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Sobre teorias de percepção da fala

Resumo: O objetivo geral deste trabalho e refletir sobre tres diferentes maneiras de se conceber os primitivos adotados pelas teorias de perceptuais da fala. No capitulo 1 nos deteremos a apresentar que a percepcao da fala pode ser considerada como sendo de base auditiva ou de base articulatoria. Na primeira, argumenta-se a favor da existencia de invariantes acusticos que promoveriam a categorizacao de unidades fonicas distintivas no sinal da fala. Na segunda, apresenta-se o gesto como primitivo perceptual, podendo ser abstrato (tal como sugere a Teoria Motora da Percepcao da Fala - Liberman & Mattingly, 1985) ou real (Fowler, 1986 e seguintes). Como objetivo especifico, tracamos (no Capitulo 2) um breve percurso da constituicao das teorias de percepcao da fala. Nesse percurso historico, vinculamos a proposicao de primitivos perceptuais (tanto de base acustica quanto articulatoria) com o advento de teorias fonologicas que adotavam novos primitivos de analise. Isto e, trata-se de verificar que a adocao de novos primitivos perceptuais esta vinculada aos cortes epistemologicos sugeridos pelas teorias fonologicas. Para exemplificar a nossa proposta, discutiremos (no Capitulo 3) o "debate" publicado em 1996 entre Carol Fowler e John Ohala sobre a natureza ou acustica ou articulatoria da percepcao da fala. O interesse sobre esse debate e que ele nao se desenvolve, pois ha apenas um texto de cada um dos participantes. Argumentamos que a "morte" da discussao indica que as teorias de percepcao se assentam sobre terrenos epistemologicos distintos que impossibilitam o fechamento do debate. Interessar-se pela natureza dos primitivos da percepcao da fala (debatido por Fowler e Ohala) e importante porque ate o Estruturalismo nao se questionava qual era a sua natureza. Para os estruturalistas, a percepcao era reduzida a audicao, i.e., considerava apenas os dados que se ouvia como distintivo em um corpus. Ao que parece, o problema surge por acaso quando Liberman e colegas (cf. Liberman, 1957) tentavam encontrar o que havia de distintivo entre as categorias fonemicas. Para isso, buscavam (com a ajuda do Pattern Playback: um aparelho que convertia espectrogramas desenhados a mao em som) quais eram as pistas acusticas que diferenciavam um [p] de um [d], por exemplo. No entanto, os resultados nao apresentavam uma relacao biunivoca entre o acustico e o articulatorio, sugerindo que a articulacao guiava a percepcao; pois o que haveria de invariante na fala era a articulacao, uma vez que o sinal acustico apresentava diferencas dentro de uma mesma categoria devido a influencia das vogais. Nossa pesquisa mostrou que os primitivos perceptuais seguem as propostas de primitivos de analise das teorias fonologicas, a saber: no Estruturalismo, nao havia uma teoria de percepcao. No entanto, as pesquisas iniciais tentavam buscar os invariantes perceptuais acusticos influenciadas pela Fonologia Estruturalista de Jakobson, Fant & Halle (1952); no periodo gerativista, a Teoria Motora da Percepcao da Fala (Liberman & Mattingly, 1985) propoe primitivos de base articulatoria abstratos. Esse modelo ganha a sua versao revisada (e mais robusta) a partir da proposta de Chomsky & Halle (1968), dos achados referentes ao Efeito McGurk (McDonald & McGurk, 1976) e da teoria modular da mente de Fodor (1983); por fim, ha a proposicao da Teoria do Realismo Direto da Percepcao da Fala (Fowler, 1986, e seguintes) influenciada pela teoria de percepcao de Gibson (1966). Essa abordagem converge para as teorias de fonologia de base dinamica que tomam o gesto articulatorio como primitivo de analise tanto de producao como de percepcao (Goldstein & Fowler, 2003). O debate entre Ohala e Fowler ilustra que nao ha consenso entre os pesquisadores sobre a natureza da percepcao da fala. A nossa proposta e a de que esse fato existe porque cada um dos debatedores se situa em um terreno epistemologico que, por sua vez, considera fenomenos distintos como relevantes para sustentar cada uma de suas propostas teoricas, a saber: enquanto Ohala sustenta seus argumentos com base em evidencias fonologicas de natureza acustica, Fowler salienta os aspectos articulatorios presentes na percepcao e producao da fala.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:dspace.c3sl.ufpr.br:1884/29585
Date04 March 2013
CreatorsNishida, Gustavo
ContributorsSilva, Adelaide Hercilia Pescatori, Universidade Federal do Paraná. Setor de Ciencias Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduaçao em Letras
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Repositório Institucional da UFPR, instname:Universidade Federal do Paraná, instacron:UFPR
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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