A violência é um fenômeno complexo e interdisciplinar que se mostra, entre outros lugares, na clínica psicanalítica. Nesta, a violência aparece por meio dos relatos dos pacientes sobre suas experiências nas posições de sujeito, objeto ou testemunha de atos marcados pelo excesso, pela destrutividade e pelo terror. O fenômeno também ganha forma na clínica psicanalítica de outras duas maneiras: ao despertar, no analista, movimentos contratransferenciais que revelam sua própria violência, em geral negada, e na encenação feita pelo paciente, durante as sessões, de suas experiências de violência. Freud trata a violência como um conceito ao apresentar sua teoria sobre a gênese do social, mas não restringe o uso do termo a essas ocasiões; a violência também é localizada na intensidade de alguns elementos da vida psíquica, como o trauma, o par sadismo e masoquismo, a agressividade e a pulsão de morte. Partimos de três figuras que ilustram aspectos do fenômeno e procuramos distinguir a trama teórica que permite analisá-las. De um gênero que poderia ser identificado com o excesso, chegamos a um fenômeno marcado pelo confronto do Eu com o meio e no esforço de manutenção de suas fronteiras. O que se experimenta é uma invasão geradora de movimentos defensivos que podem levar o sujeito à identificação com o agressor ou ao contra-ataque. Contamos com as ideias de Sándor Ferenczi, Michael Balint e Donald Winnicott para ampliar o escopo dessa leitura. A reação posterior à invasão pode também ser libidinizada e adquirir a forma de sadismo, como exemplificamos por meio de material clínico. É na clínica, especificamente na dinâmica transferencial-contratransferencial, que encontramos a repetição e a atuação do que foi experimentado como ataques ao corpo, ao Eu e à identidade. Durante as sessões, a violência sofrida anteriormente é atualizada com mudanças de posição, deslocamentos e encenações por meio da brincadeira, no caso de crianças. Descrevemos como o analista acompanha essa atualização fazendo uso de seu próprio mundo interno, de sua elasticidade identificatória, ao ocupar temporariamente os lugares que lhe são atribuídos transferencialmente, e agir a partir dali e de sua capacidade de elaboração dos elementos trazidos pelo paciente / Violence is a complex and interdisciplinary phenomenon that shows itself, among other places, in the Psychoanalytic clinic. There, violence appears through the patients reports on their experiences in the positions of subject, object or witness of excessive acts, destructiveness and terror. The phenomenon also takes shape within the Psychoanalytic clinic in other two ways: the awakening, in the analyst, of countertransference movements that reveal their own violence, generally denied, and in the staging made by the patient, during the sessions, of their experiences of violence. Freud addresses violence as a concept by presenting his theory about the genesis of the social, but does not restrict the use of the term to these occasions; violence may also be located in the intensity of some elements of psychic life, such as trauma, sadism and masochism, aggressiveness and death drive. We base ourselves on three figures that illustrate aspects of the phenomenon and try to distinguish the theoretical framework that allows analyzing them. From a genre that could be identified with excess, we reach a phenomenon marked by the confrontation of the Self with the environment in the effort of maintaining its borders. An invasion that generates defensive movements which may lead the subject to identify with the aggressor or to counterattack is thus experienced. We have used the ideas of Sándor Ferenczi, Michael Balint and Donald Winnicott to broaden the scope of these ideas. The reaction after the invasion can also be libidinized and acquire the form of sadism, as we have exemplified through clinical material. It is in the clinic, specifically in the transference-countertransference dynamics, that we find the repetition and the acting-out of what has been experienced as attacks on the body, on the Self and on identity. During the sessions, the violence suffered earlier is reassessed with changes of position, displacements and staging through games, in the case of children. We have described how the analyst accompanies this reassessment by making use of their own inner world, of their identificatory elasticity, to temporarily occupy the places allocated to them through transferences, and start act from there, based on their ability to elaborate the elements brought by the patient
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-04092018-170241 |
Date | 20 April 2018 |
Creators | Eugênio Canesin Dal Molin |
Contributors | Nelson Ernesto Coelho Junior, Elisa Maria de Ulhoa Cintra, Renata Udler Cromberg, Daniel Kupermann, Ines Rosa Bianca Loureiro |
Publisher | Universidade de São Paulo, Psicologia Experimental, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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