Ao longo do tempo atribuiu-se a geração de valor econômico-financeiro às organizações empresariais atuantes no mercado das relações capitalistas e a geração de valor social às organizações do terceiro setor. Essa aparente dualidade vem sendo questionada no âmbito do empreendedorismo, provocando o surgimento do fenômeno do investimento de impacto como uma alternativa que possibilita a alocação de capital em iniciativas e empreendimentos, os chamados negócios sociais, que visam criar impacto social positivo acompanhado de retorno financeiro. A emergência de investidores e empreendedores de negócios sociais tem provocado polêmicas e reflexões acerca da avaliação de impacto, da taxa de retorno do investimento de impacto e também de conceitos essenciais para fundamentar as operações de investimento, como valor social e impacto socioambiental. Neste cenário, o presente trabalho teve como objetivo analisar as percepções dos diferentes grupos de atores do ecossistema brasileiro de negócios sociais e investimento de impacto sobre esses temas e sobre suas experiências no setor - desafios, oportunidades e aprendizados. Foi desenhada uma pesquisa exploratória de abordagem qualitativa, cujo problema de investigação foi o levantamento de opiniões, percepções e expectativas de representantes de três grupos de atores desse ecossistema: investidores interessados em negócios sociais; empreendedores e executivos de negócios sociais; e representantes de organizações intermediárias, como aceleradoras e fundos de investimento. A partir da construção de um referencial teórico e da análise de dados secundários sobre o fenômeno estudado, realizou-se o levantamento de dados primários aplicando-se um roteiro para entrevista semiestruturada em uma amostra intencional composta por dezoito pessoas. A análise das respostas evidenciou que há uma grande diversidade de entendimentos sobre o conceito de valor social e que alguns entrevistados tendem a usar esse termo como sinônimo de impacto social. A maioria dos entrevistados ressaltou elementos relacionados ao acesso à educação, aos serviços de saúde e aos direitos de cidadania. Mas nenhum se referiu à gestão de resíduos sólidos como elemento gerador de valor social. Talvez por se tratar de empreendimentos relativamente recentes, não foi possível identificar em que grau os investidores de impacto estão contribuindo para que esses negócios potencializem a geração de valor social aos beneficiários finais. No entanto, todos os negócios sociais que receberam investimento de impacto afirmaram que os investidores estão contribuindo para o desenvolvimento de seus negócios. Sobre a taxa de retorno do investimento, as opiniões dos entrevistados divergiram, mas a maioria deles entende que, no médio e longo prazo, as taxas de retorno deveriam seguir as taxas médias de mercado. A avaliação de impacto pré-investimento ainda é mais aproximativa do que baseada em indicadores de impacto social, porém todos os atores dos grupos de oferta de capital e demanda de capital que receberam investimento afirmaram que a geração de valor social é monitorada pelos investidores após o aporte de recursos. Os principais desafios apontados foram o acesso e o volume de capital, as restrições próprias do contexto econômico brasileiro e a imaturidade do setor. Todos consideram, porém, que o setor de negócios sociais e os investimentos de impacto têm futuro promissor no Brasil, seja pela necessidade de resolução dos inúmeros problemas sociais e ambientais, seja pelo tamanho do mercado de potenciais beneficiários dessas iniciativas. Nesse sentido, o presente trabalho espera contribuir para o avanço teórico e prático das questões e dilemas enfrentados pelo empreendedorismo social e pelo setor de investimento de impacto, bem como para fomentar o ecossistema brasileiro de Finanças Sociais. / Commonly, the creation of economic and financial value has been attributed to companies acting in the capitalist market relations while the creation of social value has been attributed to third sector organizations. This seeming duality is being questioned in the light of entrepreneurship, causing the emergence of the impact investing phenomenon as an alternative that allows capital to be allocated to initiatives and ventures, the so-called social businesses, which aim to create positive social impact together with financial returns. The rise of investors and entrepreneurs of social businesses has caused controversies and reflections about the impact evaluation, the rate of return for impact investments, and also the core concepts that support investment operations, such as social value and socio-environmental impact. In this scenario, this study aimed to analyze the perceptions of different groups of actors within the Brazilian social business and impact investing ecosystem related to these themes and their experiences in the sector - challenges, opportunities, and learnings. An exploratory research of qualitative approach has been designed, which research problem was a survey of opinions, perceptions and expectations of representatives of three groups of actors of this ecosystem: investors interested in social businesses; entrepreneurs and executives from social businesses; and representatives from intermediary organizations, such as accelerators and investment funds. Based on the construction of a theoretical framework and the analysis of secondary data on the studied phenomenon, a primary research has been conducted applying a script for semi-structured interview in an intentional sample of eighteen people. The analysis of the answers showed that there is a great diversity of understandings about the concept of social value and that some interviewees tend to use this term as a synonym for social impact. Most of the interviewees highlighted elements related to access to education, health services, and citizenship rights. But none of them referred to the solid waste management as a generator of social value. Perhaps because these are relatively recent ventures, it was not possible to identify the extent to which impact investors are contributing to the growth of social value creation to the final beneficiaries. However, all social businesses that received impact investments stated that investors are contributing to the development of their businesses. Regarding the rate of return on investment, the respondents\' opinions diverged, but most of them understood that, in the medium and long term, rates of return should follow average market rates. The pre-investment impact evaluation is still more approximate than based on social impact metrics, but all actors from the groups of investors and of social businesses which received investments stated that the generation of social value is monitored by investors after capital contribution. The main challenges are the access and volume of capital, the constraints of the Brazilian economic context, and the immaturity of the sector. However, all of them consider that the social business sector and impact investments have a promising future in Brazil, whether due to the need to solve the numerous social and environmental problems or due to the size of the market of potential beneficiaries of these initiatives. In this sense, this work hopes to contribute to the theoretical and practical advancement of the issues and dilemmas faced by the social entrepreneurship and the impact investment sector, as well as to foster the Brazilian Social Finance ecosystem.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-10112017-120551 |
Date | 20 September 2017 |
Creators | Carlos Eduardo Alvares Gonçalves |
Contributors | Rosa Maria Fischer, Edgard Elie Roger Barki, Graziella Maria Comini |
Publisher | Universidade de São Paulo, Mestrado Profissional Empreendedorismo, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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