O estudo do nacionalismo como conceito e como prática política mostra que não se pode atribuir ao termo um significado unívoco. De fato, alguns autores procuraram ressaltar que o nacionalismo potencialmente cumpria um papel muito diferente nas periferias do Sistema Mundial, quando não oposto, ao que se verificava com maior frequência nos países centrais. Na América Latina e no Brasil, o nacionalismo só foi articulado de modo coerente nas primeiras décadas do século XX. Antes disso, em sua notação moderna, não se observou nenhuma tentativa de articulação desse tipo em sociedades que reproduziam, em larga medida, os esquemas herdados do colonialismo. O nacionalismo foi articulado de modo coerente na região quando esteve teórica ou politicamente ligado a um programa que visava integrar as parcelas majoritárias da população, historicamente excluídas, ao país. Essa tarefa foi vista como o passo essencial para, de fato, criar a nação e, por essa via, se observava uma forte articulação do nacionalismo com o anti-imperialismo. Por outro lado, o nacionalismo de matriz conservadora demonstrava pouca capacidade de sustentar de modo consequente os elementos que caracterizavam o que o nacionalismo poderia ser em países coloniais e ex-coloniais ou periféricos. Essa incapacidade se dava geralmente porque tais forças sociais conservadoras não podiam assumir compromissos mais amplos de integração, em função de seu caráter eminentemente antipopular. Assim, o nacionalismo assumia com frequência a face do ufanismo vazio e patrioteiro, ou o melindre com questões pontuais irrelevantes, ou ainda a mera utilização política de um conceito com ampla repercussão popular. Politicamente, a América Latina viveu seus ciclos nacionalistas por meio de governos policlassistas, com grande relevância de lideranças carismáticas que realizaram parcialmente as tarefas de integração e construção nacional em seus países. A tentativa de desqualificar essa experiência pela via do populismo parte de pressuposições teóricas esquemáticas e inadequadas que empobrecem a compreensão do processo histórico e político desses países. A atualidade, a relevância e o resgate contemporâneos do nacionalismo como teoria e como prática política passam pela busca de uma revisão profunda da ortodoxia epistemológica que se consolidou através de uma ótica eurocêntrica, cientificista e esquemática constituída no século XIX. Nos dias de hoje, o laboratório latino-americano do nacionalismo pode potencialmente assumir uma nova face, ao realizar sua mais antiga tradição e vocação, aquela que remete a um nacionalismo integracionista, de cunho regional, isto é, um nacionalismo internacionalista. / The study of nationalism as a concept and as a political practice shows that no univocal meaning can be attached to the term. In fact, some authors argue that nationalism possibly played a very different, if not opposite, role in the peripheries of the World System from what was often observed in central countries. In Latin America and Brazil, nationalism had not been articulated in a consistent manner until the first decades of the twentieth century. Prior to that, no attempts for such articulation were observed under its modern definition in societies that largely reproduced the schemes inherited from colonialism. Nationalism has been consistently articulated in the region when theoretically or politically linked to a program aimed at integrating the major sectors of the population, which had been historically excluded, into the country. This task was viewed as the essential step for the true creation of the nation and, through this way, nationalism was strongly linked to anti-imperialism. Conversely, the nationalism of conservative matrix showed little capacity to support, in a consistent manner, the elements that characterized what nationalism could be in colonial and ex-colonial or peripheral countries. This incapacity usually stemmed from the fact that such conservative social forces could not take on broader integration commitments due to their decidedly antipopular character. Thus, nationalism would often take on the face of the shallow, flag-waving jingoism, or grudges with specific irrelevant issues, or the mere political use of a concept of wide popular impact. Politically, Latin America experienced its nationalist cycles via cross-class governments that relied heavily on charismatic leaders who partly fulfilled the integration and nation-building tasks in their countries. The attempt to discredit this experience of populism stems from schematic and inadequate theoretical assumptions that undermine the understanding of the historical and political process in these countries. The current relevance and rescue of nationalism as a theory and as a political practice depend on a thorough review of the epistemological orthodoxy that was consolidated through a Eurocentric, scientistic, and schematic view originated in the nineteenth century. Today, the Latin-American laboratory of nationalism can potentially take on a new face to fulfill its ancient tradition and vocation, one that harks back to an integrationist nationalism of regional nature, i.e., internationalist nationalism.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/urn:repox.ist.utl.pt:UERJ:oai:www.bdtd.uerj.br:5866 |
Date | 11 September 2009 |
Creators | Rafael Affonso de Miranda Alonso |
Contributors | Oswaldo Munteal Filho, Maria Emilia da Costa Prado, Maria Teresa Toríbio Brittes Lemos, Emir Simão Sader, Luiz Eduardo Pereira da Motta, Carlos Eduardo da Rosa Martins |
Publisher | Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em História, UERJ, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | 1 E REF, application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ, instname:Universidade do Estado do Rio de Janeiro, instacron:UERJ |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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