[pt] A presente dissertação busca contribuir para desvelar a racionalidade colonialista da guerra às drogas que tem orientado a política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro desde o fim do regime militar. Trata-se de uma pesquisa
com natureza teórica que mobiliza diferentes fontes: bibliográficas, estatísticas, legislativas e, ocasionalmente, jornalísticas. Sua base epistemológica é o conceito de necropolítica, entendido como centro gravitacional de uma reflexão mais ampla desenvolvida por Achille Mbembe sobre o mundo contemporâneo. Considerando o recorte temporal que vai de 1988 a 2018, demonstra-se que a guerra às drogas fluminense faz parte de uma engrenagem racista que, respaldada pela branquitude
e impulsionada pela violência estatal própria do neoliberalismo, perpetua sofisticadamente o processo secular de extermínio da população pobre e negra, moradora de favelas e periferias. Essa guerra move e legitima, nos territórios urbanos pauperizados, uma gestão governamental pelo terror, praticada mediante o rompimento de limites ao exercício do poder de matar, direta ou indiretamente, os corpos julgados descartáveis e hostis, inimigos do projeto civilizatório brasileiro, agora encampados na imagem racializada do traficante. A prisão e a vala são tomadas,
aqui, como duas expressões fundamentais dessa dinâmica genocida. Este trabalho
ainda ressalta a importância de um outro modo de lidar com a questão das drogas,
distinto do proibicionismo de guerra, sem deixar de lado a necessidade de uma crítica radical da própria lógica bélico-colonial que o sustenta, o que exige colocar na ordem do dia o questionamento tanto da hegemonia neoliberal quanto da conservação histórica de privilégios brancos no Brasil. / [en] This dissertation is aimed at unveiling the colonialist rationality of the war
on drugs that has informed public security policy in the state of Rio de Janeiro
since the end of the military regime. It is a theoretical study based on bibliographic,
statistical, legislative, and, occasionally, journalistic sources. Its epistemological
foundation is the concept of necropolitics, which Achille Mbembe developed as the
gravitational center of a more comprehensive reflection on the modern world. Considering the period between 1988 and 2018, we demonstrate that the war on drugs
in Rio de Janeiro is part of a racist mechanism that, backed by whiteness and propelled by the state violence typical of neoliberalism, sophisticatedly perpetuates the
secular process of extermination of the poor and black people who live in the favelas and outskirts. This war moves and legitimizes, in impoverished urban areas, a
governmental management through terror by exceeding the limits of power in order
to kill, directly or indirectly, bodies deemed disposable and hostile, enemies of
the Brazilian civilizing project, now embodied in the racially constructed image of
the drug dealer. Prison and mass grave are seen as two basic manifestations of
this genocidal dynamic in this context. This study further points to the importance
of another way to deal with the drug issue, one that is different from war prohibitionism, without leaving aside the necessity of a radical critique of the war-like
rationale that sustains it, which demands questioning both the neoliberal hegemony
and the historical preservation of white privilege in Brazil.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:62407 |
Date | 27 April 2023 |
Creators | MATHEUS GUIMARAES DE BARROS |
Contributors | MARIA SARAH DA SILVA TELLES |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
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