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Previous issue date: 2012 / Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Fernandes Figueira. Departamento de Ensino. Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. / O envelhecimento é um processo universal e o crescimento da população idosa
tem chamado a atenção de diferentes setores da sociedade com repercussões
sócio-econômicas em nível individual e coletivo. No Brasil, onde os dados
censitários revelam uma crescente urbanização do país e um componente de
mulheres idosas cada vez maiores em relação aos homens, esse estudo propôs a
abordar os processos do envelhecimento das mulheres em dois campos de
discussão: o envelhecimento na perspectiva de gênero e a condição rural. O
estudo não tem a pretensão do produzir uma analise cultural totalizante, mas de
conhecer e registrar as histórias dessas idosas, num contexto rural, muitas vezes
esquecido-se da sociedade e do poder público. A metodologia utilizada foi a
etnografia, ou seja, fui viver, conviver e registrar os fatos do cotidiano e seus
significados através da reinterpretação de 27 idosas com idades acima de
sessenta anos até 92 anos. Através de observações participantes, participantes
observações, entrevistas, grupos de “causos”, pude tomar ciência de que, embora
pareça uma tendência da sociedade atual homogeneizar os espaços geográficos
descaracterizando-os de suas referências naturais, e (re) caracterizando-os com
referências produtivas e econômicas, as culturas locais permanecem. O Distrito de
Caratinga, denominado Dom Modesto onde o trabalho etnográfico foi realizado,
mantém suas particularidades e muitas vezes pude senti-las como um processo
contra-hegemônico das tendências massificantes: trata-se de um espaço bastante
fechado e com seus códigos próprios. Em muitos momentos senti-me excluída,
não por ser uma pesquisadora, mas por não ser nativa: foi difícil o processo de
imersão nesse terreno distante de minha vida social. Lá, as terras são vendidas
entre os familiares. Como em toda a sociedade, o contexto estudado possui uma
estratificação social e geográfica, as fazendeiras idosas moram nos Córregos e as
ex-ajudantes ou meeiras, no núcleo do Distrito (vila). Todas as idosas participantes
professam o catolicismo. Pude comparar suas histórias com o que diz o meu
acervo bibliográfico, e dentro do contexto estudado, encontrei certas idosas como
verdadeiras protagonistas de algumas obras literárias. Observei a quase
inexistência das grades etárias e os acontecimentos demarcados por elas como
uma linha da vida quase seqüencial. Pude visualizar e rever traços de paradigmas
da Antiguidade que ainda persistem em imutável e infindável repetição e
desigualdades perenes e naturalizadas da divisão sexual do trabalho tanto nos
processos de produção como de reprodução dessas mulheres rurais. Pude ver um
rural decadente na monocultura do café e o seu renascimento na horticultura
familiar. Mas pude constatar também que as idosas participantes estão todas
ativas, não com o vigor da juventude, mas cada uma com sua particularidade e em
seu tempo, não se consideram velhas. Os vocábulos “idoso” e “terceira idade”
nesse contexto não são muito reconhecidos, pois são palavras utilizadas pelo povo
da rua[cidade]. Já o termo “véia [velha]” não é visto como uma conotação
pejorativa e sim como uma etapa natural da vida. As construções e reconstruções
sociais, a todo o momento estiveram presentes nesse estudo, numa circularidade
dinâmica em que as idosas não temem e nem vêem a morte como um fim, mas
como uma passagem. Mas nem por isso a desejam. Esperam e pedem a Deus
mais alguns anos de vida, porém com independência e autonomia, pois sua perda
sim, é considerada a morte em vida. / Growing old is a universal process and the increase of the elderly population
has caught the attention of different areas of society with socioeconomic
repercussions on an individual and collective level. In Brazil, where census data
reveal a growing urbanization in the country and a bigger proportion of elderly
women over men, this study proposes to approach the process of growing old
for women in two fields of discussion: the aging process in a perspective of
genre and rural condition. The study does not have the ambition of producing a
totalizing cultural analysis, but to know and register the history of these elderly
women, in a rural context, often forgotten by the society and the government.
The methodology used was ethnography, which means I lived and registered
the facts of their daily life and their meaning through the interpretations of 27
elderly women ranging from 60 years old to 92. Through participatory
observation, interviews and groups, I became aware that, although it seems like
a tendency of today’s society to homogenize the geographic spaces, depriving
them of their natural references and characterizing them with productive and
economic references, the local culture prevails. The District of Caratinga, called
Dom Modesto where the ethnographic research was done, keeps its
particularities and I could feel them several times as a counter-hegemonic of the
massifying tendencies: it is a closed off space with its own codes. During
several moments, I felt left out, not for being a researcher, but for not being a
native: the immersion process was hard in this place so distant from my social
life. There, the land is sold among family members. As throughout society, the
context studied has a social and geographic stratification, the elderly female
farmers live in the Córregos and the ex-helpers in the village. Every elderly
woman participating is catholic. I could compare their stories with my
bibliographic collection and, within the context being studied, I found certain
ladies like real heroes of some of the literary works. I observed a near
inexistence of age groups and the events marked by them are almost like a
sequential life line. I could see traces of an ancient era that still prevails in
unchangeable and endless repetition, and enduring and naturalized inequalities
of work gender division in both reproduction and production processes with
these rural women. I could see a countryside lacking in coffee monoculture and
its rebirth in homegrown horticulture. However, I could also see that these
elderly ladies are all active; maybe not with the energy of youth, but each one
with their own particularity and time, they don’t consider themselves old. The
terms “elderly” and “seniors” in this context are not really recognized because
they are generally used by people in the city. The term “véia” (oldie) is not seen
with a pejorative connotation, but as a natural phase in life. The social
constructions and reconstructions have been present at all times in this study, in
a dynamic circularity in which the elderly women don’t fear nor see death as an
end, but as a passage. But that doesn’t mean they wish for it. They hope and
ask God for a few more years of life, but with independence and autonomy, for
their loss is considered death in life.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:www.arca.fiocruz.br:icict/8038 |
Date | January 2012 |
Creators | Kullok, Alcione Tavora |
Contributors | Minayo, Maria Cecília de Souza |
Publisher | Instituto Fernandes Figueira |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Repositório Institucional da FIOCRUZ, instname:Fundação Oswaldo Cruz, instacron:FIOCRUZ |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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