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Sob o domínio da urgência: o trabalho de diretores de hospitais públicos no Rio de Janeiro / Under the rule of urgency: the role of Rio de Janeiro public hospital directors

A presente investigação tem por objetivo analisar a prática gerencial em hospitais públicos – hospitais gerais com emergência do município do Rio de Janeiro, vinculados aos níveis municipal, estadual e federal. Apoiando-se centralmente na abordagem da Psicossociologia francesa de análise das organizações, busca compreender as dimensões sociais, intersubjetivas e inconscientes de tais práticas, tendo como principal fonte as narrativas de seus diretores. Do ponto de vista metodológico, o estudo adotou a abordagem de narrativas de vida, focalizando a gestão hospitalar pública tanto como um mundo social, como também, expressão dos processos imaginários presentes nas organizações e que atravessam o relato dos entrevistados. A análise do material empírico teve como um de seus eixos o estudo do percurso profissional dos diretores, especialmente os processos que os levaram à função de direção de um hospital público. A designação para a primeira experiência na função de direção hospitalar encontra-se marcada pela contingência, em um contexto em que não existe carreira ou qualquer exigência de formação gerencial. No momento da pesquisa, no entanto, sete dos oito entrevistados já tinham formação adequada no campo da gestão hospitalar e experiências consolidadas. O segundo eixo remete às práticas gerenciais. São examinados os sentidos que o exercício da função de direção tem para os sujeitos, como também as suas estratégias de trabalho. O exame das práticas gerenciais norteia-se pela análise das possibilidades e limites para desencadear processos de mudança nesses hospitais. Os depoimentos expressam que os diretores de hospitais encontram-se submetidos a pressões políticas, escassez de recursos, precárias condições de funcionamento e são alvo das resistências, dos ataques, da descrença, enfim, encontram-se em um contexto de baixa governabilidade, expressão das forças instituídas, contra as quais procuram lutar. A partir deste quadro, a investigação aprofundou a análise das práticas gerenciais dos diretores revelando três modalidades. Uma primeira, em que se vislumbra o desenvolvimento de um processo de mudança, ganhando destaque os elementos imaginários que contribuem para a construção de uma visão de futuro do hospital, favorecendo os processos de ligação na organização. Uma segunda modalidade de prática é marcada por projetos específicos que ganham destaque e são objeto de investimento da gestão. Um terceiro modelo estaria pautado pela luta para fazer funcionar, tendo como motor o imaginário da urgência. Na urgência, não há estratégia, só ato. A ação contínua se impõe, não havendo brechas para a reflexão. Nos hospitais a intensa precariedade tem implicações de vida ou morte, gerando grande sofrimento entre os profissionais e gestores. A crise dos hospitais públicos no Rio de Janeiro em 2004 e 2005 ganha vulto sem precedentes, levando a um contexto de “guerra” e de generalização do modelo da urgência. Os hospitais tornam-se espaço para manifestação de todo tipo de violência e desvalorização da vida. Os processos de mudança, presentes em duas das oito experiências, foram negativamente impactados, em um caso, pela exoneração do diretor e no outro, pela crise, evidenciando a fragilidade dos movimentos de mudança e impondo uma visão mais modesta quanto às possibilidades da organizações de saúde no contexto atual. / This research aims to analyze management practices in public hospitals – general hospitals with emergence service in the city of Rio de Janeiro, under municipal, state and federal administration. Based upon French Psychosociological perspectives for organizational analysis, the study seeks an understanding of the social, intersubjective and unconscious dimensions of such practices. Narratives of hospital directors are the main source of data in this investigation. In terms of methodology, this study adopted the life story approach, understanding public hospitals’ management in a two-fold perspective: as a social process as well as an expression of imaginary processes present in the organization dynamics, which permeate the narratives of the directors interviewed. The directors’ professional history, mainly the processes that led them to taking up this post, was one of the key aspects selected for analysis. Results show the first appointment was usually incidental- characterized by contingency - in a period when formal career or specializations of any kind were not required. Throughout the course of the research, however, seven among the total of eight directors interviewed had already acquired proper specialization in hospital management and a solid experience. Apart from describing their professional histories, the analysis discusses the directors’ managerial practices, focusing both on the main strategies adopted and on views, feelings and meanings attached to the experience of being a hospital director. Key elements under analysis are the possibilities and limits in the process of implementing changes in those hospitals. Their testimonies reveal that directors work under heavy political pressure, insufficient material resources, poor working conditions, and that they are targets of disbelief, defiance and aggressive behaviors in a situation of low governability, all of which are representative of the power structure they try to oppose. From this point of view, the analysis of managerial practices revealed three different patterns. In the first one, there is a glimpse of a possibility of change, in which imaginary elements, that help conjure a vision of the hospital’s future and open paths for building up organizational links, are strengthened. The second style of management practice is characterized by investments in specific projects, which concentrate major efforts. The core of the third model is founded on the dedication to keep the hospital working and is impelled by the imaginary of urgency. In this scenario of urgency, there is no place for strategy, only for action. Imposition of continuous action makes reflection impossible. Inside the hospitals, the extremely deficient work basis and its implications in terms of life and death, brings almost unbearable suffering to staff and directors. The crisis in Rio de Janeiro Public Hospitals has gained, since 2004, unprecedented scope, achieving now the status of a “war”. As a consequence, the urgency model spreads. Hospitals have turned into a space where every sort of violence and depreciation of human life takes place. Attempted changes observed in two of the eight experiences were seriously affected either by the director’s dismissal or by the mounting of a crisis, revealing the weakness of the movement toward change and casting doubt on the possibilities of the public health institutions at the present time.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-14012006-102707
Date19 October 2005
CreatorsCreuza da Silva Azevedo
ContributorsMaria Ines Assumpcao Fernandes, Teresa Cristina Othenio Cordeiro Carreteiro, José Newton Garcia de Araújo, Teresa Cristina Othenio Cordeiro Carreteiro, Luiz Carlos de Oliveira Cecilio, Selma Lancman
PublisherUniversidade de São Paulo, Psicologia Social, USP, BR
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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