[pt] Essa tese propõe um engajamento com as Relações Internacionais pela perspectiva da
escravidão atlântica do século XIX ao analisar arquivos brasileiros e estadunidenses
daquele centênio. O argumento desenvolvido nas próximas páginas é centrado na
possibilidade de articular formas de pertencimento que não sejam definidas em termos
espaciais. O desenvolvimento de um pensamento político que tenha como premissa a
escravidão atlântica do século XIX é uma forma de focar no fenômeno político sem
condicioná-lo ao espaço estatal. Essa ênfase na política, ao invés de na espacialidade,
permite considerar outras formas de pertencimento para além de cidadania,
consequentemente, a delimitação de espaço não como ponto de partida, mas como
consequência. Nesta tese, eu desenvolvo essas formas de pertencimento e essa forma
de espacialidade por meio de uma discussão sobre o conceito de Império.Ao perceber
a escravidão como um Império atlântico, o papel dos Estados deixa de ser a força
criadora desse fenômeno social e passa a ser o de administrador burocrático de uma
dimensão política que inclui a diferença ao invés de negá-la. O argumento da tese é
construído ao longo de seis capítulos (o primeiro sendo a Introdução). O capítulo 2
apresenta a insuficiência conceitual da disciplina, dependente da ideia abstrata de
cidadania, para dar conta da escravidão. Esse sistema violento de exploração do
trabalho é disciplinarmente incompreensível, seja como um projeto – de manter a
diferença dentro das fronteiras – seja como lente para fazer sentido da população
escravizada propriamente. Esse desafio para o arcabouço teórico disciplinar é a
fundação na qual, a partir do terceiro capítulo, o argumento conceitual é construído
pela leitura historiográfica e de arquivos sobre a escravidão. No capítulo 3 eu abordo
as bibliografias sobre escravidão que lidam com as pessoas escravizadas como trabalho
e a que caracteriza escravidão pela sua vida social de forma a construir um retrato mais
preciso dessas pessoas. No capítulo 4, o foco é direcionado para o outro grupo de
pessoas: os cidadãos. Homens brancos dos EUA e do Brasil que ativamente
mantiveram a escravidão e suas articulações nos seus imaginários do Atlântico. O
capítulo 5 aborda as antinomias do liberalismo ao considerar como ele foi dependente
da escravidão ao mesmo tempo em que invisibilizou a escravidão pelas lentes que usa
para ler o século XIX. No capítulo 6 eu desenvolvo por completo o conceito de Império
como uma forma de interpretar uma dimensão política que está sobre os Estados – sem
os negar – e cuja política impacta diretamente na vida dos cidadãos e não-cidadãos
incorporados nos seus domínios. / [en] This thesis proposes an engagement with International Relations from the perspective
of 19th Century Atlantic slavery by looking to Brazilian and US archives that date from
the 1800s. The argument developed in the following pages is centered on the possibility
of articulating forms of belonging not defined in spatial terms. Developing a political
thought premised on 19th Century Atlantic Slavery is a way of focusing on the political
phenomenon without conditioning it to the state spaciality. This emphasis on the
politics, instead of on the spatiality, allows for considering new ways of belonging and
new approaches to the delimitation of space. In this thesis I develop them by proposing
a debate on the concept of Empire. In characterizing Slavery as an Atlantic Empire, the
role of States goes from being the creating force of slavery to managerial bureaucratic
entrepots within a dimension of politics that encompasses difference instead of denying
it. The argument is built along 6 chapters (the first being the Introduction). Chapter 2
presents the insufficiency of IR as a discipline, profoundly dependent on the abstract
idea of citizenship, to account for slavery. This violent labour exploitation system is
disciplinarily incomprehensible either as a project – of keeping the different within the
borders – or in the possibility of accounting for the enslaved population itself. This
challenge to the disciplinary theoretical framework is the foundation upon which, from
the third chapter onwards, the conceptual argument builds through the reading of
historiography and archives on slavery. In chapter 3, I address the bibliographies of
slavery that deal with enslaved people as labour and the bibliography that characterizes
them in their social lives in order to build a more accurate portrait of these people.
Chapter 4 focuses on the other cohort of people: the citizens. White men from the US
and from Brazil actively maintained slavery and its articulation in their imaginaries of
the Atlantic. Chapter 5 addresses the antinomies of Liberalism by considering how it
was dependent on slavery at the same time that it operated to make slavery invisible
through the lenses with which it reads the 19th Century. In chapter 6, I fully articulate
the concept of Empire as a way of interpreting a political dimension that stands above
States – without denying them – and whose politics directly impacts on the lives of
citizens and non-citizens encompassed within its domains.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:59765 |
Date | 27 June 2022 |
Creators | GUSTAVO ALVIM DE GOES BEZERRA |
Contributors | ROBERTO VILCHEZ YAMATO, ROBERTO VILCHEZ YAMATO |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | English |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
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