[pt] Na Crítica da Razão Prática (1788), Kant debruça-se sobre
o problema da
ética a fim de apresentar um enunciado capaz de
fundamentar e orientar a ação
humana. O imperativo categórico vem encarnar aquilo que é
o coração de uma
ética denominada por Kant de ética do dever, calcada na
razão e em uma vontade
dita pura, desvinculada de todas as inclinações chamadas
patológicas, ou seja,
desvinculada do prazer e da felicidade. Cerca de um século
depois, Freud, ao
afirmar que o eu não é senhor em sua própria morada, lança
o sujeito racional a
um lugar desconcertante, com um controle ínfimo sobre suas
ações e decisões.
Diferente de Kant, Freud não acredita que o sujeito está
inclinado ao prazer e à
felicidade. Aquilo que está além do Princípio do Prazer é
uma noção freudiana
fundamental, retomada por Lacan quando, em 1959, ele se
propõe a abordar, em
seu seminário de número sete, uma ética da psicanálise. A
vontade pura,
formulada por Kant para pensar a ética do dever, torna-se,
então, referência maior
para que Lacan aborde o que denomina de desejo puro.
Aproximando-se daquilo
que no sujeito aponta para além do princípio do prazer,
Lacan, em um movimento
inesperado, remete a proposta ética kantiana à filosofia
libertina de Sade, pois
acredita que Sade ajuda a explicitar a divisão do sujeito;
divisão presente, mas
velada em Kant. Aquilo que no sujeito aponta para além do
princípio do prazer é,
assim, fundamental para Lacan construir uma ética que
coloca o desejo em
primeiro plano. É também o que traz à ética da psicanálise
um sério problema,
uma vez que a remete a uma dimensão trágica. Antígona, de
Sófocles, serve a
Lacan para demonstrar aonde se pode chegar com o desejo
puro. / [en] In his Critique of Practical Reason (1788), Kant takes
onto himself the task of
working on the problem of ethics in order to present a
statement capable to base
and guide human action. The categorical imperative comes
to incarnate that which
is the heart of an ethics called by Kant the ethics of
duty, based on reason and on
an allegedly pure will, disentailed of all the so called
pathological inclinations, in
which the individual would find pleasure and happiness.
About a century later,
Freud, stating that the Ego is not the master of its own
house, throws the rational
subject in a baffling place, with very little control of
its action and decisions.
Unlike Kant, Freud does not believe that the subject is
inclined to pleasure and
happiness. That which is beyond the Pleasure Principle is
a basic Freudian notion,
retaken by Lacan in 1959, the seventh year of his
seminary, in order to deal with
the ethics of psychoanalysis. Pure will, formulated by
Kant to think the ethics of
duty, becomes, hence, a major reference in what Lacan
comes to call pure desire.
Coming close to that which in the subject seems to point
beyond the pleasure
principle, Lacan, in an unexpected movement, sends the
Kantian ethical
proposition to the libertine philosophy of Sade, believing
that Sade may help in
his attempt of explicitating the subject's division,
present yet veiled in Kant. That
which points beyond the pleasure principle is, thus,
fundamental for Lacan to
build an ethics that places desire in the foreground. It
is also what brings a serious
problem to the ethics of psychoanalysis: its tragic
dimension. Sophocles
Antigone helps Lacan to demonstrate what can one come to
when pure desire is
taken to its extreme.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:10694 |
Date | 05 October 2007 |
Creators | MARICIA AGUIAR CISCATO |
Contributors | VERA CRISTINA DE ANDRADE BUENO |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
Page generated in 0.0115 seconds