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[pt] A ONU E A OMS NO DIVÃ: O MOVIMENTO DE SECURITIZAÇÃO DO TRAUMA EM PROCESSOS DE RECONSTRUÇÃO DE ESTADOS PÓS-CONFLITO / [en] THE UN AND THE WHO ON THE COUCH: THE SECURITIZATION MOVEMENT OF TRAUMA IN POST CONFLICT PEACE-BUILDING PROCESSES

[pt] Essa tese tem por finalidade analisar o movimento de securitização do trauma promovido pela Organização das Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde dentro de processos de reconstrução de Estados em cenários de pósconflito étnico e religioso. Nosso argumento é o de que esse movimento se desenvolve de modo a interpretar o bem estar psicológico dos indivíduos sobreviventes como uma prioridade e o trauma como uma ameaça à consolidação de uma paz auto-sustentada nesses cenários. Nesses termos, o trauma é interpretado como uma doença mental que caracteriza os indivíduos sobreviventes como sujeitos vulneráveis e com dificuldades de administração de si mesmos e de reorganização de suas vidas. Essa condição demandaria a interferência dessas Organizações para ajudá-los a exercer o controle sobre suas emoções e a recuperar sua condição de cidadãos saudáveis e aptos ao exercício de sua cidadania. Essa interferência tem sido realizada em meio às diversas atividades de reconstrução de Estados voltadas para a promoção da reconciliação social e implementada por meio de programas de psicoterapia social que visam o tratamento e a cura dos traumas. Em termos teóricos, observamos a importância do estudo de práticas
discursivas em segurança através de uma leitura construtivista que, no entanto, busca recursos na sociologia política internacional para o entendimento mais abrangente de processos de securitização. Nosso entendimento é o de que a (in)securitização envolve não só o speech act - que enuncia uma política de
exceção - como também procura englobar um arcabouço analítico maior para a compreensão desse momento de exceção que está ligado à existência de uma rede transnacional de burocracias e agentes privados que atuam na administração dessa (in)segurança. Ainda, o suporte oferecido pela sociologia política internacional nos permite entender como se desenvolve um movimento de securitização que
toma o indivíduo como referente e que se consubstancia na busca de desenvolvimento de mecanismos de administração das emoções e dos comportamentos dos indivíduos para garantia de controle social em termos medicalizados. Nesse sentido, nosso argumento é o de que as sociedades ocidentais contemporâneas estão informadas por uma cultura terapêutica a qual conta com diversos atores e que integra os discursos da ONU e da OMS de modo a reforçar uma concepção de risco que interpreta os indivíduos como passivos e impotentes diante dos desafios do meio em que estão inseridos. Assim, através da metodologia da descrição crítica, procuramos demonstrar a lógica subjacente nos discursos da ONU e da OMS sobre saúde mental e trauma para apontar as contradições dentro desses discursos e entre esses discursos e as práticas psicossociais desenvolvidas nos ambientes de pós-conflito. O intuito final é o de observar que há a prevalência de uma concepção de saúde mental no discurso dessas organizações que privilegia um entendimento ocidental sobre a relação dos indivíduos com as emoções e a violência e que marginaliza ou silencia o papel dos valores culturais locais no processo de reconciliação social nessas comunidades. / [en] The aim of the present thesis is to investigate the securitization movement of
trauma promoted by the United Nations and the World Health Organization in
post conflict peace-building processes. Our claim is that this movement is
developed according to an interpretation that takes the psychological well being of
war survivors as a priority and that understands trauma as a threat to the
consolidation of a sustainable peace in post conflict scenarios. Trauma is thus
interpreted as a mental disease which characterizes war survivors as vulnerable
beings who cannot manage themselves and their own lives. This condition would
demand the intervention of UN and WHO to help them control their emotions and
recover their health in order to be able to function as good citizens. The
intervention has been done among the many peace-building activities which aim
the promotion of social reconciliation and is formalized via psychosocial
programs which search to treat and cure war traumas. Theoretically, we focus on
the importance of discourse practices in international security studies according to
constructivist lenses that are, nonetheless, supplemented by insights from
international political sociology which we find useful to promote an overall
understanding of securitization movements. In this sense, our claim is that
(in)securitization is related not only to the speech act that enunciate a politics of
exception but it also involves an expanded analytical framework that understands
the exception moment connected to a transnational bureaucracy network and
private agents which work at the management of the (in)security. Yet the
international political sociology offers important insights which allow the
comprehension of a securitization movement that takes the individual as a referent
and that develops mechanisms of management of emotions and behaviors as a
form of medicalized social control. Thus, our assertion is that contemporary
western societies are based on a therapy culture that is informed by many actors
and that permeates the UN and WHO discourses which reinforce a conception of
risk that interprets the individual subjects as passive and powerless towards their
daily challenges. Based on the critic description methodology, we seek to
demonstrate the underlying logic in the UN and WHO discourses about mental
health and trauma to highlight the contradictions inside them and between these
discourses and the psychosocial practices developed in post conflict scenarios.
Our final purpose is to point out the predominance of a conception of mental
health in the discourses of these Organizations that privileges a western
interpretation about the relation of the individuals with their emotions and
violence and that marginalizes or silences the role of local culture values in the
social reconciliation processes in these communities.

Identiferoai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:17458
Date16 May 2011
CreatorsRENATA BARBOSA FERREIRA
ContributorsMONICA HERZ, MONICA HERZ
PublisherMAXWELL
Source SetsPUC Rio
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
TypeTEXTO

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