[pt] Neste estudo de fortes dimensões autoetnográficas (ADAMS; JONES; ELLIS, 2015), investigo o modo de vida ético-político-religioso-plural dos Candomblés (NASCIMENTO, 2016), tendo em conta as histórias elaboradas por mim e por minha Ialorixá (Mãe Simone de Jagun), ambos indivíduos negros, em diálogo sobre nossas vivências dentro e fora do Ilê Asè Jagùn Orùn Ayê, terreiro localizado no bairro de Cosmos (Zona Oeste do Rio de Janeiro). A partir de um olhar qualitativo-interpretativo para conversas reflexivas (MILLER, 2013) acerca de como balancear as diversas áreas da vida, de sermos felizes em nossas escolhas religiosas, de questões familiares, de Candomblé como formação de vida, dentre outros tópicos, busco: identificar quais marcas linguísticas avaliativas (THOMPSON; ALBA-JUEZ, 2014) perpassam nossas interações; conhecer quais emoções (REZENDE; COELHO, 2010) e quais crenças (BARCELOS, 2013) emergem durante esse processo narrativo-avaliativo e a que macrodiscursos, ligados às Cosmopercepções dos Candomblés (ou não), elas estão afiliadas (ou não); entender como esses macrodiscursos operam na construção plural e heterogênea da experiência nos Candomblés. Alinhado aos princípios da Linguística Aplicada Crítica (TANZI NETO, 2021) e da Pedagogia de Terreiro (OLIVEIRA; ALMIRANTE, 2017), conduzo a análise com base na visão performativa de linguagem e de narrativa (MELO; MOITA LOPES, 2014; MELO; ROCHA, 2015), através de três lâminas de observação apresentadas de maneira sobreposta (TEIXEIRA; BIAR, 2019). Na primeira delas, olho para a estrutura das narrativas e para seus principais movimentos retóricos; na segunda, miro o momento em que se narra, a ordem interacional, a dimensão situada em que as narrativas foram coproduzidas por nós; na terceira, opero em um nível mais macrolinguístico, mapeando os discursos e as normas sociais que fazem parte do contexto comunicacional sob escrutínio (BIAR; ORTON; BASTOS, 2021). Durante esse processo de pesquisa em que também procuro quebrar (meus) silêncios, recuperar (minhas) vozes perdidas e desnaturalizar por meio de (minhas) memórias vivas e potentes os efeitos das injustiças sociais sobre nossos corpos negros interseccionados por questões de raça, de gênero, de sexualidade, de classe social (MELO, 2021), entre outras, pude identificar nas nossas interações construções indicativas de uma relação solidária e respeitosa com as vozes, com as emoções, com as crenças e com as histórias de vida um do outro. Entre diversas produções afetivas de desequilíbrio na vida, de culpa no exercício da maternidade, de rejeição familiar e de felicidade nas práticas afrorreligiosas, denunciamos discursos racistas que mobilizam desvios existenciais acerca de nossas vivências nos Candomblés e ao mesmo tempo nos afiliamos a discursos que privilegiam uma trajetória de terreiro onde a diversidade e o cruzamento de diferentes perspectivas trazidas pelos sujeitos são fatores marcantes. / [en] In this study with strong autoethnographic dimensions (ADAMS; JONES; ELLIS, 2015), I investigate the ethical-political-religious-plural way of life of Candomblés (NASCIMENTO, 2016), taking into account the stories elaborated by me and by my Ialorixá (Mãe Simone de Jagun), both black individuals, in dialogue about our experiences inside and outside Ilê Asè Jagùn Orùn Ayê, our temple located in the neighborhood of Cosmos (West Zone of Rio de Janeiro). Through a qualitative-interpretative examination of reflective conversations (MILLER, 2013) about how to balance the various areas of life, about being happy in our religious choices, about family matters, about Candomblé as life learning, among other topics, I seek to: investigate the evaluative linguistic marks (THOMPSON; ALBA-JUEZ, 2014) in our interactions; recognize the emotions (REZENDE; COELHO, 2010) and the beliefs (BARCELOS, 2013) that emerge during this narrative-evaluative process and identify to which macrodiscourses, linked to the Cosmoperceptions of Candomblés (or not), they are affiliated (or not); understand how these macrodiscourses operate in the plural and heterogeneous construction of the experience in Candomblés. Aligned with the principles of Critical Applied Linguistics (TANZI NETO, 2021) and of Terreiro Pedagogy (OLIVEIRA; ALMIRANTE, 2017), I conduct the analysis based on the performative view of language and of narrative (MELO; MOITA LOPES, 2014; MELO; ROCHA, 2015), through three observational layers presented in an overlapping manner (TEIXEIRA; BIAR, 2019). In the first one, I look at the structure of the narratives and at their main rhetorical movements; in the second, I focus on the moment in which narration takes place, the interactional order, the situated dimension in which the narratives were coproduced by us; in the third, I operate at a more macrolinguistic level, mapping the discourses and the social norms that take part in the communicational context under scrutiny (BIAR; ORTON; BASTOS, 2021). During this research journey in which I also seek to break (my) silences, rediscover (my) lost voices and denaturalize, through (my) living and powerful memories, the effects of social injustices on our black bodies intersected by issues of race, gender, sexuality, social class (MELO, 2021), I could identify, in our interactions, constructions of a supportive and respectful relationship with each other s voices, emotions, beliefs and life stories. Among several affective productions of unbalance in life, guilt in the exercise of motherhood, family rejection and happiness in afro-religious practices, we denounced racist discourses that mobilize existential deviations of our experiences in Candomblés and, at the same time, we aligned ourselves with discourses that privilege a trajectory where diversity and different perspectives brought by individuals are outstanding factors.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:62997 |
Date | 23 June 2023 |
Creators | RENAN SILVA DA PIEDADE |
Contributors | ADRIANA NOGUEIRA ACCIOLY NOBREGA |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
Page generated in 0.0029 seconds