[pt] A narrativa literária abre a possibilidade tanto para o leitor, quanto para o
autor, de vivência de outras experiências, inimagináveis no cotidiano de ambos. A
imaginação entra em cena, e concede inúmeras possibilidades de significações
delimitando a especificidade do discurso ficcional literário, que se destaca de
outras formas discursivas por nele se estabelecer a tematização do imaginário. A
formação discursiva da obra literária é própria à literatura. Como discurso do
imaginário, devolve para o sujeito a diferença e não apenas o esperado. A partir
dessa premissa utilizo o romance de Rachel de Queiroz, O Quinze, como objeto
de análise. A autora irrealiza a seca de 1915 de maneira que ao seu leitor é dada
a possibilidade de ativação de um imaginário em que uma calamidade física atua
no indivíduo de tal forma que é capaz de lhe moldar ou de acentuar a firmeza de
seu caráter. Busca-se enfatizar a existência de um outro caminho para a realização
do trabalho historiográfico que tem como objeto obras ficcionais. Ressalta-se o
caráter não documental da literatura e o trabalho com a ficção a partir de sua
funcionalidade. Desse modo, não creio que se encontre identidades prontas em
uma obra literária. As personagens de um texto ficcional estão em permanente
processo de construção. São inacabadas, prontas a ser e a vir-a-ser sempre que
reclamadas no ato da leitura. A autora não forja uma identidade de nordestino.
Ela abre um campo onde não se encontra o nordestino, mas sim um sujeito que
passa por adversidades e que pode se tornar outro e vários. A realidade extratextual
da seca é irrealizada no romance, tornando possível a realização de um
imaginário sobre a seca e sobre esse sujeito nordestino. Assim, no texto,
experimentamos alteridades. / [en] The literary narrative certainly opens unimaginable possibilities for both,
reader and author, in their daily routines. The imagination enters the scene here
and conceives numerous possibilities of meanings, therefore restraining the
specificity of the fictional literary speech, which stands out for conceiving in its
form the imaginary theme. The formulation of the literary work is then concerned
to literature. As an imaginary speech it gives back the difference to the
individual (subject), and not just simple expectations. From this concept, the
present study takes Rachel de Queiroz’s novel, O Quinze, as an object of analysis.
The author does not realize the drought of 1915, therefore allowing the reader to
bring the imaginary into action in which the physical endurance and suffering act
on the individual, building up, or even affirming, his character. Our research
emphasizes on the existence of an alternate path for working the historiography
from the fictional books. In one hand, this study focuses the non-document
character of literature, an in other the possibility of working with a fictional book
from its functionality. From this perspective we do not intend to find full identities
in a literary work. The characters of a fictional work are constantly in build up
process. They are, therefore, unfinished, ready to be and to become recalled in the
act of reading. Rachel de Queiroz doesn’t create an identity for the typical inland
man called nordestino, but an individual who, going through rough situations,
could become another and various others. The drought reality beyond the written
text is not realized in the novel, but makes possible the realization of an imaginary
of the drought and of its inland individual, the nordestino. This way, in the text,
we experience alterity.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:15484 |
Date | 14 April 2010 |
Creators | SUELEN MARIA MARIANO DE SOUSA |
Contributors | FLAVIA MARIA SCHLEE EYLER |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
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