[pt] A possibilidade de aproximação entre a prática da arte e a prática do design
decorre do fato de que todas as ações do Homem relativas ao seu entorno natural
ou aos demais seres humanos são formas de trabalho, ou práticas sociais. Assim,
compartilham semelhanças. Desde o Renascimento, certos artefatos ganharam
uma aura de superioridade em relação aos demais artigos manufaturados.
Nascia o conceito de arte e neste contexto emergiria a figura do artista. O
Humanismo transfigurou os habitus do período. A utilização da técnica do
desenho, etapa intelectual prévia à materialização da produção artística ou
criativa, serviu como pedra angular para justificar a diferenciação entre artesanato
e arte. Seguiu-se a institucionalização do ensino da teoria do desenho pelas
Academias de Arte e a concomitante legitimação da maior hierarquia da atividade
intelectual comparada à manual. Aos poucos, tais instituições, inicialmente
criadas para libertar o artista das guildas medievais, as superaram em restrições,
regulamentando em pormenores a atividade da arte e julgando a boa e a má
prática criativa. O desgaste e a revolta da classe artística conduziram ao
enfraquecimento ou mesmo ao ocaso das referidas Academias, a partir do século
XVIII. A compreensão das transformações do contexto sócio-econômico é
essencial para a análise das mudanças na produção criativa. A passagem para uma
economia monetária e urbana foi determinante para o início da Idade Moderna
ocidental e mercantilista. A seguir, a Revolução Industrial principiada na GrãBretanha setecentista foi o motor para a implementação do sistema capitalista de
produção em massa, que introduziu um novo padrão de consumo. Neste contexto,
os empresários da indústria convidaram os artistas para trabalhar em parceria, a
fim de tornar a forma e a aparência dos produtos industriais mais atrativas
comercialmente. Escolas de artes e ofícios foram criadas a partir do século XIX,
na Europa, e formavam profissionais criativos para o trabalho na indústria. A
fusão que se deu entre escolas de belas artes e escolas de artes e ofícios, na
Saxônia e em Moscou, deu origem a Bauhaus e Vkhutemas, respectivamente. Tais
instituições do século XX legitimaram a noção construída da autonomia da prática
hoje chamada design em relação à prática da arte. O design emergiu como um
suposto novo Campo de conhecimento. A afirmação de que a prática do design é
herdeira da prática da arte se confirma: pelo passado em comum que
compartilham e pela similitude dos caminhos de luta percorridos em busca de
autonomia. Posto também que a prática do design ainda não logrou êxito em
definir seu objeto e seus princípios, o Design poderia ser percebido como uma
espécie, atividade integrante de um gênero mais amplo, o Campo da Arte. A
asserção expressa não reivindica para si qualquer sorte de infalibilidade, antes
deseja servir como uma hipótese de trabalho a ser considerada no esforço de se
pensar a ontologia e a epistemologia do Design. Bibliografia crítica e oficial sobre
o tema informou a presente pesquisa. / [en] The possibility of a semblance between art and design practices stems from
the fact that all human interactions with their natural surroundings or with other
human beings are forms of work or social practices. Therefore, they do have
similarities. Since the Renaissance, some artifacts have gained an aura of
superiority over other manufactured articles. The concept of art was born, and
within this context the figure of the artist emerged. Humanism transformed the
habits of the period. The use of pre-project drawings as the intellectual stage for
art, prior to the materialization of artistic or creative production, served as the
cornerstone to justify the differentiation between craft and art. This was followed
by the institutionalization of the teaching of drawing theory by the Academies of
Art and the concurrent legitimization of the higher hierarchy of intellectual
activity compared to manual work. Gradually, these institutions which were
initially created to free the artist from the medieval guilds, surpassed them in
restrictions by regulating in detail Art and judging the good and the bad
creative practice. The wear and tear of the artistic class led to the weakening or
even to the demise of the said Academies starting from the eighteenth century.
Understanding the transformations of the socioeconomic context is essential for
the analysis of the changes in creative production. The transition to a monetary
and urban economy was decisive for the early modern Western and mercantilist
age. Then, the Industrial Revolution began in Britain in the 18th century as the
engine for the implementation of the capitalist system of mass production, which
introduced a new consumption pattern. In this context, industrial entrepreneurs
invited artists to work in partnership to make the shape and appearance of
industrial products more commercially attractive. Schools of arts and crafts were
created during the nineteenth century in Europe to train creative professionals to
work in the industry. The merger between fine arts schools and arts and crafts
schools, in Saxony and Moscow, gave rise to Bauhaus and Vkhutemas,
respectively. These twentieth century institutions legitimized the notion of the
autonomy of what is called design today in relation to the practice of art. Design
emerged as a supposedly new field of knowledge. The statement that the practice
of design is heir to the practice of art is confirmed: by the common past they share
and by the similarity of their struggle to search for autonomy. Additionaly, since
the practice of design has not yet succeeded in defining its objectives and its
principles, Design can be perceived as a species, part of a broader genus, the Field
of Art. This statement is not immune to constructive criticism, but aims to serve as
a working hypothesis to be considered in the effort to think about the ontology
and epistemology of Design. Critical and official bibliography on the subject
informed the present research.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:58693 |
Date | 25 April 2022 |
Creators | KARLA GALAL SCHWARTZ |
Contributors | ALBERTO CIPINIUK |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | TEXTO |
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