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Reconhecer-se diferente é a condição de entrada : tornar-se igual é a estratégia de permanência: das práticas institucionais à constituição de estudantes cotistas negros na UFRGS

A presente investigação objetiva analisar como as práticas institucionais postas em funcionamento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vêm operando na inclusão dos estudantes autodeclarados negros, nela ingressantes através do Programa de Ações Afirmativas, e quais os efeitos dessas práticas na constituição dos estudantes. Para tanto esta dissertação apresenta um estudo qualitativo na perspectiva dos Estudos Culturais em Educação em sua vertente pós-estruturalista, selecionando algumas ferramentas analíticas tais como as noções de identidade, diferença e in/exclusão. Também analisa práticas institucionais através de mapeamento de projetos acadêmicos, de registros em diário de campo e de entrevistas realizadas com estudantes, gestores e professores coordenadores de curso. A partir dos temas que emergiam do material empírico, três unidades analíticas são construídas, chegando-se às seguintes contribuições para pensar a Universidade, hoje, e os movimentos inclusivos nesse espaço. A primeira unidade – Tornar-se igual para permanecer na Universidade – apresenta que, mesmo sendo necessário o estudante reconher-se como diferente para ingressar através da política de reserva de vagas, a condição para permanecer e ter sucesso na Universidade depende de um esforço constante para tornar-se igual. Tal processo ocorre através de mecanismos de normalização que posicionam os sujeitos em um gradiente de in/exclusão. A segunda unidade – (Des) encaixe: a UFRGS não é pra mim! ou Das (im) possibilidades de estar na UFRGS – mostra que práticas de in/exclusão, ao gerarem fronteiras que posicionam socialmente os sujeitos, levam muitas vezes os estudantes a sentirem-se “fora de lugar”, ao mesmo tempo em que querem pertencer a esse espaço. Com dificuldades de se encaixarem ao perfil exigido, os estudantes que ingressam por uma política que se pretende inclusiva vivenciam ao mesmo tempo processos de exclusão. Além disso, a ausência de ações efetivas que visem à promoção de outras formas de permanência voltadas para esses novos sujeitos acadêmicos pode indicar a existência de algumas práticas de racismo institucional. A terceira unidade – Rachaduras/frestas/fissuras: provocando outros modos de ser da Universidade e de o aluno estar aqui – apresenta práticas institucionais que, pautadas na abertura para a conversa e na tentativa de novas metodologias de ensino-aprendizagem, podem, ao tensionar as disposições de poder, promover rupturas nos modos de ser da Universidade e de se estar nela. Ao se relacionarem de outra forma com os tempos e espaços acadêmicos, os estudantes exercem práticas de resistência que também desacomodam o modus operandi da UFRGS. Parecem residir nessas práticas as principais potências transformadoras das ações afirmativas na Universidade. / This paper aims to analyze how current institutional practices of the Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) operate in the enrollment of students self-declared as black through the Affirmative Action Program, and how these practices are affecting the student constitution. This thesis presents a qualitative study using a Cultural Studies perspective on Education from its post-structuralist branch and implements analytic tools such as the notions of identity, difference and in/exclusion. It also analysis institutional practices through mapping college projects, data from a field diary and interviews conducted with students, managers and coordinating professors of two majors. Based on the empirical data, three analytical segments are suggested about the college and its movement toward inclusion. The first segment – Tornar-se igual para permanecer na Universidade [To become equal to remain at UFRGS] – suggests that students can be more successful when they recognize themselves as different and are constantly struggling to be equal. Such a process occurs through normalizing mechanisms that position the subjects in a scenario of in/exclusion. The second segment – (Des) encaixe: a UFRGS não é pra mim! ou Das (im) possibilidades de estar na UFRGS [(Un-) conformity: UFRGS is not for me! or On the (im-) possibilities of being at UFRGS] – shows that social barriers and practices of in/exclusion can make students feel out of place. Students who enter the college through these inclusive policies can actually experience exclusion and feel different as a result of these policies. Beyond this, there may be evidence of institutional racism in the lack of effective programs to promote student retention among these new higher education students. The third segment – Rachaduras/frestas/fissuras: provocando outros modos de ser da Universidade e de o aluno estar aqui [Chaps/gaps/fissures: provoking different ways of being UFRGS and different ways of students being at it] – suggests new methodologies of teaching and learning which can influence the students' experience at college, related to dynamics of power and privilege. When the students relate differently to the college environment and schedule, they practice forms of resistance that disturb the college's modus operandi. Perhaps the main transforming power of the affirmative action policies at UFRGS is contained within these subtle forms of student resistance.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume56.ufrgs.br:10183/37379
Date January 2011
CreatorsDoebber, Michele Barcelos
ContributorsTraversini, Clarice Salete
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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