Trata-se de pesquisa teórica, de cunho filosófico-educacional, sobre o modo como Eurípides retrata, discute e problematiza, em sua obra, o debate intelectual e político que marcou a vida cultural de Atenas na segunda metade do século V a.C., assim como os seus desdobramentos no campo moral e educacional. Em virtude da dificuldade de tomarmos, neste estudo, como objeto de análise o conjunto da obra conservada de Eurípides, damos destaque à peça Ifigênia em Áulis. Além de abordar explicitamente o tema da educação, essa obra consta entre as últimas composições do poeta, o que nos permite analisar o amadurecimento de suas reflexões poético-filosóficas. A tragédia, embora com características bastante peculiares, insere-se na Grécia como herdeira da tradição poética grega - a épica e a lírica - e da sua missão educadora. Em face das grandes transformações de caráter político, social e cultural ocorridas na Grécia com o desenvolvimento e a consolidação do modelo de pólis democrática - que tem o seu apogeu no século V a.C., um novo perfil de homem, com características bastante diferentes daquelas projetadas em torno da nobreza aristocrática palaciana, vai ser exigido. Reconfigurando as estruturas do mito e valendo-se dos meios expressivos do teatro, a tragédia vai exercer em Atenas, que se tornara, então, o principal pólo cultural, político e econômico da Grécia, o seu ofício poético-pedagógico de direcionar o olhar dos homens para as questões essenciais da vida na pólis. A posição tradicional da arte dramática parece não satisfazer Eurípides. É certo que não lhe faltava a consciência de sua missão pedagógica. Não a exercia, porém, no mesmo sentido de seus antecessores, mas sim mediante a participação apaixonada nos problemas da política e da vida espiritual de seu tempo. A crítica euripidiana, cuja força purificadora reside na negação do convencional e na revelação do problemático, nos faz olhar para as contradições e as idiossincrasias de uma educação em tempos de crise. Na Ifigênia em Áulis, que ora examinamos, Eurípides põe em questão o próprio paradigma heróico, base da educação tradicional aristocrática, suscitando uma reavaliação do conceito de herói e de seu significado na formação do homem grego. Por outro lado, sempre sob o peso artístico de uma erística ousada e vigorosa, a dinâmica dialética desse drama, complexa e tão bem articulada, ilumina a questão dos limites da ação educativa e de seus fundamentos. E o imponderável, que paira sobre a existência do homem, é lembrado, como o grande obstáculo à elaboração de um modelo definitivo e seguro de educação. / This theoretical research, of philosophic-educational nature, aims to analyze the way as Euripides represents, discusses and brings into question, through his work, the intellectual and political debate which marked the cultural life of Athens in the second half of the 5th Century b. C., as well as its effects in the moral and educational field. Due to difficulty of analyzing, in this study, the whole preserved work of Euripides, we emphasize the play Iphigenia in Aulis. This play approaches the subject of the education and is one of the last compositions of the poet, which allows us to analyze the philosophical-poetic maturing of his reflections. The tragedy, although with a sufficient amount of peculiar characteristics, is inserted in Greece as an heiress of the poetical Greek tradition - the epic and the lyrical ones - and its educational mission. Due to great political, social and cultural transformations that occurred in Greece with the development and the consolidation of the model of pólis democratic - that has its highest point in the 5th century b. C. -, a new profile of man, with sufficiently different characteristics of those projected ones around the aristocratic nobility, would be demanded. Reconfiguring the structures of the myth and using the expressive means of the theater, the tragedy would play in Athens, that became, then, the main cultural, political and economical pole of Greece, its poetical-pedagogical role to conduct the attention of the men to the essential questions of the life in the pólis. The traditional position of the dramatic art seems not to satisfy Euripides. It is certain that he did not lack the conscience of a pedagogical mission. He did not practice it, however, in the direction of his predecessors, but by means of the passionate participation in the problems of the politics and the spiritual life. The euripidian criticism, whose purifying force inhabits in the negation of the conventional and in the revelation of the problematic, makes us look at the contradictions and the idiosyncrasies of an education in times of crisis. In the Iphigenia in Aulis, Euripides questions the heroic paradigm, base of the traditional aristocratic education, causing a revaluation of the concept of hero and of his meaning in the formation of the Greek man. However, under the artistic weight of a daring and vigorous eristic, the dialectical dynamic of this drama, complex and articulated, always illuminates the question of the limits of the educative action and of his bases. And the imponderable, which hovers over the existence of the man, is remembered, like the great obstacle to the preparation of a definite and secure model of education.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-13062008-150901 |
Date | 28 March 2008 |
Creators | Weffort, Luis Fernando |
Contributors | Barros, Gilda Naecia Maciel de |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | Dissertação de Mestrado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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