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Um estudo da relação entre o vínculo parental e a transferência em psicoterapia psicanalítica

Introdução: É consenso entre os psicanalistas e psicoterapeutas psicanalíticos que a transferência é um elemento central em qualquer forma de psicoterapia. O conceito de transferência, ao longo do tempo, vem se desenvolvendo e mudando. Atualmente ele se refere aos pensamentos, sentimentos, motivações e comportamentos que emergem na relação terapêutica e refletem a personalidade e o funcionamento interpessoal do paciente. A maneira com que o indivíduo se relacionou na infância com pessoas significativas cria modelos de relacionamento que são internalizados e ficam povoando seu mundo interno, servindo de modelo para as relações futuras com o mundo externo. Processos inconscientes do paciente transferem para os outros (incluindo psicoterapeutas) sentimentos e atitudes originalmente associados às figuras importantes do início da sua vida. O estudo da associação entre o modo com que a criança percebeu e vivenciou a relação com seus pais na infância e a maneira com que ela se relaciona atualmente com outras pessoas poderia esclarecer o impacto das relações precoces no desenvolvimento da personalidade e suas implicações no comportamento do sujeito. Objetivos: Este estudo tem como objetivo geral investigar a associação entre o vínculo parental percebido pelo paciente e a transferência realizada com o terapeuta em uma amostra de pacientes em psicoterapia psicanalítica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Brasil. Os objetivos específicos são avaliar a freqüência dos diferentes tipos de vínculo parental e realizar análise fatorial confirmatória do Parental Bonding Instrument para verificar se esta escala mede dois ou três fatores, já que há uma ampla discussão na literatura sobre diferentes fatores estruturais do PBI. Método: Foram incluídos neste estudo todos pacientes adultos (maiores de dezoito anos), em tratamento psicoterápico no Programa de Psicoterapia Psicanalítica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) durante o ano de 2005 e primeiro semestre de 2006. A avaliação diagnóstica foi realizada pelos terapeutas através de entrevista clínica por ocasião de ingresso no programa. As entrevistas clínicas foram supervisionadas por médicos psiquiatras, psicoterapeutas com experiência de 15 anos em psicoterapia psicanalítica. Para medir o fator em estudo, o vínculo parental, foi aplicado o Parental Bonding Instrument- PBI e para medir o desfecho, transferência, foi aplicado o Relationship Patterns Questionnaire – RPQ. As variáveis para controle de interesse deste estudo foram variáveis sociodemográficas e variaveis clínicas: tempo e frequência de tratamento psicoterápico, tratamento psicoterápico prévio, sintomas não psicóticos, mecanismos de defesa (medidos pelo DSQ-40), gênero da dupla terapêutica e diagnóstico clínico (DSM-IV). O tamanho da amostra foi calculado, para assegurar um poder estatístico de 80% (n= 63) para detectar correlações fracas a moderadas (r>0,3). A análise dos dados foi feita no programa estatístico SPSS14 e as correlações foram analisadas pelo teste de Pearson. As variáveis que apresentaram um valor de p ≤ 0.2 em relação ao desfecho foram controladas em um modelo de regressão linear. A análise fatorial confirmatória do PBI foi feita com uma amostra de 257 mulheres adultas realizada pelo programa Amos 5.0.1 software. Destas, 139 eram pacientes recrutadas de diferentes Ambulatórios do Serviço de Psiquiatria do HCPA e 118 controles, selecionados entre funcionários do HCPA e estudantes de medicina ou de psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O método de máxima verossimilhança foi utilizado para comparar cinco diferentes estruturas fatoriais do PBI em termos de ajuste do modelo, seguindo modelo de estudo realizado por Sato et al (1999). Resultados: Em relação aos objetivos específicos verificou-se que o tipo de vínculo parental mais freqüente, segundo Parker, tanto para pai como para mãe foi o tipo 3, (vínculo com controle, sem afeto) e os resultados da análise fatorial do PBI sugeriram que o modelo estrutural de três fatores é preferível em relação ao de dois fatores. Já que, os valores do x2 para o modelo de dois fatores proposto por Parker foram significativamente maiores do que os dos quatro modelos de três fatores utilizados na comparação e o modelo Parker obteve também o menor valor de GFI (goodness-of-fit index) tanto para pai como para mãe (GFI= 0.740, GFI=0.771). Como resultado principal encontrou-se associação estatisticamente significativa somente entre o vínculo paterno e alguns padrões de transferência: amor, submissão e imposição. Quanto mais o paciente percebe seu pai como afetivo maior é o comportamento amoroso com o terapeuta (p=0,048; b=,252); também observouse correlação inversa estatisticamente significativa entre a escala de imposição e o afeto paterno, ou seja, quanto mais o paciente percebe seu pai como afetivo menor é sua percepção de comportamento impositivo do terapeuta com ele (p=0,049; b=- ,251) e quanto mais o paciente percebe seu pai como alguém que o encoraja a ter comportamento de liberdade menor é sua percepção de que o terapeuta reage de maneira submissa à ele (p=0,010; b=-,351). Conclusões: A análise fatorial do PBI, embora realizada em uma amostra apenas de pacientes mulheres, forneceu resultados semelhantes aos descritos na literatura, colaborando para melhor entendimento sobre a estrutura do instrumento em nosso meio. Foram realizadas pesquisas no Pubmed e no PsychInfo e não encontrou-se nenhum estudo quantitativo de associação entre o vínculo parental e a transferência. Os resultados encontrados reforçam a importância da qualidade do vínculo com o pai na infância na construção de padrões de relacionamentos, especialmente na relação terapêutica. A importância da identificação do terapeuta com a função paterna poderia auxiliar na compreensão da transferência-contratransferência e em um entendimento mais acurado do paciente. / Introduction: It is of consensus among psychoanalysts and psychotherapists that transference is a central element in any kind of psychotherapy. The concept of counter transference has been developing as well as changing over time. Transference is currently understood as something that refers to thoughts, feelings, motivations and behaviours that emerge during the course of the therapeutically relationship. Trasferential feelings reflect both the personality and the interpersonal behaviour of the patient towards. The way individuals related to important figures during their childhood creates models of relationship that are internalized and become part of the internal world of those individuals; patterns which will serve as models in future relationships established with the outside world. Unconscious processes Feelings and attitudes that were originally associated to important figures of the patients early years are transferred to other people – including psychotherapists- through unconscious processes. The study of the correlation between the way a child has perceived and lived his/her relationship with his/her parents during childhood and the way this person now relates to others may clarify the impact of relationships established at an early age on the development of one’s personality and its implications on ones behaviour. Objectives: The aim of this study is to investigate the correlation between the parental bonding perceived by the patients and the transference related to the therapist in a patients sample who were assessed by the Programme on Psychoanalytical Psychotherapy from Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Brazil. Specifics aims are evaluating the frequency of different types of parental bonding and performing a confirmatory factor analysis of the Parental Bonding Instrument (PBI) in our environment through a confirmatory factor analysis. We wish to verify whether this scale measures two or three factors given that there is wide discussion on the different structural factors of the PBI. Methods: Adult patients (above eighteen years of age) undergoing psychotherapy at the Psychoanalytical Psychotherapy Programme at Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA) during 2005 and the first half of 2006 were included in this research. The diagnostic evaluation was made by therapists through clinical interviews once the patients joined the programme at the HCPA. The interviews were supervised by psychiatries, psychotherapists with at least 15 years of experience. The instrument used to measure parental bond was the Parental Bonding Instrument (PBI), and Relationship Patterns Questionnaire (RPQ) was used to measure transference. The other controlled variables were sociodemographic variables and clinical variables as follows: length and frequency of the treatment, previous psychotherapeutic treatment, non-psychotic symptoms, defense mechanisms (DSQ-40), gender of the therapeutic dyad, and diagnosis (DSM-IV). The size of the sample was chosen in order to guarantee statistical power of 80% (n = 63) and the ability to detect weak and moderate correlations (r>0,3). The analysis of the data was performed using the SPSS14 software and the correlations were analyzed using the Pearson’s test. The variables that presented a p value ≤ 0.2 regarding the outcome (transference) were controlled in a linear regression model. The confirmatory factorial analysis of the PBI was made on a sample of 257 adult women. Among them, 139 were patients who were recruited from different ambulatories from the Psychiatric Service of HCPA and 118 were controls who were selected among employees of the HCPA, medical students and students of psychology. The method of maximum likelihood was used to compare five different factorial structures of the PBI, according to Sato’s study (1999). Results: The most frequent parenting style, according to Parker et al. (1979), either for father or mother, was type 3 (control without affection) and the results of the factor analysis of the PBI suggest that the structural model of three factors is preferable if compared to the structural model of two factors only. This is so for a number of reasons. First, because the values found for x2 for the two factors model proposed by Parker were significantly higher than the values found in the four models of three factors which were used in order to establish a comparison. Three factor models have also obtained the lower GFI value (goodness- of –fit index) for both fathers and mothers (GFI = 0.740, GFI=0.771). As main aim meaningful association has been found only amongst paternal bonding and some other patterns of transference such as love, submission and imposition. The more the patient perceives his/her father as affectionate, the more affectionate is his/her behavior towards the therapist (p=0.048; b=.252). A significant inverse correlation between the imposition scale and paternal affection has also been noticed. That means that the more affectionate one thought his/her father was , the less likely he/she was to perceive the impositive behaviour of the therapist towards him/her (p = 0.049; b =-.251). The more one thinks of his/her father as someone who encourages him/her to behave freely, the less likely is the patient to perceive that his/her therapist reacts in a submissive manner toward him/her (p= 0,010; b= - .351). Conclusions: Even though the factorial analysis of the Parental Bonding Instrument (PBI) was only performed in women patients it has provided similar results to those found in the literature, leading, therefore, to a better understanding of the tool. Searches on PubMed and PsychoInfo were not able to find any quantitative study that related transference to parental bond. In the present study, we tried to find an association between the patient’s parenting style and the transference developed during the therapeutic relationship. The results found make us reflect on the importance of the quality of the bond one experiences with one’s father at childhood and its impact on the construction of relationship patterns, specially the relationships established on the therapeutic setting. Therefore, the ability of the therapist to identify with the paternal role may be help him/her when it comes to understanding transference and counter transference. It may also lead to a more accurate understanding of the patient.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume.ufrgs.br:10183/13420
Date January 2008
CreatorsOliveira, Luciana Terra de
ContributorsFreitas, Lucia Helena Machado
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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