Os primeiros anos do século XXI trouxeram uma nova configuração para a América Latina. Políticos de esquerda ascenderam ao poder e, ancorados em uma retórica que indicava rompimento com o modelo neoliberal vigente em décadas anteriores, priorizaram em seus planos de governo uma agenda voltada para direitos sociais, como educação e saúde. Com o objetivo de reduzir a desigualdade que assolava o continente, governos como os de Hugo Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia e Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil ampliaram e criaram programas sociais em diversas áreas. Uma vez que tais políticas tiveram êxito dentro de casa, passaram a ser vistas como um ativo a ser explorado na pauta de política externa e nas relações com seus vizinhos. Ao transpor elementos domésticos para a seara exterior, esses países confirmavam a sua legitimidade dentro e fora de casa, percebendo, assim, a tecnologia social como um meio de fazer influência, se fazer presente em outros países e também como um elemento importante em troca de apoio econômico ou mesmo político, dentro e fora de acordos de cooperação. Um dos principais exemplos desse tipo de cooperação internacional envolvendo política social pode ser ilustrado com o fornecimento de médicos cubanos para atuar em redes de saúde pública de outros países. Com prévia experiência em missões no exterior, Cuba forneceu profissionais de saúde para programas sociais na Venezuela, Bolívia e Brasil, que buscaram com eles suprir a carência de médicos em periferias urbanas e áreas de vulnerabilidade, aumentando o foco dado à atenção básica na saúde. Esse elemento (médicos cubanos em sistemas de saúde de outros países) é uma característica quer perpassa as três experiências e indica uma mudança conjuntural na região. Afinal, a carência de médicos em áreas vulneráveis não é algo novo. O que mostra a opção por importar tais profissionais como uma escolha mais ampla do que uma simples solução para sanar um problema pode ser, em boa parte, explicado pelo caráter ideológico que as relações entre esses países mostra carregar, indo além das motivações geográficas. Ao incluir o tema social na agenda de política externa, esses países passam a protagonizar um tipo de integração particular, denominado regionalismo. Este leva em conta elementos sociais e políticos, e não apenas aspectos econômicos e militares, tradicionalmente priorizados em outros modelos. Ainda que tal mecanismo esteja em desenvolvimento, este estudo mostra de que maneira a política social passou a ser pensada como instrumento de política externa especialmente em programas da Venezuela, da Bolívia e do Brasil. / The early years of the twenty-first century brought a new configuration for Latin America. Leftist politicians came to power and, anchored in a rhetoric indicating a rupture with the previous decades neoliberal model, prioritized an agenda focused on social rights such as education and health care. Aiming to reduce the profound inequality that has plagued the continent, governments like Hugo Chávezs in Venezuela, Evo Moraless in Bolivia and Luiz Inácio Lula da Silvas in Brazil expanded and created social programs in several areas. Since such policies were successful at home, they also came to be seen as an asset to be exploited in the foreign policy agenda and in relations with neighboring countries. In transposing some domestic elements to the foreign arena, these governments shored up their legitimacy inside and outside their own countries, and thus came to see social technology as a tool of influence, a means to assert a presence in other countries and an important element to exchange for economic or political support, inside and outside of cooperation agreements. A prime example of this type of international cooperation is the supply of Cuban doctors to work in public health networks in other countries. With prior experience in missions abroad due to natural disasters, Cuba has provided health care professionals to social programs in Venezuela, Bolivia and Brazil, whose governments sought to alleviate the shortage of doctors in underserved areas and increase the focus given to primary care. This element (Cuban doctors working in public health networks in other countries) appears in all three cases and indicates a significant change in the region. After all, the shortage of health workers in vulnerable areas is not new. It shows that the option of importing these professionals is more than a simple solution to a problem, and can be largely explained by ideological relations between these countries, going beyond geographical reasons. By including social issues in the foreign policy agenda, these countries demonstrate a particular type of integration, called regionalism, which takes into account social, cultural and political elements, not just the economic and military aspects traditionally prioritized in existing models. Although the model is still in development, this study shows how social policy is conceived as an instrument of foreign policy especially in health programs in Venezuela, Bolivia and Brazil.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-08042016-122331 |
Date | 26 January 2016 |
Creators | Marsílea Gombata |
Contributors | Rafael Antonio Duarte Villa, Gilberto Maringoni de Oliveira, Janina Onuki |
Publisher | Universidade de São Paulo, Ciência Política, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
Page generated in 0.0028 seconds