[pt] Inserida no quadro teórico-metodológico da Análise de Narrativa (cf. Riessman, 1993, 2008), esta pesquisa de natureza qualitativa e interpretativista tem o objetivo de investigar a performance de pessoas com afasia na construção de histórias de AVC, buscando compreender como se dá a construção colaborativa da narrativa e como as narradoras se constroem discursivamente, constroem o outro e as realidades que as cercam, diante (através) dos episódios de AVC por elas narrados. O alinhamento à concepção de linguagem como um sistema simbólico social e culturalmente construído (cf. Schiffrin, 1994), bem como a interface entre estudos de narrativa canônicos (cf. Labov e Waletzky, 1967; Labov, 1982) e interacionais (Sacks, [1968] 1992; Jefferson, 1978; Norrick, 2007; Garcez, 2001), no entendimento da narrativa como uma construção social, cultural e interacional, constituem o pano de fundo das análises empreendidas. Juntamente compondo o alicerce desta pesquisa, sobressaem estudos sobre performance e indentidade, orientando o entendimento de que narrar não se restringe a organizar eventos passados em uma ordem temporal e causal, mas, sobretudo, implica em construções identitárias e de relações com o outro (cf. Bruner, 1990; Bastos, 1999, 2004, 2005, 2008). Subsidiadas pelos referidos arcabouços teóricos e metodológicos, contando com o instrumental analítico do estudo de Ochs e Capps (2001) e com aproximadamente 15 horas de gravações em vídeo de interações face a face entre pessoas com e se afasia em grupo focal, das quais foram extraídas três narrativas de AVC para análise, nas investigações realizadas, foi possível observar: i) o engajamento ativo das narradoras afásicas no trabalho interacional de encaixe da narrativa na atividade discursiva circundante, bem como a colaboração substancial e indispensável da co-narradora não afásica nesse encaixe; ii) o turno a turno da estruturação das narrativas como um empreendimento inter-acional; iii) as ações das co-narradoras dando corpo à narrativa e possibilitando a manutenção da intersubjetividade da interação em curso; iv) a estruturação das histórias como narrativas que atendem aos requisitos de ordenação temporal e causal; v) a relevância do trabalho colaborativo na formatação da linearidade das narrativas; vi) a expertise altamente performática das narradoras afásicas na seleção de recursos utilizados na construção da historiabilidade; e vii) os modos distintos que as três narradoras elegeram para se construírem, construírem o outro e a realidade, diante dos episódios de AVC por elas narrados. Os resultados desta pesquisa iluminam que o encaixe da narrativa na atividade circundante, o envolvimento de múltiplos narradores na narração, a linearidade das histórias, a historiabilidade e a emergência de diferentes posturas morais consistem em negociações delegadas aos participantes da interação (narradores primários e co-narradores), ao invés de serem imposições a priori do contexto local (discursivo) e sociocultural, o que ressalta a tese de que narrativas são construções do aqui e agora da interação. Ademais, o fato de as narradoras apresentarem afasia coloca ainda mais em evidência o caráter inter-acional e colaborativo da narração, dada a frequente penetração das ações do outro no curso da construção da narrativa. / [en] Once embedded in the Narrative Analysis theoretical-methodological framework (cf. Riessman, 1993, 2008), the current qualitative and interpretative research aims to investigate performances from people with aphasia, regarding stroke stories construction, in order to understand how narratives are built in collaborative ways and how storytellers construct identities for themselves and the others, and how they build surrounding realities, throughout stroke episodes they have reported. The assumption of the concept of language as a social and cultural symbolic system (cf. Schiffrin, 1994), the interface between studies on canonic narratives (cf. Labov and Waletzky, 1967; Labov, 1982) and interactional ones (Sacks, [1968] 1992; Jefferson, 1978; Norrick, 2007; Garcez, 2001), and the sense of narratives as a social, cultural and interactional construction, constitute the background of the undertaken analysis. Along with it, comprising the basis of the current research, studies on performance and identity are highlighted, guiding one to the understanding that story telling is not an act restricted to organizing past events in a temporal and causal order, but, above all, it applies identity and relationship construction (cf. Bruner, 1990; Bastos, 1999, 2004, 2005, 2008). Subsidized by the mentioned theoretical and methodological framework, counting on Ochs and Capps analytical tools (2001) and on approximately 15 hours of face to face interaction video recordings from people with and without aphasia in focal groups, from which 3 stroke narratives were extracted to be analyzed, the investigation led to the possibility of seeing: i) the active engagement of storytellers with aphasia to the interactional means of to embed narratives in surrounding discursive activities; ii) the turn to turn of narrative formation as an interactional enterprise; iii) co-storytellers actions to shape up the report, making it possible to keep a maintenance process over the ongoing interaction´s inter-subjectivity; iv) structuring stories as narratives that full fill temporal and causal organization requirements; v) the relevance of collaborative ways to the formation of narrative linearity; vi) storytellers with aphasia high performance expertise when selecting resources used to build tellability; and vii) distinct ways chosen by the three storytellers in order to construct themselves, others and reality, through stroke episodes they have reported. The current research outcomes show narratives embeddedness in surrounding discourse and social activity, the engagement of multiple storytellers to the narrative, linearity regarding stories, tellability and that different moral stances consist on interactional negotiations that participants are in charge of (primary storytellers and co-storytellers), instead of being an a priori imposition of local (discursive) and socio-cultural contexts. It highlights the theses that narratives are constructions related to here and now, throughout interaction processes. Besides, the fact that storytellers present aphasia underlines the interactional and collaborative features of storytelling, given the frequent penetration of somebody else´s actions in the course of narrative constructions.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:21848 |
Date | 08 August 2013 |
Creators | LÍVIA MIRANDA DE OLIVEIRA |
Contributors | LILIANA CABRAL BASTOS |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | TEXTO |
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