Nesta tese analisamos os discursos e as práticas dos grupos e pessoas que compõem o movimento negro no processo de construção de uma identidade social no Brasil contemporâneo. O movimento negro brasileiro, a exemplo do que acontece com outros movimentos sociais gerados na modernidade ocidental, instrumentaliza um constructo de identidade social específica dentro do espaço público como forma de pleitear reparações pelos danos causados pela escravidão e ações de inclusão da população afrodescendente na sociedade como cidadãos com direitos iguais. Além de fontes bibliográficas, nossa metodologia se baseou na realização de entrevistas com militantes, participação em reuniões e eventos, análise de comentários postados em comunidades virtuais, de depoimentos de histórias de vida, bem como de publicações diversas associadas ao movimento negro. A análise das narrativas e práticas do movimento negro nos remeteu à pesquisa acerca da historiografia e das teorias sobre a escravidão no Brasil, sobre a inserção do negro na sociedade brasileira e, especialmente, sobre os elementos de formação identitária do militante negro. Concluímos indicando o caráter contraditório dos processos de formação identitária e das demandas políticas do movimento negro que se mobiliza a favor da igualdade de todos os cidadãos brasileiros sem discriminação racial, mas que, ao mesmo tempo, divide a população entre negros (nós, oprimidos, portanto aptos a receberem reparações) e brancos (eles, privilegiados), gerando parâmetros de inclusão de cunho racial contra os quais a luta contra o racismo historicamente se opôs. Se por um lado, o movimento negro coloca em cena a discussão sobre o preconceito racial no Brasil, tema fundamental para mudar a situação socioeconômica desfavorável da população negra, por outro lado, o radicalismo de suas ações afasta aqueles que não sejam totalmente favoráveis à sua visão de luta contra o racismo e a exclusão social. Os debates atuais opõem as lideranças e os simpatizantes do movimento negro favoráveis a políticas de inserção social pautadas por parâmetros raciais e aqueles que alertam para o perigo de leis raciais em um país miscigenado, defendendo que as políticas de inclusão devem ser edificadas por parâmetros socioeconômicos. / In this thesis we analyze the discourses and practices of black movement groups and individuals in the process of constructing a social identity in contemporary Brazil. Similar to other movements in the Americas, the Brazilian black movement is a new social actor generated by Western modernity which developed an identity and actions within the public space claiming reparations for the damages caused by slavery and supports the inclusion of people of African descent in society as equal citizens. In addition to bibliographic sources, our methodology was based on interviews with activists, participation in meetings and events, analysis of comments posted in virtual communities, life stories testimonies and various publications related to the black movement. We relate the analysis of the narratives and practices of the black movement to the history and theories about slavery and the inclusion of blacks in Brazilian society, in particular, the formation of a black militant identity. We indicate the contradictory nature of the processes of identity formation and political demands of the black movement. While it fights for the equality of all citizens without discrimination, at the same time it divides the Brazilian population into blacks (we, the oppressed, therefore entitled to receive reparations) and whites (they, the privileged), generating criteria for social inclusion policies based on race identification which was historically opposed by those that fought against racism. Therefore, on the one hand the black movement brings the discussion of racial prejudice to the political scene which is of fundamental importance for changing the unfavorable socioeconomic situation of the black population, on the other hand, the radicalism of the movements actions marginalize those that do not completely identify with their views on race and the fight against racism and social exclusion. The current debates are polarized around leaders and supporters of the black movement in favor of policies based on racial criteria and opposition activists who warn of the danger of using racial categories in a miscegenated country. They argue that inclusion policies must be built solely on socioeconomic considerations.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/urn:repox.ist.utl.pt:BDTD_UERJ:oai:www.bdtd.uerj.br:2902 |
Date | 16 March 2011 |
Creators | Dayse de Marie Oliveira |
Contributors | Ana Maria Jacó-Vilela, Celso Pereira de Sá, Luiz Felipe Baêta Neves Flores, Ivana Stolze Lima, Lidio de Souza |
Publisher | Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, UERJ, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ, instname:Universidade do Estado do Rio de Janeiro, instacron:UERJ |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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