A prática de preservação de bens móveis e imóveis como patrimônio cultural existe, de maneira institucionalizada no Brasil e na Argentina desde a década de 1930, vinculada a uma ideia de nacionalidade e de nação, a partir de uma origem comum a todos. As décadas de 1960 e 1970 ficaram marcadas pelos sucessivos golpes militares que levaram à implantação de ditaduras por toda a América Latina. A década de 1980, por outro lado, marcou o retorno da Democracia a muitos países, e com isso, a reivindicação por distintas memórias sobre os anos de terror que foram impostos às suas sociedades. O presente trabalho visa analisar, em perspectiva comparada, de que forma alguns edifícios simbólicos da ditadura civil militar de São Paulo e de Buenos Aires foram declarados patrimônio cultural de suas sociedades, como prática de reparação ou de reconhecimento de valores subjetivos intrínsecos àqueles lugares. Para tanto, foram estudadas as atuações do Condephaat e da Comisión para la Preservación del Patrimonio Histórico Cultural (CPPHC) na preservação dos prédios da Maria Antônia e do Presídio Tiradentes, no Brasil e do Club Atletico e do Olimpo, na Argentina. Em análise destacada, foram estudados os processos de tombamento do Antigo DOPS pelo Condephaat e da ESMA pela CNMMyLH, que tiveram suas reformas mais recentes examinadas em profundidade. Essa abordagem permitiu identificar se as reformas seguiram critérios técnicos preconizados em Cartas Patrimoniais, além de identificar como impactaram na conversão desses em memoriais que remetem a uma memória sobre a ditadura (a memória de pessoas diretamente atingidas pela violência dos órgãos de repressão), e, portanto, em sítios de consciência. Essa pesquisa aborda a questão da prática de preservação de memórias difíceis por parte desses órgãos e identifica alguns dos conflitos sociais que permearam tais processos. O patrimônio, entendido como portador de valores simbólicos que permeiam uma sociedade e, portanto, objeto de disputas, não é reflexo de um consenso, e a preservação desses locais é essencial para que o debate se mantenha na sociedade, estimulando reflexões sobre os sentidos do presente e as perspectivas para o futuro por meio do patrimônio cultural. / The practice of conservation of movable and immovable property as cultural heritage exists, as an official public policy, in Brazil and Argentina since the 1930s, associated with an idea of nationality and nation shared and recognized by all. The 1960s and 1970s were marked by successive military coups that led to the establishment of dictatorships throughout Latin America. The 1980s, by contrast, marked the return of democracy in several countries, and with it, the demand for the acknowledgement of memories that evoke the imposed terror for years on those societies. The present work aims to analyze, from a comparative perspective, how some symbolic buildings of the civil-military dictatorship period, situated in São Paulo and Buenos Aires, were declared cultural heritage in either country as a practical repair or recognition of those places intrinsic subjective values. For so, studies were carried on the experiences of Condephaat and Comisión para la Preservación del Património Histórico Cultural (CPPHC) on the preservation of the Maria Antonia and the Presidio Tiradentes buildings in Brazil, and the Club Atletico and the Club Olimpo in Argentina, respectively. Furthermore, the process of heritage listing of the Antigo DOPS by Condephaat and the ESMA by Comisión Nacional de Museos y Monumentos y Lugares Históricos (CNMMyLH) were thoroughly analyzed as well as their latest physical interventions. This approach led to a scrutiny whether reforms followed technical criteria recommended by the International Heritage Charters, and its impacts on the conversion to memorials that recall memories of the dictatorship (those of the people directly affected by the violence of enforcement agencies), and therefore into sites of consciousness. This research addresses the difficult practice of preserving memories by those institutions and identifies some of the conflicts in these processes. The cultural heritage, having symbolic values that permeate a society, which therefore turns it into object of disputes, is not the reflection of a consensus. The preservation of these sites is essential to maintain the debate in society, stimulating considerations on the meanings of the present and prospects for the future through cultural heritage.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-27062014-120128 |
Date | 14 April 2014 |
Creators | Deborah Regina Leal Neves |
Contributors | Maria Helena Rolim Capelato, Silvana Barbosa Rubino, Mario Augusto Medeiros da Silva |
Publisher | Universidade de São Paulo, História Social, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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