[pt] O trabalho que aqui se apresenta tem como objetivo restabelecer o diálogo de Deleuze com a psicanálise, outrora interrompido em Mil Platôs, a partir de uma interlocução entre a filosofia deleuziana e a psicanálise winnicottiana. Defendemos a tese de que o paradigma winnicottiano se constitui como uma “língua menor” dentro da própria psicanálise, que rompe com as limitações estabelecidas pelo campo psicanalítico ortodoxo. Visando dar corpo a tal proposta, o trabalho se de-senvolve a partir de três eixos principais: a) uma releitura do masoquismo e do sadismo que resolva os problemas apontados por Deleuze (e Guattari) na abordagem dessas assim nomeadas perver-sões, pela psicanálise tradicional. Para tanto mobilizamos a crítica de Winnicott à noção freudiana de pulsão de morte e uma desconstrução da própria noção de nor-malidade. Com isso visamos defender – apoiados em uma leitura conjunta dos três textos de Deleuze dedicados a Masoch, juntamente com a teoria da agressividade winnicottiana –, uma leitura positiva do masoquismo que o despatologize, compre-endendo-o como uma manifestação da criatividade na vida erótica; b) partindo de uma genealogia do complexo de Édipo, procuramos demons-trar como as críticas de Deleuze e Guattari são compatíveis com o paradigma ane-dipiano de Winnicott, onde localizamos uma proposta analítica que prescinde da noção que se apresenta como complexo nuclear das neuroses. Neste ínterim, par-tindo de uma abordagem da teoria do desenvolvimento emocional primitivo pre-sente em Winnicott, desenvolvemos o modo como o psicanalista inglês devolve a psicanálise à imanência, compreendendo a constituição da subjetividade a partir de um encontro singular entre os corpos da mãe e do bebê; e c) tendo em vista a insuficiência do paradigma edipiano, em consonância com as leituras de Deleuze e Winnicott, delineamos de que forma se configura a produção de subjetividade da modernidade até o momento atual. Partindo do pressuposto de que a produção de subjetividade não pode ser compreendida de modo apartado do contexto sociopolítico, defendemos que a psicanálise winnicottiana está em sintonia não apenas com as demandas do sujeito contemporâneo, mas também com a leitura de Deleuze acerca do modelo clínico mais adequado à abordagem de seus mal-estares. Nesse sentido, por meio de uma ponte entre os autores, mos-tramos como em ambos os pensamentos encontra-se um fazer clínico cujo foco se dá na dimensão experiencial, pautado no cuidado e afastado do modelo interpreta-tivo característico da hermenêutica psicanalítica tradicional. / [en] The work presented here aims to re-establish Deleuze s dialogue with psy-choanalysis, once interrupted in A Thousand Plateaus. Starting from a dialogue be-tween Deleuzian philosophy and Winnicottian psychoanalysis, we defend the thesis that the Winnicottian paradigm constitutes a minor language within psychoanal-ysis itself, which breaks with the limitations established by the orthodox psychoan-alytic field. With this in view, we develop three main axes:
a) a re-evaluation of masochism and sadism in order to solve the problems pointed out by Deleuze (and Guattari) in the approach of these so-called perver-sions, by traditional psychoanalysis. To do so, we mobilize Winnicott s critique of the Freudian notion of death drive and a deconstruction of the notion of normality itself. With that we aim to defend - supported by a joint reading of the three texts by Deleuze dedicated to Masoch, together with Winnicott s theory of aggressive-ness - a positive reading of masochism that depathologizes it, understanding it as a manifestation of creativity in the erotic life;
b) starting from a genealogy of the Oedipus complex, we seek to demon-strate how Deleuze and Guattari s critiques are compatible with Winnicott s anedi-pal paradigm, which contains an analytical proposal that dispenses with the notion presented as the nuclear complex of the neuroses. At the same time, based on an approach to Winnicott s theory of primitive emotional development, we describe how the English psychoanalyst brings psychoanalysis back to immanence, under-standing the constitution of subjectivity from a singular encounter between the mother s and the baby s bodies;
c) finally, considering the inadequacy of the oedipian paradigm, in conso-nance with Deleuze and Winnicott s readings, we delineate how the production of subjectivity is configured from Modernity to the present moment. Based on the assumption that the production of subjectivity cannot be understood apart from the sociopolitical context, we argue that Winnicottian psychoanalysis is in tune not only with the demands of the contemporary subject, but also with Deleuze s reading of the clinical model best suited to address their malaise. In this sense, by drawing a bridge between the authors, we show how in both of them we can find a clinical practice whose focus is on the experiential dimension, based on care and away from the interpretative model characteristic of traditional psychoanalytic hermeneutics.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:62967 |
Date | 22 June 2023 |
Creators | SIDHARTA MENDES MONTEIRO |
Contributors | DEBORAH DANOWSKI |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
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