Este estudo objetiva analisar materiais didático-digitais que acompanham livros de ensino de inglês para negócios, problematizando seus dizeres e as subjetividades produzidas para o aprendiz/futuro ou atual trabalhador do meio corporativo e sua relação com o discurso do neoliberalismo e o da globalização, os quais afetam de modo incisivo nosso momento contemporâneo. Pretendemos, sobretudo, desmistificar a representação do material pedagógico como um repositório de verdades científicas, livre de posicionamentos ideológicos, buscando promover uma atitude mais indagadora de professores e alunos frente aos materiais didáticos, em qualquer modalidade, impressos ou digitais. Interessa-nos investigar os imbricamentos discursivos, a noção de tecnologia implícita, a representação da língua inglesa e a variante do inglês sendo ensinada, dado que essas questões constituem os materiais analisados e incidem sobre as construções subjetivas. A hipótese que direciona este trabalho é a de que o discurso desses materiais digitais constrói subjetividades heterogêneas e contraditórias. Assim, o discurso que pretende inculcar um único modelo de sujeito apresenta fissuras que possibilitam momentos de resistência e de constituição de subjetividades não hegemônicas no mundo globalizado. Fundamentamos nossa análise nos conceitos da visão discursiva do sujeito (clivado e descentrado), formado no e pelo discurso (heterogêneo, polifônico, ideológico), perpassado por relações de poder (em que a resistência é constitutiva), aliando, portanto, nossa perspectiva discursiva às reflexões de Michel Foucault (1982, 1983, 1996a, 1997a, 1997b) acerca das relações de poder e saber, além da contribuição de Gilles Deleuze (1990a,b) sobre a sociedade de controle, na qual o poder é exercido de modo mais sutil e refinado, gerando uma modulação permanente do sujeito. Verificamos que o discurso pedagógico desses materiais digitais, formado a partir de dizeres hegemônicos dos discursos do neoliberalismo e da globalização, engendra um processo de subjetivação vigoroso, indicando ao sujeito como deve ser e agir no meio corporativo a fim de ser bem-sucedido. Por outro lado, esse mesmo discurso mostrou-se afetado por enunciados de práticas discursivas concorrentes, promovendo subjetividades contraditórias, mas não necessariamente em dissonância com os discursos hegemônicos. / This study aims at analyzing digital didactic materials which accompany books for teaching Business English, questioning their sayings and the subjectivities produced for the learner/future or present corporate worker and their relation to the discourses of neoliberalism and globalization, which deeply affect our contemporary moment. Most importantly, we intend to demystify the representation of the didactic material as a repository of scientific truths, free from ideological positionings, hoping to encourage teachers and students alike to be more questioning in relation to pedagogical materials, in any modality, printed or digital. We are interested in examining the articulation of discourses, the implicit notion of technology, the English language representation and the English variant that is being taught, since all these issues constitute the analyzed materials and affect the construction of subjectivities. The hypothesis which guides this work is that the discourse of these digital didactic materials constructs heterogeneous and contradictory subjectivities. Thus, the same discourse which intends to inculcate one model of subject presents ruptures which promote moments of resistance and the constitution of non-hegemonic subjectivities in the globalized world. We base our analysis on concepts of the discursive perspective, in which the subject (divided and decentered) is formed in and by discourse (heterogeneous, polyphonic, ideological), affected by power relations (in which resistance is implicit), adding to our discursive view Michel Foucaults (1982, 1983, 1996a, 1997a, 1997b) reflections about the relations between power and knowledge, besides Gilles Deleuzes (1990a,b) contribution on the society of control, in which power is exercised in a subtler and more refined way, generating a permanent modulation of the subject. We verified that the pedagogical discourse of these digital materials, formed by hegemonic sayings from the discourses of neoliberalism and globalization, engenders a vigorous process of subjectivation, indicating to the subject how he or she should be and act in the corporate environment in order to be successful. On the other hand, this same discourse revealed itself to be affected by enunciations from competing discursive practices, promoting contradictory subjectivities, but not necessarily out of tune with the hegemonic discourses.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-31072015-175607 |
Date | 05 March 2015 |
Creators | Hernandez, Maria Inês de Oliveira |
Contributors | Carmagnani, Anna Maria Grammatico |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
Page generated in 0.0028 seconds