Return to search

Os fantasmas do rio : um estudo sobre a memoria das monções do Vale do Medio Tiete

Orientador: Edgar Salvadori De Decca / Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas / Made available in DSpace on 2018-08-04T00:50:57Z (GMT). No. of bitstreams: 1
Silva_ValderezAntonioda_M.pdf: 467269 bytes, checksum: 7c7842f581aa2e97c4342208539981e6 (MD5)
Previous issue date: 2004 / Resumo: As monções foram expedições fluviais próprias do século XVIII, partindo do porto paulista de Araritaguaba, atual Porto Feliz, no Vale do Médio Tietê, e demandando as
minas de ouro de Cuiabá, no Mato Grosso. Percorriam cerca de 3.500 quilômetros por diversos rios, superando obstáculos inúmeros, entre corredeiras, saltos, pestilências, ataques
indígenas, para o fornecimento de víveres, manufaturados, transporte de homens e de ouro. Pelo conjunto de peculiaridades, técnicas específicas de marinharia e fabricação de canoas, bem como pela coleção de ocorrências trágicas, as monções se revestiram, ao longo dos tempos, de uma aura de empreitada grandiosa, quase absurda, semi-lendária.
Seu desaparecimento deveu-se à abertura de caminhos terrestres por Goiás e ao advento das tropas de mulas. As últimas expedições comerciais de que se têm notícia
partiram de Porto Feliz na década de 1.830. A partir daí o fenômeno e as técnicas, práticas e histórias que lhe são pertinentes parecem ter rapidamente adentrado um processo de
esquecimento. Novo capítulo se acrescentou a partir do início do século XX, com a monumentalização das monções, graças à iniciativa do governo paulista e de historiadores,
dentre os quais se destaca Afonso de Taunay. São dessa época o monumento às monções e a escadaria monumental erigidos à beira do Tietê, em Porto Feliz. Já nas décadas de 1940 e 1950, também com a participação de outro historiador, Sérgio Buarque de Holanda, as monções propiciariam a criação de uma festa anual, ainda existente, na qual moradores de Porto Feliz procuraram ¿reviver¿ a seu modo aquelas expedições, com trajes e adereços inspirados no século XVIII, desfiles e outras celebrações. O exame de documentos cartoriais do início do século XIX, no qual a tripulação das últimas monções aparece como depoentes em autos de devassa, dá conta de sua condição social, confirmando os vários depoimentos de autoridades coloniais e viajantes. Uma listagem e exame dos cerca de meia centena de homens encontrados na pesquisa comprova seu baixo extrato social, negros e mestiços em grande parte. Esse perfil é cruzado com algumas ocorrências criminais naquele meio, bem como com o levantamento dos valores que se pagava habitualmente por seus serviços, como remadores ou pilotos de canoas. As queixas de comerciantes e outros viajantes quanto à instabilidade ou inconstância de tal maruja também é trazida para buscar uma visão do grau de apreço de que o ofício de monçoeiro gozava. Era ofício desprestigiado, relegado às camadas mais pobres da população e cercado pelo estigma da pouca confiabilidade de seus membros. Por outro lado, o arrolamento de depoimentos de viajantes e antigos cronistas mostra que a idéia de bandeirante, de paulista, de bandeira ou monção, desde muito cedo esteve cercada pela aura de heroísmo e de façanha notável. Mostra-se que o conceito de um ¿paulista heróico¿ não foi construção acadêmica do início do século XX, como pensam alguns, mas apreciação bem mais antiga. Assim, bipartiram-se as imagens que se teve, nos séculos XVIII, XIX e mesmo no XX, acerca do fenômeno das monções. Elas foram percebidas como feitos grandiosos pelos viajantes, pelas autoridades em trânsito, pelos estrangeiros. Mas essa grandeza não foi efetivamente comunicada à marinharia rude que a serviu, tida sempre como gente de pouco valor e pouca confiabilidade. Confirma-se a impressão de Sérgio Buarque de Holanda, de que os ofícios do rio não foram realmente absorvidos pela ¿gente rude¿ de São Paulo. Assim que a necessidade de navegar se esvaiu, aquele ofício foi rapidamente esquecido, sem ter gerado costumes, tradições ou festejos significativos e duradouros. Há uma memória oficial e monumentalizada, das monções, mas não há uma memória dos monçoeiros, cuja realidade grosseira e desprestigiada, de certa forma, perdeu-se rapidamente da lembrança nacional e mesmo da regional / Abstract: This dissertation studies the phenomenon of the monções, the fluvial expeditions in hinterland of Brazil in the course of XVII th century, from the port of Araritaguaba, in
the province of São Paulo, to the gold mines of Cuiabá. The specific focus is on the memories of those trips, its characteristics, technical knowlege and legends, that disappeared on the early XIXth century. The study examines the probable reasons and processes for the privation or transformation of that memory in the region covered by the monções / Mestrado / Historia Cultural / Mestre em História

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.unicamp.br:REPOSIP/279442
Date14 December 2004
CreatorsSilva, Valderez Antonio da
ContributorsUNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, De Decca, Edgar Salvadori, 1946-2016, Decca, Edgar Salvadori De, Bresciani, Maria Stella Martins, Rodrigues, Marly
Publisher[s.n.], Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Format121 p., application/pdf
Sourcereponame:Repositório Institucional da Unicamp, instname:Universidade Estadual de Campinas, instacron:UNICAMP
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

Page generated in 0.0085 seconds