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A ordem das disciplinas

Esta Tese apresenta um estudo sobre a disciplinaridade, principalmente em relação ao que denomino eixo corporal das disciplinas. O trabalho desenvolve-se a partir de uma perspectiva foucaultiana e compreende dois momentos. No primeiro momento, inspirado na arqueologia de Michel Foucault, faço uma leitura dos discursos contradisciplinares que se articulam ao longo das últimas três décadas em nosso País. Aí identifico e descrevo duas séries discursivas — uma família de acento epistemológico e outra de acento pedagógico. A primeira funciona como sustentação argumentativa da segunda, pelo menos quando essa última irrompeu nos anos setenta. Em ambos os casos identifico alguns topoi que revelam o compromisso iluminista desses discursos, e procuro assinalar as continuidades e as rupturas de série para série. Nessa leitura arqueológica, ainda descrevo mais alguns discursos que, mesmo marcando descompassos e contrapontos, se situam bastante juntos às duas primeiras famílias. Além desses, há outros discursos, talvez ainda meio dispersos, que se colocam claramente em dissonância e na contramão de tudo isso. Fazendo uma ponte entre o primeiro e o segundo momento, discuto as razões por que adoto uma perspectiva foucaultiana e os problemas metodológicos que advêm dessa escolha. Para isso, faço um apanhado do pensamento do filósofo e procuro articulá-lo com outros; e, tanto quanto possível, especialmente com o pensamento de Norbert Elias. No segundo momento, tomando a genealogia como techné de investigação, desenvolvo uma discussão em torno da disciplinaridade enquanto constrangimento físico — no eixo corporal — e enquanto mecanismo interno de controle e delimitação dos discursos — no eixo cognitivo. De ambos os casos resultam formas particulares tanto de estar no mundo, quanto de cada um conhecer o mundo e nele se situar. Nesse sentido, analiso o que denomino virada disciplinar, a saber, a substituição da disciplinaridade da Antigüidade Clássica (as novem disciplinæ) e da Idade Média (as artes liberalis ou disciplinæ liberalis do trívio e quadrívio) pela disciplinaridade moderna, agora destinada a representar a ordem do mundo natural e social. A partir daí, discuto a participação das disciplinas na fabricação do sujeito moderno, com ênfase em algumas práticas discursivas e não-discursivas que se articulam na escola e fazem dela a principal maquinaria envolvida nessa fabricação. No percurso dessa genealogia, vão aparecendo os diferentes topoi identificados no primeiro momento, quando fiz a leitura arqueológica dos discursos contradisciplinares. Entre outras coisas, isso revela os nexos profundos que existem não apenas entre a disciplinaridade e a episteme moderna, como, também, entre a disciplinaridade e os próprios discursos que pretendem extingui-la. / This thesis is a study on disciplinarity, focused on what I call the cognitive axis of disciplines. The analysis, developed from a Foucauldian perspective, has two moments. In the first moment, inspired on Michel Foucault’s archeology, I do a reading of the antidisciplinary discourses that have been articulated in Brazil in the last three decades. Here I identify and describe two discoursive series — one family has an epistemological emphasis; the other one has a pedagogic accent. The epistemological family works as an argumentative basis for the pedagogical one, at least when the latter emerged in the seventies. In both cases I identify some topoi that show the commitment of these discourses with the Enlightment heritage; I also try to point out the continuities and ruptures from series to series. In this archeological reading, I describe some additional discourses that, even if they present some differences and countertendencies, are very close to the mentioned families. Besides all these, it is still possible to identify other discourses (perhaps as yet somewhat dispersed) that are clearly in opposition to the ones previously described. Linking the first and the second moments, I discuss the reason why I adopt a Foucauldian perspective, and the methodological problems that come about because of this choice. In order to do this, I make a brief description of the philosophical thought of Michel Foucault and try to articulate it with others thinkers’ thought, especially, as much as it is possible, with Norbert Elias’ thinking. In the second moment, using the genealogy as an investigation techné, I develop a discussion on the disciplinarity both as a physical constraint — the body axis — and as an internal mechanism of control and delimitation of discourses — the cognitive axis. The outcomes arising from both dimensions are: a) specific forms of being in the world, b) of knowing the world and c) of being situated in the world. In this way, I analyze what I call a disciplinary turn, that is, the shift from the Classic Antiquity disciplinarity (novem disciplinæ) and Middle Age disciplinarity (artes liberalis or disciplinæ liberalis: trivium and quadrivium) to the Modern disciplinarity, now supposed to represent both the natural and the social order of the world. Thereafter, I discuss the contribution of the disciplines for the making of the modern subject, emphasizing both the discoursive and the non-discoursive practices that are articulated at the school, practices which make this institution the main machinery in this process. As this genealogy is developed, the different topoi (identified in the archeological discussions of the antidisciplinary discourses) start to emerge. Among other things, it shows the deep conections that exist not only between the disciplinarity and the modern episteme but also between the disciplinarity and those same discourses that claim to extinguish it.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume56.ufrgs.br:10183/131158
Date January 1996
CreatorsVeiga-Neto, Alfredo José da
ContributorsSilva, Tomaz Tadeu da
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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