Esta tese trata sobre o ensino e aprendizagem de português considerado a priori língua estrangeira na fronteira Bolívia-Brasil, especificamente nos municípios confrontantes de Puerto Quijarro e Corumbá. Objetivamos investigar os conceitos que permeiam a noção de interculturalidade, assim como evocar seus significados e as marcas que eles imprimem no processo de aprender e ensinar línguas. Para começar, abordamos o contexto em duas perspectivas: detalhamos conceitos basilares de cultura(s), identidade(s) e interculturalidade(s) (ALBÓ, 2010; BAUMAN, 2005; BOSCHETTI; PEÑA CLAROS, 2008; GUERRERO ARIAS, 2002, 2010; WALSH, 2010) e investigamos o lugar e as línguas ancestrais, transnacionais e de contato dada sua peculiaridade liminar (CALLISAYA APAZA, 2012). As noções de fronteira e contexto foram balizadas em Camblong (2012); Costa (2013, 2015, 2016) e Van Djik (2012). Tomamos como base os estudos de Almeida Filho (1995; 2004; 2007; 2011); Carvalho (2002), Ferreira (2006) e Scaramucci (2010) para aprofundar conhecimentos no campo do ensino de português para falantes de outras línguas, em especial de espanhol. Esse suporte teórico configura-se fundamental para responder a questão: o processo de aprender e ensinar português como língua estrangeira em um contexto fronteiriço pode ser aprimorado utilizando-se estratégias e práticas interculturais, entendida a interculturalidade sob as perspectivas dos alunos e professores? Dessa pergunta derivaram as hipóteses desta tese: a análise aprimorada do contexto, considerando-se as especificidades da fronteira, pode contribuir para a formulação de conceitos interculturais; as práticas interculturais do cotidiano estão presentes no ensino e aprendizagem da língua do outro no espaço fronteiriço; as noções de interculturalidade que subjazem à compreensão dos aprendizes e professores expressam-se no ensino e aprendizagem de uma língua de fronteira; contextos específicos exigem metodologias de ensino específicas. A posteriori emergiu uma nova hipótese vinculada à formação do professor como mediador dos significados intertextuais entre os aprendizes e a língua alvo. Para responder a indagação central e verificar se as hipóteses se confirmavam ou deveriam ser refutadas, realizamos um curso de português em que estiveram envolvidos alunos bolivianos, falantes de castelhano e discentes brasileiros do curso de Letras português e espanhol da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, campus do Pantanal, na função de professores. Adotamos a metodologia da pesquisa-ação (THIOLLENT, 2009; TRIPP, 2005), consoante com a proposta deste trabalho que prima pelo desenvolvimento de uma pesquisa social (FRANCO, 2005; MCNIFF, 2002). Utilizamos os seguintes instrumentos de coleta de dados: entrevistas e questionários com perguntas abertas e fechadas, aplicados aos participantes da ação e diários de campo para o registro das suas ponderações e reflexões. A análise dos dados correspondeu à pesquisa explicativa, identificando fatores que relacionassem as informações coletadas às bases teóricas. Concluímos que a interculturalidade é um caminho que permite estar aberto ao outro para estabelecer uma comunicação dialógica; evidenciamos as práticas culturais como um meio de aprender línguas e observamos que a prática dos alunos proporciona subsídios importantes para a formação de professores. Nossas discussões e reflexões também nos levam a propor a designação português língua de fronteiras, como uma subespecialidade necessária para os contextos fronteiriços. / This thesis deals with the teaching and learning of Portuguese considered a priori foreign language in the Bolivia-Brazil border, specifically in the confronting municipalities of Puerto Quijarro and Corumbá. We aim to investigate the concepts that permeate the notion of interculturality, as well as to evoke their meanings and the marks they imprint on the process of learning and teaching languages. To begin with, we approach the context in two perspectives: we detail basic concepts of culture, identity and interculturality (ALBÓ, 2010; BAUMAN, 2005; BOSCHETTI ; PEÑA CLAROS, 2008; GUERRERO ARIAS, 2002, 2010 , WALSH, 2010), and we investigate the place and the ancestral, transnational and contact languages given their unique characteristic (CALLISAYA APAZA, 2012, CAMBLONG, 2012, COSTA, 2013, 2015, 2016, VAN DJIK, 2012). We take as base the studies of Almeida Filho (1995; 2004; 2007; 2011); Carvalho (2002), Ferreira (2006) and Scaramucci (2010) to deepen knowledge in the field of Portuguese teaching for speakers of other languages, especially Spanish. This theoretical support is fundamental to answer the question: Can the process of learning and teaching Portuguese as a foreign language in a frontier context be improved by using intercultural strategies and practices, understanding interculturality under the perspectives of students and teachers? From this question the hypotheses of this thesis were derived: the improved analysis of the context, considering the specificities of the border, can contribute to the formulation of intercultural concepts; the intercultural practices of daily life are present in the teaching and learning of the language of the \"other\" in the frontier space; the notions of interculturality that underlie the understanding of apprentices and teachers are expressed in the teaching and learning of a frontier language; specific contexts require specific teaching methodologies. A posteriori emerged a new hypothesis linked to the formation of the teacher as mediator of the intertextual meanings between the apprentices and the target language. In order to answer the central question and verify if the hypotheses were confirmed or should be refuted, we conducted a Portuguese course in which Bolivian students, speakers of Castilian and Brazilian students of the course of Portuguese and Spanish Literature of the Federal University of Mato Grosso do Sul , Pantanal campus, in the role of teachers. We adopted the methodology of action research (THIOLLENT, 2009; TRIPP, 2005), according to the proposal of this work that emphasizes the development of a social research (FRANCO, 2005; MCNIFF, 2002). We used the following data collection tools: interviews and questionnaires with open and closed questions, applied to participants in the action and field journals to record their weights and reflections. The analysis of the data corresponded to the explanatory research, identifying factors that related the information collected to the theoretical bases. We conclude that interculturality is a way that allows us to be open to the \"other\" to establish a dialogical communication; we evidence cultural practices as a means of learning languages and we observe that student practice provides important subsidies for teacher training. Our discussions and reflections also lead us to propose the designation Portuguese border language, as a necessary subspecialty for frontier contexts.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-28062017-152350 |
Date | 18 April 2017 |
Creators | Suzana Vinicia Mancilla Barreda |
Contributors | Isabel Gretel Maria Eres Fernandez, Rosane de Sa Amado, Jacira Helena do Valle Pereira, Renato Braz Oliveira de Seixas, Maria Eta Vieira |
Publisher | Universidade de São Paulo, Educação, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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