico estudado baseia-se na pesquisa de Agamben sobre o homo sacer e na teoria psicanalítica da psicose, mas não de forma exaustiva, e sim recortando possíveis contribuições. Essas noções subsidiam toda discussão que vai dos primeiros entendimentos sobre loucura, atravessando o ideal de eugenia, até desembocar na reforma psiquiátrica e no Serviço de Residência Terapêutica SRT como contraponto à política manicomial. Já para a pesquisa de campo, a metodologia escolhida baseou-se numa pesquisa qualitativa, com o uso de entrevista semiestruturada e de diários de campo. Os participantes foram divididos em três perfis: moradores do SRT que são egressos de períodos de longa internação em hospitais psiquiátricos, com nosologia relativa à psicose; cuidadores do SRT; e técnicos de nível superior que atuam na área da saúde mental. A análise das entrevistas foi baseada na análise de conteúdo. Os resultados evidenciam que a história da loucura no Brasil foi marcada pela exclusão, mas que os acontecimentos do século XX evidenciaram que o psicótico deixa de estar apenas no lugar do excluído e é jogado no lugar do homo sacer. Simultaneamente ao psicótico como homo sacer está a figura do neurótico como sobrevivente, mas ambos vivem a insegurança de se afogarem no rio da biopolítica. Já as falas dos moradores, cuidadores e técnicos reconheceram o hospital psiquiátrico como um lugar onde as pessoas são abandonadas por todos para morrer: abandonadas pelas famílias, abandonadas pela equipe do hospital, abandonadas pelo poder público, abandonadas pela sociedade como um todo. Mais que um lugar de abandono, o hospital psiquiátrico era um lugar de morte. A este lugar de morte surgiu como contraponto uma saúde mental voltada para a inserção social e territorial das pessoas acometidas de transtornos mentais, e o SRT mostrou-se um importante equipamento para efetivar tais ações. Para os participantes, o SRT é tudo o que o hospital psiquiátrico não é: Enquanto o hospital leva as pessoas para longe da cidade, a residência traz de volta para ela. Enquanto o hospital aprisiona irresponsavelmente, a residência liberta responsavelmente. Enquanto nos hospitais existem pacientes internados, na residência existem moradores que participam da sociedade. Enquanto nos hospitais corpos são usados desrespeitosamente, na residência vidas são vividas dignamente / This work problematizes and investigates if in Brazil the social place destined by the society to the people that have diagnoses related to the psychosis is similar to the one that the sovereign power destines to homo sacer. For this, the theoretical framework studied is based on Agamben\'s research on homo sacer and on the psychoanalytic theory of psychosis, but not in an exhaustive way, but rather by cutting possible contributions. These notions subsidize any discussion that goes from the first understandings about madness, crossing the ideal of eugenics, until it ends in the psychiatric reform and the Service of Therapeutic Residence - STR - as a counterpoint to the asylum policy. For the field research, the chosen methodology was based on a qualitative research, with the use of semi-structured interviews and field diaries. Participants were divided into three profiles: residents of the STR who are graduates of periods of long stay in psychiatric hospitals, with nosology related to psychosis; STR caregivers; and higher education technicians who work in the area of mental health. The analysis of the interviews was based on content analysis. The results show that the history of madness in Brazil was marked by exclusion, but that the events of the twentieth century showed that the psychotic is no longer only in the place of the excluded and is played in the place of homo sacer. Simultaneously with the psychotic as homo sacer is the figure of the neurotic as survivor, but both live the insecurity of drowning in the river of biopolitics. The speeches of the residents, caregivers and technicians have recognized the psychiatric hospital as a place where people are abandoned by all to die: abandoned by the families, abandoned by the hospital staff, abandoned by the public power, abandoned by society as a whole. More than a place of abandonment, the psychiatric hospital was a place of death. To this place of death a mental health aimed at the social and territorial insertion of the people affected by mental disorders appeared as a counterpoint, and the STR proved to be an important equipment to carry out such actions. For participants, the STR is all that the psychiatric hospital is not: While the hospital takes people away from the city, the residence brings it back to it. While the hospital imprisons irresponsibly, the residence frees responsibly. While in hospitals there are hospitalized patients, in the residence there are residents who participate in society. While in hospitals bodies are used disrespectfully, in residence lives are lived worthily
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-23082018-152824 |
Date | 20 April 2018 |
Creators | Romulo Marcelo dos Santos Correia |
Contributors | Yvette Piha Lehman, Rubens de Camargo Ferreira Adorno, Eduardo Leal Cunha, Sylvia Leser de Mello, Marcelo Afonso Ribeiro |
Publisher | Universidade de São Paulo, Psicologia Social, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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