A presente tese tem como objetivo geral investigar, a partir de uma perspectiva sócio-histórica, 367 trabalhos artísticos produzidos por 26 crianças, nascidas entre 1926 e 1938, que estiveram confinadas no campo de concentração nazista de Terezín, na República Checa, durante a Segunda Guerra Mundial, visando levantar outras informações sobre o universo concentracionário, perdidas, esquecidas ou não tocadas pelos sobreviventes. Objetiva também investigar como contextos violentos foram assimilados por essas crianças e quais estratégias simbólicas e narrativas elas desenvolveram para tematizá-los por meio da arte. Busca estabelecer diálogo entre sua produção e as concepções estéticas e pedagógicas promovidas pela Arte Moderna, pelo Movimento Escola Nova, tendências em voga no período de pré-ocupação nazista, e por Friedl Dicker-Brandeis, professora que orientou os trabalhos no campo. Os procedimentos metodológicos adotados na realização da pesquisa foram seleção e leitura de fontes escritas e análise de fontes de outras naturezas, como entrevistas, filmes e documentários. Partimos da hipótese de que esses desenhos possuem teor e valor testemunhal, sendo um outro testemunho do Holocausto, um registro poético pautado na percepção da criança sobre os eventos e em sua forma muito particular de expressá-los. Partimos também do princípio de que esses trabalhos artísticos expressam as imagens de seus pensamentos, seus medos, lembranças, sonhos e esperanças. A análise se pautou na bibliografia de autores que se dedicaram a compreender como e por que a criança desenha, e que desenvolveram suas teorias no contexto da Arte Moderna, do Movimento Escola Nova e da contemporaneidade. A análise do corpus da pesquisa indicou a presença exígua de trabalhos com temas ligados a eventos insistentemente citados pelos sobreviventes ou registrados em seus diários. Por outro lado, indicou a existência de um grupo considerável de trabalhos pautados em memórias anteriores à guerra e de outros dois grupos que têm como tema o campo de Terezín. O primeiro apresenta formas mais simbólicas e subjetivas para figurar a experiência concentracionária, que perpassam lugares, pessoas, cenas observadas e diferentes modos de representação do campo. O segundo grupo apresenta um viés mais objetivo, representacional, ligado à transmissão da experiência assimilada prioritariamente pelo sentido da visão. Notamos também que representações do campo de Terezín não aparecem nos desenhos das crianças nascidas entre 1933 e 1938. Os resultados, de modo geral, ampliam nossa compreensão sobre os eventos e demonstram a contribuição da arte infantil para a construção de outras narrativas sobre o universo concentracionário. / This thesis has as main objective to investigate, from a socio-historical perspective, 367 artworks produced by 26 children, born between 1926 and 1938, which were confined at Terezín, a Nazi concentration camp, in the Czech Republic, during the Second World War, aiming to raise other information about the concentrationary universe, lost, forgotten or not touched by the survivors. It also aims to investigate how violent contexts were assimilated by these children and what symbolic and narrative strategies they have developed to thematize it through art. Seeks to establish dialogue between its production and the aesthetic and pedagogical concepts promoted by Modern Art, the New School Movement, trends in vogue in the Nazi pre-occupation period, and by Friedl Dicker- Brandeis, teacher who had supervised the artistic work in camp. The methodological procedures used in conducting the research were selection and reading of written sources and analyzing sources of other types, such as interviews, movies and documentaries. Our hypothesis is that these drawings have testimonial content and value, being another testimony of the Holocaust, a poetic record founded on the child\'s perception of the events and in his very particular way of expressing them. Also we assume that these artworks express the images of their thoughts, their fears, memories, hopes and dreams. The analysis was guided on the literature of authors who have dedicated themselves to understand how and why the child draws, and that developed theirs theories in the context of Modern Art, the New School Movement and the contemporary. The analysis of the research corpus indicated the meager presence of works with themes related to events repeatedly cited by survivors or recorded in their daily books. On the other hand, indicated the existence of a considerable group of work guided by memories of earlier the war and other two groups which have as subject the Terezín camp. The first presents more symbolic and subjective forms to figure the concentrationary experience that underlie places, people, observed scenes and different modes of representation of the field. The latter group presents a more objective bias, representational, connected to transmission of the experiment assimilated by the sense of sight. We also note that representations of Terezín camp does not appear in the drawings of children born between 1933 and 1938. The results, in general, expand our understanding of the events and demonstrate the contribution of child art for building other narratives about the concentrationary universe.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-09032016-145907 |
Date | 10 December 2015 |
Creators | Fernandes, Luciane Bonace Lopes |
Contributors | Iavelberg, Rosa |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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