O teatro comercial e popular isabelino qualifica decisivamente a relação entre o autor e a sua criação: o texto dramático é modelado pelo mercado e os contextos de produção dramática tendem a esbater o rosto do autor e emprestam às peças dramáticas, que ainda se não definem como literatura, uma configuração precária e indecisa. Porém, as pressões dissolventes das instância autoral, à partida inviabilizando a identificação da voz do dramaturgo e do lugar que a ironia ocupa no texto, cedem em Christopher Marlowe (1564-1593) perante os direitos de uma irredutível presença. A suvversão lúdica da memória clássica, em celebração ambígua do conquistador, do desejo herético do poder e do saber, a sedução pelos jogos do excesso e do grotesco ou ainda a desembaraçada expressão de uma perturbadora identidade marginal, momentos de um percurso experimental descontínuo, correspondem simultaneamenteà irreverência provocatória do criador heterodoxo e a um sentido de oportunidade do produtor que sabe manter o interesse do seu público investindo nesta relação uma equívoca cumplicidade. A condição social do artista e o estatuto da arte dramática numa sociedade aristocrática iluminam em grande medida o radicalismo da revolta e a insubordinação iconoclasta das personagens; a liberdade vigiada do teatro ajuda a compreender as * estratégicas de persuasão de que o arrojo da representação se reveste; e o cepticismo dognático revelado no corpo irregular da criação marlowiana insinua o reducionismo da tese e amortece as virtudes compreensivas e dialécticas da supervisão irónica.
Identifer | oai:union.ndltd.org:up.pt/oai:repositorio-aberto.up.pt:10216/19025 |
Date | January 2000 |
Creators | Ribeiro, Nuno Pinto |
Publisher | Porto : [Edição de Autor] |
Source Sets | Universidade do Porto |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | Tese |
Format | application/pdf |
Source | http://aleph.letras.up.pt/F?func=find-b&find_code=SYS&request=000107137 |
Rights | openAccess |
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