Somos sujeitos marcados pela diferença, seja de gênero, etnia, credos, fé, língua, ideologia, política – entre tantos outros aspectos que nos constituem como humanos. A diferença produz espacialidades diversas e outras geografias, uma Geografia dos Corpos é muito distinta das Geografias do Corpo: a primeira fundamenta-se na diversidade e a segunda, na diferença. E qual a distinção de uma abordagem pela diversidade ou pela diferença? Mais do que desenvolver um estudo das práticas corporais em diferentes escalas temporo-espaciais e elencar algumas similaridades e questões que as envolvem, a proposta é apresentar o corpo como sujeito e objeto da experiência. O que se defende é espaço como experiência corporalizada: trata-se de uma Geografia da Diferença em que o corpo é um importante elemento do espaço, que indissociavelmente transforma e é transformado por esse. A espacialização é parte da constituição da diferença, o próprio espaço é estabelecido no ser; posto que espacialização e alteridade são indissociáveis. A escala do corpo, que por muito tempo suscitou para a Geografia uma condição de estranhamento, como se a corporalidade estivesse muito mais direcionada a pesquisas filosóficas, antropológicas, psicológicas, fisiológicas do que as geográficas, é retomada por uma abordagem que recoloca o sujeito no centro da produção espacial. A incorporação do espaço como dimensão constitutiva admite a produção de engajamentos que se voltam para ação criativa e transformadora, como também para a composição de novas espacialidades que recolocam o sujeito no interior do processo de significação do mundo, a partir do qual se revelam outras geografias. Uma nova política do espaço requer um novo paradigma ético-estético que não considera o espaço apenas como representação, mas como prática da experiência humana na diferença a partir de espacialidades que congregam fluxos, passagens, descontinuidades e conexões que agenciam uma totalidade que vai muito além da soma das partes. A emancipação dos sistemas de representação está na possibilidade de se imaginar espaços que evidenciam seus significados pela incorporação das experiências, uma vez que as informações estão no corpo e no espaço como instâncias interligadas. Uma intepretação ativa do mundo é aquela que inclui a si próprio na constituição de fatos do cotidiano e do simbólico, ultrapassa o caráter contemplativo da busca da verdade do mundo. É, também, quando o sujeito se percebe enquanto objeto do conhecimento, não havendo separação entre um e outro devido a sua inextricabilidade. A reflexão teórica não é desatenta e nem tão pouco descorporalizada; quando se separa sujeito e objeto, está-se excluindo o caráter cognitivo da experiência, encontrando-a apenas como abstração. A necessidade de um uso diferenciado do conhecimento conduz a uma reorganização dos conceitos e também da possibilidade de atuar no mundo a partir de um conhecimento corporalizado, em que cognição, percepção e representação não são análogas. A corporalidade abre um espaço de sensibilização e ressignificação, vincula tempo-espaço individual e tempo-espaço coletivo, instituídos em um movimento no qual o sujeito interpreta a si, ao outro e ao mundo. / We are subjects marked by difference, regardless of gender, ethnicity, creed, faith, language, ideology, politics – among several other aspects that constitute us as humans. The difference produces diverse spatialities and other geographies, one Geography of Bodies is very distinct from Geographies of the Body: the first is based on diversity, and the second, on difference. And what is the distinction of an approach for diversity or for difference? Rather than developing a study of bodily practices in different temporal-spatial scales and listing some similarities and issues that surround them, the proposal is to present the body as subject and object of the experience. The contention is that space as embodied experience: it is about a Geography of Difference in which the body is an important element of the space, which inextricably transforms and is transformed by it. The spatial distribution is an constituent part of the constitution of the difference, the space itself is set on the being; spatialization and otherness are inseparable. The scale of the body, which long raised for Geography a condition of estrangement, as if corporeality was much more directed to philosophical, anthropological, psychological, physiological researches than to geographical ones, is reprised by an approach which places the subject in the center of spatial production. The incorporation of space as constitutive dimension admits the production of engagements that turn to creative and transformative action, as also to the composition of new spatiality that restate the subject within the process of signification in the world, from which other geographies are revealed. A new space policy requires a new ethical-aesthetic paradigm that does not consider only the space as a representation, but as a practice of human experience in the difference from spatialities that congregate flows, passages, discontinuities and connections touting a totality that goes far beyond the sum of the parts. The emancipation of representation systems lays on the possibility of imagining spaces that reveal their meanings by incorporating experiences, since the information is in the body and space as interrelated instances. An active interpretation of the world is the one that includes itself in the constitution of symbolic and daily life facts, exceeds the contemplative character of the search for truth in the world. It is, also, when the subject recognizes itself as an object of knowledge, there is no separation between them due to their inextricability. The theoretical reflection is not distracted, either disembodied; when subject and object are separate, one is excluding the cognitive character of experience, finding it only as an abstraction. The need of a differentiated use of knowledge leads to a reorganization of the concepts and also to the possibility of acting in the world from an embodied knowledge, in which cognition, perception and representation are not analogous. The corporeality creates space for awareness and reframing, it bonds individual space-time to collective time-space, organized in a movement in which the subject interprets himself, others and the world.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume56.ufrgs.br:10183/94741 |
Date | January 2014 |
Creators | Nunes, Camila Xavier |
Contributors | Rego, Nelson |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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