[pt] A presente tese propõe uma reflexão acerca do habitar. Tal como Heidegger, também ousamos refletir sobre o modo como o homem contemporâneo habita e as consequências que a contemporaneidade gera ao pensar filosófico. Nesse sentido, a perspectiva heideggeriana e suas nuances fundamentam essa pesquisa, sem limitar a compreensão do habitar. As expressões artísticas com as quais Heidegger dialoga em sua obra ampliam e aprofundam a questão. Desde Ser e tempo a reflexão a respeito do habitar é permeada pelo familiar e pela estranheza. Surpreendentemente a estranheza parece tomar muitas formas na vasta obra do filósofo. A estranheza por vezes surge no sentido grego de espanto, também de mistério e de sagrado. Aparece, em outros momentos, como o estrangeiro ou na sensação de exilio. Nem sempre surge como uma oposição ao familiar, mas também há uma possibilidade de confrontação originária com o familiar. Mesmo com a rapidez, o imediatismo e a necessidade de superar distâncias que o mundo contemporâneo exige a cada vez, ainda há um resguardo na arte, que torna possível a reflexão filosófica e a busca pela verdade do Ser. Trata-se de uma época, conforme ilustra Heidegger, a qual oferece um perigo ao pensar que, por sua vez, precisa de demora e de aprofundamento. A poesia, em seu poder nominativo, sempre permite à palavra manter seu caráter desocultante através de um mergulho em seus múltiplos sentidos, o que afasta qualquer possibilidade de controle da linguagem. A impactante afirmação a linguagem fala retira do homem o domínio das palavras e o devolve à poesia, à arte e à linguagem mesma. Já os corpos das esculturas não são da ordem da phisys e nem do produzir humano, mas da techné, o que confere a possibilidade do pôr-se em obra da verdade. A techné aparece, desde os gregos, como um conhecimento, sendo assim, na perspectiva da verdade grega propõe o movimento de aparecer e retrair (velar e desvelar). Mergulhados no habitual, sem esse conhecimento, inerente à reflexão através da arte e ao pensar filosófico, na ausência da estranheza da verdade e de seu movimento (ou acontecimento apropriativo), os homens se perdem de seu habitar poético. Essa possibilidade só é possível porque o habitar poético é uma condição necessária do habitar, doando a medida do homem, sua dimensão entre terra e céu. Ainda que cheio de méritos, o lugar do homem sempre foi e sempre será sobre esta terra e sob este céu, não há outra possibilidade, não há outro modo de habitar. / [en] The present thesis proposes a reflection about dwelling. Like Heidegger, we also try to reflect on the way contemporary man dwells and the consequences that contemporaneity generates in philosophical thinking. In this sense, Heidegger s perspective and its nuances substantiate this research, without limiting the way we understand dwelling. The artistic expressions with which Heidegger dialogue in his work broaden and foster this question. In Being and Time the reflection on dwelling is permeated by the familiar and by uncanniness, which, surprisingly, seems to take many forms in the work of the philosopher. The uncanniness arises in the Greek sense of astonishment, but it is also related to mystery and sacredness as well as the alien and the exile. It does not always happens in opposition to the familiar, but there is also the possibility of original confrontation with the familiar. Even with the speed, the immediacy and the need to overcome distances that the contemporary world requires each time, it seems that art still preserves the possibility of philosophical reflection and the search for the truth of Being. It is a time, as Heidegger says, that threatens thinking that, by its turn, needs time and deepening. The poetry, in its nominative power, always allows the word to keep its unveiling character, due to its multiple senses, removing all possibilities of controlling the language. The statement the language talks withdraws from man the command of the words and restores poetry, art, and language. Sculptural bodies do not belong to the order of phisys nor to human productivity, but to that of techné, which confers the possibility of setting-itself-into-the-work of the truth. Techné has appeared, since the time of the Greeks, as a knowledge, and thus the Greek perspective of truth proposes the movement of appearing and retracting (veiling and unveiling). Immersed in the familiar, without the knowledge inherent to the reflection through art and philosophical thought, in the absence of the uncanniness and of its movement (or appropriative event), men lose their poetic dwelling. This possibility is related to the poetic dwelling as a necessary condition for man s measurement, his dimension between earth and sky. Although full of merits, man s place has always been and always will be on this earth and under this sky. There is no other possibility; there is no other way of dwelling.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:28209 |
Date | 29 November 2016 |
Creators | LIS HELENA ASCHERMANN KEUCHEGERIAN |
Contributors | LUIZ CAMILLO DOLABELLA PORTELLA OSORIO DE ALMEIDA, LUIZ CAMILLO DOLABELLA PORTELLA OSORIO DE ALMEIDA |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
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