Return to search

[pt] PAISAGENS SEMIÓTICAS DA INFÂNCIA EM DESLOCAMENTO: UMA ANÁLISE DE NARRATIVAS MULTIMODAIS EM CAMPANHAS HUMANITÁRIAS / [en] SEMIOTIC LANDSCAPES OF CHILDHOOD IN DISPLACEMENT: AN ANALYSIS OF MULTIMODAL NARRATIVES IN HUMANITARIAN CAMPAIGNS

[pt] Segundo a ONU, presenciamos a pior crise humanitária do século. Esse quadro
torna-se ainda mais grave quando envolve o deslocamento de crianças. O Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF) afirma que conflitos, violência e outras crises
deixaram um recorde de 36,5 milhões de crianças deslocadas no final do ano de 2021, o
número mais alto já registrado desde a Segunda Guerra Mundial. Desse total ainda se
encontram excluídas as deslocadas por desastres naturais ou mudança climática, assim
como as recém deslocadas em 2022 pela invasão russa na Ucrânia. Diante da desordem
do quadro internacional, organizações multilaterais, responsáveis pela gestão das vidas
precárias (Butler, 2018), mais do que nunca precisam arrecadar fundos para a
implementação de projetos e programas de assistência a essa população através da
sensibilização pública. Este presente estudo elegeu como objeto analítico campanhas de
organizações multilaterais – Fundo das Nações para a Infância (UNICEF), Organização
Internacional para as Migrações (OIM) e Alto Comissariado das Nações Unidas para
Refugiados (ACNUR) – veiculadas pela plataforma YouTube, cuja temática centra-se na
infância em deslocamento forçado. A partir da análise de quatro produções fílmicas
selecionadas, procuramos investigar como a criança/infância, em contexto de refúgio, é
representada em interface com a grande narrativa (Lyotard, 2009; Shoshana, 2013)
hegemônica que, ao essencializá-la e normatizá-la, produz dicotomias que separam o que
está dentro ou fora de lugar, trazendo consequências importantes para a imaginação e
gestão da infância em tal contexto. Tratando-se de produções fílmicas, palavra e imagem
articulam-se na construção de significados tanto sobre a infância como sobre o próprio
processo migratório, geralmente apagando os aspectos macrossociais, sob a égide da
linguagem humanitária. A fim de iluminar tais questões, lançamos mão de categorias
analíticas da Análise de Narrativas (Labov e Waletsky, 1969 e Labov, 1972; Bamberg e
Georgakopoulou, 2008; Bastos e Biar, 2015; Bucholtz e Hall, 2005) transpostas ao
contexto multimodal (Kress e Van Leeuwen, 2006). A análise, além de problematizar
certas representações que reforçam estereótipos (Bhabha, 2006, 2009; Chouliaraki, 2006,
2010; Tabak e Carvalho, 2018, entre outros), procurou identificar os processos que
produzem diferentes afetos entre espectadores e representados. A ambivalência da vítima
essencializada, que gera piedade e/ou medo, solidariedade e/ou repressão está no cerne
da questão da representação dos refugiados (Chouliaraki, 2006, 2010), e a imagem da
criança, além de intensamente explorada, é hoje, cada vez mais, disputada no mercado de
doações transnacional. Simultaneamente, no entrelace com teorias da visualidade
(Sontag, 2003; Chouliaraki, 2006, 2010; Rancière, 2014; Lenette, 2017; Butler, 2018),
buscou-se refletir, a partir dos dados, sobre as limitações, os desafios e tensionamentos
inerentes à representação daqueles que sofrem, sem deixar de lançar luz sobre o
protagonismo e a resistência que ecoaram na voz e na imagem das crianças no espaço
micro da representação. / [en] According to the UN, we are witnessing the worst humanitarian crisis of the
century. This situation becomes even more serious when it involves the displacement of
children. The United Nations Children s Fund (UNICEF) states that conflict, violence
and other crises have left a record 36.5 million children displaced by the end of 2021, the
highest number ever recorded since the Second World War. This total does not include
those displaced by natural disasters or climate change, as well as those newly displaced
in 2022 by the Russian invasion of Ukraine. Faced with the disorder in the international
situation, multilateral organizations, responsible for managing precarious lives (Butler,
2018), more than ever need to raise funds to implement assistance projects and programs
for this population through public awareness. This study chose as its analytical object
campaigns by multilateral organizations – the United Nations Children s Fund (UNICEF),
the International Organization for Migration (IOM) and the United Nations High
Commissioner for Refugees (UNHCR) – broadcast on the YouTube platform, whose
theme focuses on children in forced displacement. Based on the analysis of four selected
film productions, we sought to investigate how the child/childhood, in the context of
refuge, is represented in interface with the hegemonic grand narrative (Lyotard, 2009;
Shoshana, 2013) which, by essentializing and normalizing it, produces dichotomies that
separate what is in or out of place, bringing important consequences for the imagination
and management of childhood in such a context. In the case of film productions, word
and image come together in the construction of meanings about both childhood and the
migratory process itself, generally erasing macrosocial aspects, under the aegis of
humanitarian language. In order to shed light on such questions, we make use of analytical
categories from Narrative Analysis (Labov and Waletsky, 1969 and Labov, 1972;
Bamberg and Georgakopoulou, 2008; Bastos and Biar, 2015; Bucholtz and Hall, 2005)
transposed to the multimodal context (Kress and Van Leeuwen, 2006). In addition to
problematizing certain representations that reinforce stereotypes (Bhabha, 2006, 2009;
Chouliaraki, 2006, 2010; Tabak e Carvalho, 2018, among others), the analysis sought to
identify the processes that produce different affects between spectators and those
represented. The ambivalence of the essentialized victim, which generates pity and/or
fear, solidarity and/or repression, is at the heart of the issue of refugee representation
(Chouliaraki, 2006, 2010), and the image of the child, in addition to being intensely
exploited, is now increasingly disputed in the transnational donation market. At the same
time, in the interweaving of theories of visuality (Sontag, 2003; Chouliaraki, 2008, 2010;
Rancière, 2014; Lenette, 2017; Butler, 2018), we sought to reflect, based on the data, on
the limitations, challenges and tensions inherent to the representation of those who suffer,
while shedding light on the protagonism and resistance that echoed in the voice and image
of children in the micro space of representation.

Identiferoai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:68177
Date24 September 2024
CreatorsJACQUELINE TEIXEIRA
ContributorsLIANA DE ANDRADE BIAR, LIANA DE ANDRADE BIAR, LIANA DE ANDRADE BIAR
PublisherMAXWELL
Source SetsPUC Rio
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
TypeTEXTO

Page generated in 0.0038 seconds