[pt] O movimento Escola sem Partido (EsP), fundado em 2004 com um
ideário contrário ao que chama de doutrinação esquerdista e comunista nas escolas
do país, ganhou visibilidade no debate educacional em 2014, ao incorporar o
combate à suposta ideologia de gênero. O EsP se desenvolveu numa conjuntura
sócio-política de reação à conquista de direitos e ao avanço de políticas públicas
sensíveis aos movimentos sociais e as camadas mais pobres das sociedades, no
contexto do que vem sendo chamado de neoconservadorismo brasileiro. O
movimento se aproximou da direita cristã e fez parte da campanha de Jair Bolsonaro
à presidência. Esta pesquisa teve como objetivo investigar as narrativas do EsP
acerca do ensino de História, sobretudo aquelas relacionadas às diferenças humanas
no tempo (religião, diferenças étnico-raciais, relações de gênero e sexualidades).
Partimos do pressuposto que a disciplina de História ocupa espaço profícuo na
produção de sujeitos e que, desde a década de 1990, vem sendo interpelada por
movimentos sociais que visam incluir novos sujeitos, histórias, lugares e
temporalidades na construção da ideia de nação e na produção de subjetividades.
Em relação à metodologia, buscamos as publicações disponíveis no site do Escola
sem Partido que abordam a disciplina acadêmica e/ou escolar de História e suas
relações com as diferenças. Dessa maneira, foram selecionadas e analisadas em seu
conteúdo 61 publicações que discutiam diferentes religiosidades, relações étnicoraciais e de gênero, sexualidades e no passado. Os resultados mostram que estas
publicações: 1) se colocam, majoritariamente, contra práticas docentes, livros
didáticos, faculdades e concursos em torno da disciplina de História; 2) criticam o
que consideram ser uma hegemonia do marxismo na História; 3) defendem a Igreja
Católica em temporalidades como as das Cruzadas e da Inquisição, e os cristãos,
especialmente os jesuítas no processo de colonização; 4) buscam afastar a Igreja
Católica das experiências de escravidão; 5) apresentam tom moralizante ao
representar as mulheres, assim como a construção de uma teoria que, contra a
noção de gênero, se fixa no biológico como meio de interpretar os papéis de homens
e mulheres no passado, no presente e para o futuro. Em conclusão, as narrativas
compiladas no site manifestam o caráter reativo do neoconservadorismo brasileiro,
de forte viés moralista, tradicional, cristão, heteronormativo e opositor às demandas
de mulheres, negros e LGBTQIA mais. A disciplina escolar de História é um de seus
alvos, demonstrando a sua relevância para a construção e defesa de conhecimentos
e valores que reforçam a autoridade de grupos historicamente dominantes na
sociedade brasileira. / [en] The Unpartisan School movement (Escola sem Partido, EsP)
movement, founded in 2004 with an ideology contrary to what it calls leftist and
communist indoctrination in the country s schools, gained visibility in the
educational debate in 2014, by incorporating the fight against the supposed gender
ideology. The EsP grew in a socio-political context of reaction to the conquest
of rights and the advancement of public policies sensitive to social movements and
the poorest strata of societies, in the context of what has been called Brazilian
neoconservatism. The movement approached the Christian right and was part of
Jair Bolsonaro s presidential campaign. This research aimed to investigate the
EsP narratives about the teaching of History, especially those related to human
differences in time (religion, ethnic-racial differences, gender relations and
sexualities). We start from the assumption that the discipline of History occupies a
fruitful space in the production of subjects and that, since the 1990s, it has been
questioned by social movements that aim to include new subjects, histories, places,
and temporalities in the construction of the idea of nation and in the production of
subjectivities. Regarding the methodology, we searched for publications available
on the EsP website that address the academic and/or school discipline of History
and its relations with differences. In this way, 61 publications were selected and
analyzed in their content that discussed different religiosities, ethnic-racial and
gender relations, sexualities and in the past. The results show that these
publications: 1) are mostly opposed to teaching practices, textbooks, faculties and
competitions around the discipline of History; 2) criticize what they consider to be
a hegemony of Marxism in History; 3) defend the Catholic Church in temporalities
such as the Crusades and the Inquisition, and the Christians, especially the Jesuits
in the colonization process; 4) seek to distance the Catholic Church from the
experiences of slavery; 5) present a moralizing tone when representing women, as
well as the construction of a theory that, against the notion of gender, is fixed on
the biological as a means of interpreting the roles of men and women in the past,
present and for the future. In conclusion, the narratives compiled on the website
manifest the reactive character of Brazilian neoconservatism, with a strong
moralist, traditional, Christian, heteronormative bias and opposing the demands of
women, blacks and LGBTQIA plus. The school subject of History is one of its targets,
demonstrating its relevance for the construction and defense of knowledge and
values that reinforce the authority of historically dominant groups in Brazilian
society.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:58176 |
Date | 22 March 2022 |
Creators | CAIO MATHEUS DE FREITAS GARCIA |
Contributors | PEDRO PINHEIRO TEIXEIRA, PEDRO PINHEIRO TEIXEIRA, PEDRO PINHEIRO TEIXEIRA |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
Page generated in 0.0032 seconds