Essa tese analisa a obra literária dos escritores Sherwood Anderson (1876-1941) e Jack London (1876-1916) produzida nos anos 1900-1910, procurando compreender a maneira como se deu o diálogo entre a ficção e a realidade histórica, como aquela produziu uma leitura e uma interpretação desta, sobretudo no que tange às mudanças no sentido histórico do trabalho. Dado o fato de que ambos os escritores em questão viveram num momento decisivo de transformação histórica nos Estados Unidos, quando na transição entre o século XIX e XX se estabeleceram novas dinâmicas sociais e econômicas, articuladas estas com a consolidação do capitalismo de regime monopolista, essas literaturas trazem em seu corpo as cicatrizes históricas dos esforços de adaptação e compreensão desse processo. Atrelada a essa momentosa transição em curso, havia o fato de que ambos os escritores eram trabalhadores, e num momento crucial da formação da classe trabalhadora estadunidense, quando as transformações materiais impunham severas readequações na divisão do trabalho, na organização produtiva estrutural, na estratificação social dele oriunda, nas respostas políticas de resistência deles, e também nos sentidos subjetivos que o trabalho e o trabalhar poderiam possuir. Por conta de tudo isto, a literatura de Sherwood Anderson e Jack London produz uma interpretação ficcional dessa experiência histórica, permitindo com que se rastreie e compreenda como as velhas tradições do \"Evangelho do trabalho\" dos Oitocentos foram sendo brutalmente modificadas pela dinâmica produtiva de ordem fabril, pelo controle financeiro, pela concentração econômica e pela acentuação da exploração capitalista pelo regime monopólico. Essa situação, dadas as particularidades biográficas e os históricos de formação das regiões onde viveram os dois escritores (um do Meio-Oeste, outro do Extremo Oeste dos Estados Unidos), foi traduzida ora como crise de consciência íntima, ora como uma grande crise civilizacional que a punha em pé de igualdade com a selvageria da natureza. Ambas, pois, fornecem ao historiador chaves analíticas com as quais pensar a mudança do lugar e do sentido histórico do trabalho naquele processo, e como essa mudança participava da formação da classe trabalhadora, tanto em sentidos estruturais quanto subjetivos, tanto progressistas como conservadores. / This thesis analyzes the literary work of writers Sherwood Anderson (1876-1941) and Jack London (1876-1916) produced in the years 1900-1910, aiming at understanding the way how the dialogue between fiction and historical reality happened, how the former produced a reading and interpretation of the latter, especially regarding to shifts in the historical meaning of labor. Given the fact that both writers concerned lived in a decisive moment of historical transformation in the United States, when in the transition between the 19th and the 20th century new social and economical dynamics were established, articulated with the consolidation of the capitalism of monopolist regime, these writings bring in their body the historical scars of the efforts of adaptation and comprehension of this process. Attached to this momentous ongoing transition, there was the fact that both writers were workers, and during a crucial moment of the formation of the US working class, when the material transformations imposed severe readjustments in the division of labor, in the structural productive organization, in the social stratification originated from it, in the political answers of resistance from them, and also in the subjective senses that labor and work could have. Due to all that, the literature of Sherwood Anderson and Jack London produces a fictional interpretation of this historical experience, allowing to track and understand how the old traditions of the Gospel of work of the Eighteen hundreds were being brutally modified by the productive dynamics of the manufacturing industry, by the financial control, by the economic concentration and by the intensification of the capitalist exploration by the monopolistic regime. This situation, given the biographic particularities and the historical formation of the regions where the two writers lived (one from the Midwest, the other from the Far West of the United States), has been translated sometimes as a crisis of intimate consciousness, sometimes as a big civilizational crisis that put it on an equal footing with the wildness of nature. Both, therefore, provide the historian with analytical keys with which to think the shift of place and historical sense of labor in that process, and how this shift participated in the formation of the working class, both in structural and subjective senses, both progressives and conservatives.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-24052019-115303 |
Date | 07 February 2019 |
Creators | Kölln, Lucas André Berno |
Contributors | Coggiola, Osvaldo Luis Angel |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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