As escolas de hoje possuem ainda forte herança da revolução industrial, com um viés assistencialista, visando “guardar” as crianças e prepará-las para o mercado de trabalho. No entanto, há escolas que buscam fugir deste modelo, encontrando em seu caminho fortes pressões homogeneizantes, seja de parâmetros curriculares de órgãos governamentais, de pressões mercadológicas e, até mesmo, dos pais de seus alunos. Mesmo existindo tais pressões, algumas escolas ainda desenvolvem a sua autonomia, encontrando práticas de gestão e educação próprias. Essa pesquisa busca olhar estas práticas – que demonstram aspectos de unicidade das escolas –, propondo-se a observar como emerge o novo em um ambiente marcado predominantemente por um pensamento tradicional, burocrático e empresarial. Para embasar esta análise, trazemos alguns elementos teóricos. Em primeiro lugar, discute-se o momento da educação no Brasil, questionando a lógica instrumental predominante a partir das visões de autores como Guerreiro Ramos, Tragtenberg e Prestes Motta. Em seguida, para analisar o surgimento de novas ações e práticas de gestão e educação, nos fizemos valer de autores que se pautam em uma abordagem processual, utilizando, portanto, o conceito de Campo Aberto de Robert Cooper (1976). O autor nos oferece a possibilidade de observar as organizações de forma mais compreensiva, em seus momentos de estrutura e processo, permitindo perceber como se dá a criação do novo. Como se resgatam coisas que estão em sua não forma, no latente, abstratas para o universo concreto, real, a circunstância literal. Isso se dá a partir das crises, rupturas, acasos, modelos abertos de mudança, como crescem e se desenvolvem os projetos de forma natural – da projeção à construção –, ou fazendo um caminho inverso Foi a partir desse subsídio teórico que esse estudo buscou três escolas brasileiras para conhecer e observar: Escola Waldorf Querência, em Porto Alegre – RS; Oga Mitá, no Rio de Janeiro – RJ; e Casa Escola, em Natal – RN. Para a análise de cada uma dessas escolas – que compuseram um estudo de casos múltiplos –, foram utilizados dados secundários a partir de pesquisa documental e dados primários coletados a partir de observação participante, diários de campo, entrevistas abertas e entrevistas semiestruturadas realizadas em três períodos: novembro e dezembro de 2016 na Escola Waldorf Querência; fevereiro e março de 2017 na Oga Mitá; e maio de 2017 na Casa Escola. Através da análise dos dados coletados, com o auxílio do software Nvivo, observou-se que as escolas estudadas valorizam o aspecto humano da educação, respeitando a individualidade dos alunos, assim como o cuidado com os profissionais da escola e os familiares dos estudantes. As três escolas mostram-se bastante abertas ao diálogo e à participação – de diferentes formas e intensidades Observou-se, ainda, que as práticas desenvolvidas nestas escolas repercutem na comunidade escolar fazendo com que haja, muitas vezes, uma ressignificação de sua compreensão do que é escola, que passa a ser visto como algo mais amplo e prazeroso. Por fim, ao se analisarem como surgem as práticas inovadoras, percebeu-se que estas escolas não se prendem tanto às imagens prévias e aos padrões, mostrando abertura para a emergência de novas práticas através de momentos de ruptura, crises, acasos, mudanças abertas, dentre outros, em uma clara alternância entre períodos de maior propensão à estrutura e outros que se inclinam ao processo. Ao analisarmos os casos da Querência, Casa Escola e Oga Mitá, percebemos que os novos elementos, práticas e ações que caracterizam estas escolas e as tornam diferentes das instituições que seguem linhas tradicionais, emergem dada sua capacidade de abrir-se à mudança, mantendo espaços de resistência ao mesmo tempo em que equilibram pressões diversas para conformarem-se. / Schools today still possess a great heritage from the industrial revolution, with an assistentialist bias, aiming to “keep” the children and preparing them to the workplace. However, there are schools that aim to escape from such model, finding in their path a great deal of homogenizing pressure, from obligatory curriculums issued by the state, education market and even from parents of students. Even with such pressures, a few schools manage to develop some autonomy, creating their own personal practices of management and education. This research aims to investigate such practices – which demonstrate unique aspects of the schools –, observing how new practices emerge in an environment marked predominantly by a traditional, bureaucratic and business mindset. To base our analysis, we bring different theoretical elements. First, we discuss the moment of education in Brazil, questioning the predominant instrumental logic from the point of view of authors such as Guerreiro Ramos, Maurício Tragtenberg and Prestes Motta. Second, to analyze the emergence of new actions and practices in management and education, we make use of authors that use an approach based on process philosophy, mainly the Open Field concept from Robert Cooper (1976). Cooper offers us the possibility to observe organizations in a more comprehensive manner, in its moments of structure and process, allowing us to perceive the emergence of novel actions and practices; how to rescue things that are still potential, latent, abstract to the concrete, real universe. This happens through crisis, ruptures, chance, open models of change, which grow and develop the projects naturally – from projection to construction –, or making the inverse path. develop the projects naturally – from projection to construction –, or making the inverse path. It was from this theoretical subsidy that this study looked for three Brazilian schools to visit and observe: Querência Waldorf School, in Porto Alegre (RS), Oga Mitá, in Rio de Janeiro (RJ), and Casa Escola, in Natal (RN). To analyze each school – as a multiple case study – secondary data was used from documental research and primary data was collected from participant observation, research diaries, and open and semi-structured interviews in the following periods: November and December 2016 at Waldorf Querência; February and March 2017 at Oga Mitá and May of 2017 at Casa Escola. Through analysis of collected data using Nvivo software, it was observed that these schools value the human aspect of education, respecting students’ individuality, and caring for their professionals and the family of the students. The three schools were shown to be very open to dialogue and participation – in different ways and intensities. It was observed, also, that the practices developed in these schools reverberate through the school community creating in many cases a change in the comprehension of what a school is, becoming something broader and more positive Finally, while analyzing how innovative practices emerge, it was perceived that this schools do not fixate excessively in past images and patterns, showing an opening to the emergence of new practices through moments of rupture, crisis, chances, planned open changes, among others, in a clear interchange between moments closer to a structure and others closer to process. When analyzing the cases of Querência, Casa Escola and Oga Mitá, we perceive that new elements, practices and actions that characterize these schools and make them different from more traditional institutions emerge from their capacity to remain open to change, keeping spaces of resistance at the same time in which they balance many pressures to conform.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume.ufrgs.br:10183/174582 |
Date | January 2017 |
Creators | Griner, Almog |
Contributors | Lopes, Fernando Dias |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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