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O “público-alvo” nos bastidores da política : um estudo sobre o cotidiano de crianças e adolescentes que participam de projetos sociais esportivos

No contexto urbano no qual este estudo se realizou, na cidade de Porto Alegre (Brasil), o cotidiano das crianças e adolescentes que vivem em bairros populares é marcado pela oferta de programações esportivas, culturais e educacionais por parte de instituições sociais. Estas ações teriam por motivação propiciar espaços de “proteção social” e “vivências socializadoras” alternativos e complementares às atividades escolares regulares. Por um lado, essa mobilização de atores em torno de projetos sociais de esporte, cultura e lazer, é revelador de limites no modelo de escolarização destinado às crianças das classes populares. Por outro lado, esse cenário reflete a lógica dominante nas chamadas políticas sociais, na qual se combinam três aspectos: as instituições civis são envolvidas na execução de políticas, a focalização das ações em determinados grupos sociais e a visão salvacionista de algumas práticas culturais, como o esporte, a música e as artes. Soma-se a esta s questões, uma abordagem pública fortemente moralizante sobre a vida das crianças pobres e suas famílias. Sobre esta realidade, muito se tem produzido academicamente. Nesta pesquisa, no entanto, tomamos esse quadro como a conjuntura na qual as crianças e adolescentes exercem uma experiência significativa de participação na vida social. Através de um trabalho etnográfico de dois anos, realizado com crianças e adolescentes em idade escolar de uma vila popular da cidade de Porto Alegre, buscou-se conhecer o sentido que as crianças e adolescentes atribuem às programações que freqüentam e, a partir disso, discutir qual o lugar – simbólico e prático – que este vínculo ocupa em seu cotidiano. Para tal, o trabalho etnográfico voltou-se a buscar dados nas familiares das crianças, em suas relações de vizinhança e em suas experiências nas programações. Analiticamente, procurou-se suporte teórico em trabalhos etnográficos com grupos populares e nos estudos com - e sobre - crianças, produzidos no campo das ciências sociais. Procurou-se dar conta de uma abordagem relacional e interpretativa do objeto proposto. Assim, as experiências das crianças nos projetos sociais são apresentadas como formas de participação ativa nas relações sociais. Os sentidos de seus envolvimentos podem ser entendidos em torno de quatro dimensões de significados distintos, embora complementares: 1) como demandas relacionadas às condições de sobrevivência; 2) como interesse em ampliação e aprofundamento de vivências esportivas; 3) como formas de manterem-se vinculados a grupos de amizades; 4) como investimento em aquisições para o futuro. Por fim, destaca-se que, embora o número de crianças e adolescentes atingidos por estes projetos seja reduzido, comparado ao total de crianças do bairro, foi possível identificar uma repercussão simbólica das programações no contexto da vila, que extrapola o universo daqueles sujeitos que delas participam. Neste sentido, chama-se atenção para um tipo de “participação itinerante” das crianças e adolescentes nas programações esportivas, na medida em que ocorre um freqüente revezamento na oferta das atividades e também de seus participantes. Por sua vez, esta forma de participação social está diretamente vinculada ao que foi denominado de uma experiência particular de infância. Uma experiência social onde as crianças da vila pesquisada experimentam uma visibilidade pública específica, na qual são tomadas como público-alvo prioritário de projetos sociais, acompanhada de uma invisibilidade das condições sociais desiguais que produzem a pobreza. O estudo aponta ainda que os sentidos atribuídos pelas crianças e seus familiares às ações sociais, impõem 7 circunstâncias e desafios concretos tanto para as políticas públicas de esporte e como as de proteção à infância. / In the urban context in which this study took place, the city of Porto Alegre (Brazil), the everyday of children and teenagers that live in the lower class districts is marked by the offer of sportive cultural and educational programs by social institutions. These actions aim to provide spaces of “social protection” and “socializing experience” that are alternative and complementary to regular school activities. On the one hand, this mobilization of actors around sportive, cultural and educational social projects reveals limitations to the schooling model destined to lower class children. On the other hand, this scenery reflects the dominant logic in the so-called social politics, in which three aspects are combined: the civil institutions are involved in the execution of politics, the focus of the actions in determined social groups and the salvationist view of some cultural practices, such as sports, music and arts. In addition to these issues, there is a strongly moralizing public approach on the lives of poor children and their families. Academically, there is a lot being produced about this reality. In this research, however, we take this picture as the conjuncture in which children and teenagers have a significant participation in social life. Through a two-year ethnographic work, performed with children and teenagers in school age of a lower class district in Porto Alegre, we sought to know the meaning that children and teenagers give to the programs that they take part of, and from that we discuss which place – symbolic and practical – this link occupies in their everyday. For such, the ethnographic work sought for data in the children's families, their relations in the neighborhood and their experiences in the programs. Analytically, we sought for support in ethnographic works with lower class groups and studies with children produced in the social sciences field. We sought to have a relational and interpretative approach of the proposed object. Thus, the experiences of children in social projects are presented as forms of active participation in social relations. The meanings of their involvement can be understood in four dimensions of distinct, although complementary, meanings: 1) as demands related to the conditions of surviving; 2) as interest to extend and deepen sportive experiences; 3) as ways of being linked to friendship groups; 4) as investment for acquisitions for the future. Finally, we can highlight that, although the number of children and teenagers affected by this projects is low, compared to the total of children in the district, it was possible to identify a symbolic repercussion of the programming in the context of the neighborhood, which extrapolates the universe of the subjects that take part on it. In this sense, we call the attention to a kind of “itinerant participation” of children and teenagers in the sportive programs, as there is a frequent alternation on the offer of activities and also their participants. On its turn, this form of social participation is directly linked to what was called particular childhood experience. A social experience in which the children of the researched neighborhood experience a specific public visibility, being taken main target public for social projects, accompanied by an invisibility of the unequal social conditions that produce poverty. The study also points out that the meanings attributed by the children and their families to the social actions impose concrete circumstances and challenges not only for the sportive public policies but also for childhood protection policies.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume56.ufrgs.br:10183/168844
Date January 2010
CreatorsThomassim, Luís Eduardo Cunha
ContributorsStigger, Marco Paulo
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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